Perguntas e Respostas sobre Jerusalém
Que reação suscitou o anúncio de Trump?
Em Israel o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu falou num marco histórico. O líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, alertou para consequências perigosas. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, avisou que Jerusalém é a linha vermelha para os muçulmanos. No mesmo sentido falou o líder do grupo radical palestiniano Hamas Ismael Haniya. Entre os países árabes, a Arábia Saudita, aliado tradicional dos Estados Unidos, considerou a nova política de Donald Trump como uma provocação flagrante aos muçulmanos. O rei Abdullah da Jordânia disse que a decisão vai minar os esforços de recomeçar o processo de paz e o presidente do Egito, Abdul Fatah al-Sisi, pediu ao líder dos EUA que não complique a situação na região. O Papa Francisco, por seu lado, pediu que se respeita o atual statu quo da cidade. O secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que não existe Plano B e que o único plano é uma solução de dois Estados.
Porque é que a decisão é tão polémica?
O estatuto final de Jerusalém sempre foi a questão espinhosa nas negociações israelo-palestinianas. O plano da ONU, de 1947, estabelecia Jerusalém como uma cidade internacional à parte. A cidade acolhe lugares sagrados para o judaísmo, o islão, o cristianismo, especialmente a parte Oriental. Com a independência de Israel, após o final da guerra com os árabes, em 1949, Jerusalém foi dividida pela chamada linha verde. A parte Ocidental ficou no domínio israelita, a Oriental no jordano. Em 1967, Israel ocupou a parte Oriental, tendo prosseguido, desde então, uma política de colonatos judaicos. Os palestinianos protestam, pois querem que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro Estado palestiniano independente. Atualmente, vivem em Jerusalém 850 mil pessoas, de acordo com o think tank Jerusalem Institute. 37% da população é árabe (desses 96% são muçulmanos e 4% são cristãos) e 61% judia (200 mil judeus são ultraortodoxos).
Há outros países que têm embaixadas em Jerusalém?
Antes de 1980 vários tinham, incluindo a Holanda e a Costa Rica. Mas quando Israel decidiu estabelecer a cidade como sua capital unificada, a ONU declarou a anexação de Jerusalém Oriental como uma violação do direito internacional. Então os países mudaram as suas embaixadas. Costa Rica e El Salvador foram os únicos a sair. Em 2006. Neste momento estão todas as embaixadas em Telavive. Apesar de tudo, alguns países têm consulados em Jerusalém.
Como será feita a mudança americana?
A mudança é simples, pelo menos a nível logístico. O mesmo não se poderá dizer a nível político, pois há o risco de a decisão de Donald Trump incendiar (ainda mais) a região do Médio Oriente. Apesar de acabar com 70 anos de consenso internacional, o líder americano diz que se mantém comprometido com a solução de dois Estados vivendo lado a lado e em paz. Os EUA podem simplesmente passar a embaixada para o consulado que já têm em Jerusalém, mudando-lhe o nome apenas. Há, porém, um dado curioso: em 1989, Israel começou a alugar, por um dólar ao ano, durante 99 anos, um pedaço de terra aos EUA em Jerusalém, para que os americanos aí fizessem a sua embaixada. Tal nunca aconteceu, apesar de, em 1995, o Congresso dos EUA ter decidido que se devia avançar com a transferência da embaixada de Telavive para Jerusalém. Mas a verdade é que, até agora, invocando motivos de segurança nacional, nenhum presidente dos EUA, Bill Clinton, George W. Bush ou Barack Obama, quis avançar. Até agora.