Pedro Mexia: "Sou próximo do CDS, nos dias em que não é próximo do MPLA"

O consultor para os Assuntos Culturais do Presidente da República esteve na Escola de Quadros dos centristas, em Peniche
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Decididamente o tema MPLA ainda não está arrumado no CDS - recorde-se as polémicas declarações do deputado Helder Amaral no recente congresso daquele partido sobre a maior aproximação entre os dois partidos - e isso foi, esta manhã mensurável pela ruidosa reação dos "alunos" da Escola de Quadros do CDS, quando o escritor Pedro Mexia aludiu a controvérsia.

Mexia, atualmente consultor para os Assuntos Culturais de Marcelo Rebelo de Sousa, foi o convidado, juntamente com António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, para falar aos "jotinhas" sobre "A importância económica da cultura". Nos agradecimentos iniciais confessou-se "amigo pessoal de há muitos anos da atual presidente do CDS" e acabou por admitir que era "aquilo a que os jornais chamam, próximo do CDS". Mas acrescentou: "Pelo menos nos dias em que o CDS não é próximo do MPLA". Responderam-lhe ruidosas gargalhadas da assistência e o gelo matinal ficou quebrado com um dos assuntos mais quentes e incómodos para a direção de Assunção Cristas.

Quanto ao tema em debate, que tem pela primeira vez espaço na Escola de Quadros dos centristas, tanto Mexia como Pimentel insistiram na importância da cultura para a economia e deram exemplos de como o património cultural, associado ao turismo podem trazer mais receitas ao país. António Filipe Pimentel deu o exemplo do Museu Nacional de Arte Antiga e do seu potencial.

Pedro Mexia lembrou o ministro da Cultura francês, Jack Lang, que colocou "o predomínio da cultura como a guarda avançada do predomínio económico". Lang era ministro do socialista François Mitterrand, mas muitos anos antes, como assinalou Mexia, no governo do general Charles De Gaulle, o então ministro da Cultura, de direita, André Malraux, era o segunda figura do governo e instituiu a "democratização da cultura". "Como disse Jack Lang, economia e cultura são um mesmo combate", salientou.

António Filipe Pimentel tem uma noção muito pragmática da realidade e não tem dúvidas sobre o potencial económico que pode vir de todo o património cultural português, se contar com os recursos adequados. Referindo-se ao enorme aumento do turismo nos últimos anos, deixou um alerta para as capacidades das estruturas existentes, a começar pelo próprio Museu Nacional de Arte Antiga que tem batido todos os recordes de visitantes. "Para usar um termo agora muito em voga, estamos a falar de uma espécie de caranguejola que se tem arrastado como pode nos últimos anos mas que agora foi obrigada a acelerar dos zero aos 100 em poucos segundos. E isso certamente que vai comprometer o seu funcionamento se as peças não forem reforçadas ou mudadas", sublinhou. No Museu que dirige, visitado por mais de 65 mil pessoas, assinala, tudo está a rebentar pelas costuras. "Temos 64 funcionários para 86 salas abertas ao público. Um dia acontece uma calamidade e a tutela sabe disso", asseverou.

Pimentel deu o bom exemplo da vizinha Espanha no que diz respeito à já existente consciência das empresas em apoiar a cultura, como é o caso do Museu do Prado apoiado pela Iberdola ou da grande capacidade financeira do Instituto Cervantes, na divulgação da cultura espanhola. "A cultura não é um luxo, é uma condição de sucesso dos povos. Quem procura só o sucesso ignorando a cultura fracassa. Há quem ande a ver tudo ao contrário. Mas isso só percebe mesmo quem é culto", rematou

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