A ideia já andava a ser pensada há algum tempo, mas foi um passeio a pé entre a Fundação Gulbenkian e a sua casa em Arroios no dia 13 de julho, com temperaturas que rondavam os 40 graus, que levou Pedro Miguel Santos a escrever o manifesto "Árvores em todas as ruas de Lisboa". Esta iniciativa pretende mobilizar cidadãos e decisores políticos para o futuro que nos espera, com ondas de calor e períodos curtos de chuvas fortes, afinal o impacto das alterações climáticas pode ser combatido com a plantação de árvores.."Era algo que já andava a pensar há muito tempo e no dia 13 de julho fiz um percurso a pé no qual vi um degradê de zonas arborizadas e com sombra para zonas que deixam de ter árvores. Consoante vamos caminhando da zona rica, onde há ruas que têm árvores e sombras, para uma zona da cidade onde vive gente mais modesta, há mais carros, menos esplanadas e não há árvores", constatou, dando um exemplo: "Na minha rua, por exemplo, existem duas árvores. E a partir do momento em que sais de uma rua arborizada para outra sem sombras há um choque térmico brutal. Há estudos científicos que mostram que pode haver uma diferença até cinco graus imediatamente assim que são retiradas as árvores, o que é muito para o corpo humano.".Pedro Miguel Santos tem 35 anos e parte deles dedicados ao ativismo, desde a organização do movimento "Geração à Rasca" à participação no projeto Rios Livres do GEOTA, que tinha como objetivo travar o Plano Nacional de Barragens, agora colocou mãos à obra e transformou as suas ideias e a sua indignação no manifesto "Árvores em todas as ruas de Lisboa". "Não é ideal ter que chamar um Uber porque não consigo lidar com o calor ou ter que ligar aparelhos de refrigeração e gastar energia porque não consigo estar em casa por falta de eficiência energética. Não digo que as árvores são a solução milagrosa, porque não há soluções milagrosas face ao trinta-e-um em que estamos metidos, mas há um conjunto de soluções e de adaptações ao aquecimento global que as cidades vão ter de fazer, e que já devíamos estar a fazer", sublinha..Ao mesmo tempo, Pedro critica quem aposta em "planos mirabolantes", dizendo que estes têm de ser travados. E dá o exemplo do Plano de Drenagem de Lisboa. "São 250 milhões de euros até 2030, que vão ser literalmente enterrados debaixo da cidade, vão enterrar betão fazendo buracos gigantescos debaixo do solo, impermeabilizando-o ainda mais, para captar a água que cai da chuva e guardá-la nos tais buracos", denuncia..Este plano foi lançado pela autarquia em 2004, período de tempo que, na opinião de Pedro Miguel Santos, poderia ter representado uma grande poupança à Câmara de Lisboa se tivessem, desde então, apostado numa das propostas do seu manifesto: por cada três carros que existem, no espaço de um deles plantar uma árvore, desimpermeabilizando esse espaço. "Tenho a certeza que isso não custava 250 milhões de euros e teríamos ruas mais frescas, negócios mais ricos e disso é prova aquilo que aconteceu na pandemia. Cada rua que é fechada tem um café novo e uma esplanada que as pessoas ocupam imediatamente, por cada esplanada nova há mais um negócio que dá trabalho a duas ou três pessoas. Plantar árvores não é só bom para o ambiente, é bom para os negócios e para tirar poluição das ruas", argumentou..Os primeiros tempos dedicados a este movimento foram passados em trabalho de bastidores, a estudar o tema e a falar com especialistas, como urbanistas, pessoas que trabalham com dados e que já pensaram a cidade. E tem-se deparado com informações alarmantes, como um estudo publicado recentemente na revista científica Weather and Climate Extremes, que coloca Lisboa em sétimo lugar entre 603 cidades europeias com maior exposição às ondas de calor. Nos planos deste ativista está também apresentar uma proposta no Orçamento Participativo de Lisboa para que em Arroios, a freguesia onde reside, se faça o teste de plantar, pelo menos, um quarteirão de árvores. A par disso, pretende a partir de setembro apresentar o seu projeto à presidente da Junta de Freguesia de Arroios, ao presidente da Câmara de Lisboa, mas também aos grupos políticos municipais..Para já, a reação das pessoas tem sido, segundo Pedro Miguel Santos, surpreendente, pois não tinha noção da existência de um interesse tão grande nestas questões. Houve até um grupo de Gaia, insatisfeito com a existência de poucas árvores na região, que lhe pediu autorização para usar o manifesto como inspiração. "Não tinha a noção que tanta gente atribuía o mesmo significado que eu dou a uma árvore", constata..ana.meireles@dn.pt