Pentágono avisa que China está a reforçar o seu arsenal nuclear

"A aceleração da expansão nuclear da China poderá permitir que o país tenha 700 ogivas nucleares até 2027", revela o relatório anual do Departamento de Defesa dos EUA. Documento refere que o país asiático "provavelmente" já estabeleceu a capacidade de "lançar mísseis balísticos nucleares a partir de mar, terra e ar".
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O Pentágono disse esta quarta-feira acreditar que a China está a acelerar o desenvolvimento do seu arsenal nuclear, tendo já capacidade para lançar mísseis balísticos armados com ogivas nucleares a partir de terra, mar e ar.

"A aceleração da expansão nuclear da China poderá permitir que o país tenha 700 ogivas nucleares até 2027", revela o relatório anual do Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre as capacidades militares do país asiático.

"É provável que Pequim pretenda adquirir pelo menos 1.000 ogivas nucleares até 2030, o que é mais do que a taxa e o volume estimados em 2020", pode ler-se no relatório divulgado esta quarta-feira.

Na edição anterior deste relatório enviado anualmente ao Congresso -- e que foi publicado em 1 de setembro de 2020 - o Pentágono estimava que a China teria cerca de 200 ogivas nucleares, mas dizia já acreditar que esse número duplicaria nos 10 anos seguintes.

Com 700 ogivas nucleares em 2027 e 1.000 em 2030, as projeções das autoridades norte-americanas mostram uma forte aceleração das atividades nucleares de Pequim.

"A China provavelmente já estabeleceu uma 'tríade nuclear', ou seja, a capacidade de lançar mísseis balísticos nucleares a partir de mar, terra e ar", revela o documento esta quarta-feira divulgado pelo Departamento de Estado.

Para chegar a estes números, os autores do relatório basearam-se em declarações de autoridades chinesas nos 'media' oficiais e em imagens de satélite que mostram a construção de um número significativo de silos nucleares.

As projeções incluem mísseis balísticos submarinos e outros lançados por aviões bombardeiros, bem como a "força de mísseis móvel", que permite o lançamento de mísseis a partir de camiões.

O relatório não sugere a hipótese de um conflito aberto com a China, mas encaixa-se numa narrativa emergente nos EUA sobre o reforço do Exército de Libertação do Povo, como a China chama aos seus serviços militares, com a intenção de desafiar os Estados Unidos em todos os domínios da guerra - ar, terra, mar, espaço e ciberespaço.

O documento alerta para a ameaça crescente do poderio militar chinês, apoiando a tese de necessidade de uma maior presença norte-americana no Indo-Pacífico, em que se insere o plano de Defesa em articulação com o Reino Unido e a Austrália para essa região.

O relatório fala mesmo na existência de uma rede de bases chinesas fora de fronteiras, que "poderá interferir" nas operações militares norte-americanas e apoiar operações da China contra os Estados Unidos.

Recentemente, o Presidente chinês, Xi Jinping, declarou publicamente que a China planeia tornar-se uma potência militar global até 2049.

Entretanto, o chefe do Estado-Maior norte-americano, Mark Milley, defendeu que os EUA têm "absolutamente a capacidade" para defender Taiwan da China, se necessário.

Inquirido numa conferência do 'think tank' Aspen Security Forum sobre o risco a curto-prazo de um ataque da China a Taiwan, o oficial norte-americano mais graduado considerou que "não é provável" que tal aconteça nos próximos 24 meses.

"Dito isso, os chineses estão clara e inequivocamente em vias de obter capacidades necessárias para dar opções à liderança do país, se ela o desejar, no futuro", acrescentou.

Quando o questionaram sobre se os Estados Unidos seriam capazes de defender a ilha situada a menos de 200 quilómetros da costa chinesa, Milley garantiu: "Temos absolutamente a capacidade, não há qualquer dúvida".

Mas acrescentou que os Estados Unidos desejam, acima de tudo, "uma solução pacífica" para o diferendo entre Taiwan e China.

O chefe do Estado-Maior norte-americano teve o cuidado de não se pronunciar sobre a utilidade ou inutilidade de os Estados Unidos recuarem na sua política de longa data conhecida como "ambiguidade estratégica", segundo a qual Washington ajuda Taiwan a construir e fortalecer a sua defesa, mas sem prometer explicitamente que irá em seu auxílio em caso de ataque.

"Neste momento, é essa a nossa política e vai continuar a ser, por enquanto", declarou.

Nas últimas semanas, multiplicou-se o "fogo cruzado" entre os Estados Unidos e a China sobre o destino daquela ilha de 23 milhões de habitantes que dispõe do seu próprio Governo, da sua moeda e do seu exército, mas que Pequim considera uma das suas províncias à espera de reunificação com o resto do país, pela força, se necessário.

Inquirido no mês passado sobre a possibilidade de uma intervenção militar norte-americana para defender Taiwan em caso de ataque da China, o Presidente norte-americano, Joe Biden, respondeu de forma afirmativa: "Sim, temos um compromisso nesse sentido", declarou.

Tais palavras parecem contradizer a "ambiguidade estratégica" dos Estados Unidos e a Casa Branca assegurou, em seguida, que a sua política em relação a Taiwan não mudou: os Estados Unidos reconhecem desde 1979 a China comunista, em detrimento de Taiwan, mas o Congresso norte-americano impôs paralelamente o fornecimento de armas à ilha para sua defesa.

O general Milley considerou igualmente que a ascensão do poder da China representa um fator desestabilizador para o planeta.

"Estamos a entrar num mundo tripolar, com os Estados Unidos, a Rússia e a China como grandes potências", afirmou.

Com três atores em vez de dois, "temos mais complexidade", acrescentou. E com a chegada de tecnologias como a inteligência artificial, os mísseis hipersónicos e a militarização do espaço, "estamos a entrar num mundo que, na minha opinião, é potencialmente muito mais instável do ponto de vista estratégico" do que foi nos últimos 60 anos.

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