Percorrer As Cidades Invisíveis com três maçãs e um ukulele

A partir do livro de Calvino, esta é uma viagem guiada por Marco Polo por 55 cidades imaginárias
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Três maçãs, cinco clementinas, um mapa da Europa, três animais de brinquedo, uma manta aos quadrados (da avó), 11 livros, um telemóvel, um candeeiro - em quantos objetos vamos? -, dois copos, uma couve-coração, um tapete, umas luzinhas de natal (do chinês), um ukulele, dois bancos, uma cadeira, uma mesa, três pessoas. E mais uns quantos. São 55 objetos em cena. Os necessários para falar das 55 cidades descritas por Ítalo Calvino no livro As Cidades Invisíveis.

É com estes 55 objetos e muita imaginação que se faz este espetáculo, uma produção do Teatro Maria Matos, em Lisboa, que desafiou o encenador brasileiro Alex Cassal a pegar no livro de Calvino. Publicado em 1972, em As Cidades Invisíveis, o escritor pega em personagens reais e cria um diálogo fantástico entre o imperador dos tártaros (Kublai Khan) e Marco Polo, um dos maiores viajantes de todos os tempos. Khan, ao perceber a impossibilidade de conhecer seus domínios por inteiro, utiliza os olhos de Marco Polo para "ver" as suas terras.

Desta forma, Marco Polo inicia uma descrição detalhada das 55 cidades pelas quais teria passado. Essas terras são apresentadas divididas em 11 temas: a memória, o desejo, os sinais, "as cidades subtis", as trocas, "as cidades e os olhos", "as cidades e o nome", os mortos, o céu, "as cidades contínuas", "as cidades ocultas".

As nossas cidades

Ator, dramaturgo, encenador, Alex Cassal nasceu há 49 anos em Porto Alegre. Na adolescência mudou-se para o Rio de Janeiro. "Foi nessa altura que eu comecei a pensar nisso das cidades serem tão diferentes, e de quando as cidades nos transformam e o quanto eu interfiro na cidade", conta.

Cassal já conhecia Lisboa, de viagens em férias, mas desde 2009 tem vindo mais frequentemente, sozinho ou com o seu grupo, Foguetes Maravilha, para trabalhar com atores e teatros portugueses. "Lisboa também já é a minha cidade. Já conheço os restaurantes, os mercados. Fiquei triste por o cinema Londres ter fechado." As relações que criamos com as cidades são parecidas com as relações que temos com as pessoas?

Neste espetáculo trabalha com três atores: Alfredo Martins é de Viana do Castelo, Paula Diogo nasceu em Lisboa, Rafaela Jacinto vem do Bombarral. Somos diferentes por sermos de diferentes cidades?

Nos ensaios, tudo começou com o texto de Calvino. Mas logo cada um começou a trazer outras referências - músicas, filmes, objetos, histórias. A sala foi ficando cada vez mais povoada. Foi assim que surgiu a ideia de usar os objetos para criar as "cidades invisíveis". "Seria impossível ter um cenário diferente para cada cidade. As coisas vão aparecendo e desaparecendo e assim vamos criando os cenários."

As cidades imaginárias

A viagem leva-nos também a pensar não só nas cidades que conhecemos mas também nas cidades que gostaríamos de conhecer ou na cidade perfeita, aquela que ainda está por construir. "Também falamos muito dos refugiados, disso de não ter uma cidade, de andar à procura de um sítio para morar."

Na verdade, "o livro de Calvino é muito complexo porque por baixo dessa aparência simples, desses contos das cidades, ele vai falando de literatura, de história, de ciência... de tudo", explica Alex Cassal. Falar da cidade é falar dos homens e de como é que podemos viver juntos, de como nos organizamos.

E, ao mesmo tempo que lemos as histórias de cidades que se chamam Anastásia, Zenóia, Aclaura, Moriana (todas com nomes de mulheres) é impossível não imaginarmos qual a cidade verdadeira que será mais parecida: "Esta aqui é mais Las Vegas, esta é mais Veneza..." Qual das cidades será mais parecida com... Lisboa?

As Cidades invisíveis

Encenação de Alex Cassal

Para jovens a partir dos 12 anos

Teatro Maria Matos, Lisboa

Sexta-feira: 15.30, Fim de semana: 16.30

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