Peter Stilwell: "A Santa Sé não está na China para guerras"

Reitor da Universidade de São José, em Macau - a única universidade católica na China continental - e ex-vice reitor da Universidade Católica, o padre Peter Stilwell compreende o pragmatismo da Santa Sé e vê com bons olhos um acordo com o governo chinês.
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O subsecretário das Relações da Santa Sé com os Estados, Antoine Camilleri, e o vice-ministro das Relações Exteriores da República Popular da China assinaram um acordo provisório sobre a nomeação de bispos. Segundo o documento, o Vaticano reconhece poderes de nomeação dos bispos à Associação Patriótica Católica Chinesa, dirigida pelo Estado chinês. A nomeação é posteriormente ratificada pelo Papa.

É um acordo histórico na medida em que as relações entre os dois Estados foram rompidas em 1949 com a ascensão do regime comunista liderado por Mao Tsé-Tung.

Peter Stilwell é desde 2012 reitor da Universidade de São José, em Macau - a única universidade católica na China continental.

Que comentário lhe suscita o acordo entre a Santa Sé e Pequim?

Este acordo está em discussão há bastante tempo. É um grande desafio, como foi sublinhado pelo bispo de Hong Kong, que é o de criar condições para as duas comunidades, a comunidade clandestina e da Igreja patriótica, como é chamada, viverem e trabalharem juntas. Têm sido anos de separação e não será fácil a relação entre as duas partes. É um desafio interno à Igreja que terá de ser levado por diante.

O cardeal Zen, bispo emérito de Hong Kong, afirmou que um acordo seria uma traição.

O cardeal Zen tem uma posição radical que tem publicitado frequentemente. Não é claramente a posição da Santa Sé, que tem uma posição pragmática, de quem não está aqui para guerras, está aqui para trabalhar para as pessoas. E as pessoas em causa querem batismo, a catequese, os casamentos, querem organizar a sua vida comunitária e viver a sua fé. Portanto, posições superestruturais, como se fosse uma guerra entre instituições, têm os seus adeptos mas não são práticas, não têm a ver com as pessoas no terreno. Há que abrir espaço para que as duas comunidades se possam encontrar. É um trabalho de longo prazo, que se vai fazendo. Será positivo para a Igreja na China se, decorrente do acordo, for possível que os bispos se possam deslocar para os encontros internacionais, em que bispos de todo o mundo se encontram e trocam impressões. E será positivo até mesmo para a China em geral.

Que consequências podem trazer este acordo para a universidade?

Também temos interesse em que haja um bom entendimento entre a Santa Sé e Pequim porque temos uma situação que se arrasta há algum tempo. Somos a única universidade em Macau que não pode recrutar alunos da China continental. Vamos ver até que ponto este entendimento não redunda numa possibilidade de recrutar alunos.

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