Pequim reconhece ter colocado armas nas ilhas Spratly
"As instalações militares são para efeitos de defesa e autoproteção. São instalações legítimas e legais", garantiu ontem o Ministério da Defesa da República Popular da China (RPC), num comunicado divulgado horas depois de ter sido revelada a existência de sistemas de armas em dois pontos do arquipélago Spratly, que Pequim considera território nacional sob a designação de ilhas Nansha.
A revelação daquelas instalações militares foi feita pela Iniciativa para a Transparência da Ásia Marítima (AMTI, na sigla em inglês), que divulgou imagens obtidas via satélite demonstrando as mudanças sucedidas nos últimos meses em quatro ilhas.
Segundo a AMTI, não há dúvida que se trata de construções para fins militares, onde se encontram instalados sistemas de defesa antimísseis de longo alcance, artilharia antiaérea e ainda uma estação de radar. Estas estruturas, ainda segundo a AMTI, são mais sofisticadas do que outras semelhantes existentes em três outras ilhas do arquipélago, que, além da RPC, é reivindicado por mais seis países da região. São estes o Brunei, as Filipinas, Indonésia, Malásia, Taiwan e Vietname.
As reivindicações de Pequim são as mais extensas e abrangem quase todo o Mar da China do Sul, ilhas e recifes, sendo que ampliou alguns destes com aterros e construções. Nalgumas das ilhas foram construídas pistas de aterragem e hangares.
A propósito das mais recentes construções, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, martelou que as Spratly "são território inerente da China. Os edifícios são instalações defensivas no seu próprio território e a sua edificação é absolutamente normal". Desde há muito que Pequim insiste no direito à construção nestas ilhas, tendo o mesmo porta-voz expressado "surpresa" pelo modo como foi comentada a presença daqueles equipamentos pela AMTI.
Em contrapartida, o diretor da AMTI, Greg Poling, declarou à Reuters estar convicto, após meses de análise, que são "sistemas antiaéreos e mísseis". Para o responsável da AMTI, são "sistemas dos mais avançados" na posse da RPC e é uma "novidade" terem sido colocados nestas ilhas. "Estamos perante a militarização [das Spratly] e podem argumentar que é apenas para propósitos defensivos, mas quando estamos a falar de artilharia antiaérea daquela natureza e sistemas de mísseis, estamos a falar de alguém que antecipa um conflito futuro".
Nos últimos meses, os Estados Unidos, e vários países na região, têm insistido numa indispensável liberdade de navegação naquela que é uma das mais importantes rotas do comércio internacional. Em paralelo, Washington realizou, nos últimos 12 meses, uma série de quatro missões navais e aéreas de patrulha no Mar da China do Sul. Também Taiwan, a 29 de novembro, conduziu exercícios de ajuda humanitária na ilha de Taiping, numa demonstração de soberania.
Num comentário às patrulhas das forças dos EUA, o comunicado do Ministério da Defesa, fazia ontem notar "se a construção de instalações defensivas nas suas próprias ilhas é considerado um ato de militarização, o que são então a presença de frotas de guerra no Mar da China do Sul?".
Durante uma visita aos EUA, em 2015, o presidente da RPC, Xi Jinping, insistiu na tecla da soberania chinesa sobre as Spratly, mas fez notar que Pequim não operaria a militarização das ilhas e recifes sob seu controlo.
Além dos países diretamente envolvidos nas reivindicações de soberania sobre as Spratly, a Austrália também evidenciou preocupações com a contínua "construção de ilhas artificiais e a militarização operada" que não deixarão de desembocar "numa atmosfera de tensão e desconfiança" em toda a região.
A RPC sofreu em julho um revés nas suas reivindicações quando o Tribunal Permanente de Arbitragem, em Haia, se pronunciou a favor das Filipinas numa questão que opõe Manila a Pequim sobre os direitos de pesca e delimitação de zonas de soberania dos dois países. Pequim recusou-se a acatar a decisão do tribunal.
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