Pediatras: vacinar dos 5 aos 11, sim, mas só se servir para normalizar a vida das crianças

Sociedade Portuguesa de Pediatria divulgou parecer no qual consideram as vacinas seguras e eficazes para a faixa etária dos 5 aos 11 anos. Mas a decisão de vacinar ou não deve ter em conta também outros dados, aconselham.
Publicado a
Atualizado a

Vacinar as crianças dos 5 aos 11 anos, sim, mas mais como fator de libertação e normalização da vida dos mais novos, e não tanto pela proteção imunológica a uma faixa etária pouco afetada pelas manifestações graves da covid-19. "Só se conseguirmos diminuir os confinamentos prolongados e recorrentes das crianças vale a pena vacinar nesta idade, dado que a doença grave é muito rara nestes grupos etários", diz Inês Azevedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP).

Os pediatras portugueses divulgaram ontem um parecer no qual consideram as vacinas contra a covid-19 seguras no grupo etário dos 5 aos 11 anos, mas defendem que a decisão de vacinar deve ter em conta outros dados, como a prevalência da infeção nas crianças. E, para a presidente da SPP, deve ser também analisada em conjunto com uma revisão das medidas de isolamento impostas nas escolas.

"É uma decisão de saúde pública, em que os responsáveis terão de ter em conta não só os números atuais [da infeção], como perceber se através da vacinação é possível reduzir as medidas de confinamento que têm sido impostas até ao momento nas escolas e que estão a prejudicar seriamente as crianças", insistiu a responsável, em declarações à agência Lusa.

No parecer divulgado ontem, assinada pela direção e pela comissão de vacinas da SPP, a organização defende a segurança das vacinas e lembra que foram testadas num ensaio clínico com 1.517 crianças, mostrando-se "seguras e eficazes".

A SPP lembra no entanto que, nas crianças, a covid-19 "é habitualmente uma doença assintomática ou ligeira e, felizmente, continuam a ser raros os casos graves que obrigam a internamento ou admissão em unidades de cuidados intensivos", ocorrendo estes "maioritariamente em crianças com fatores de risco".

A maior vantagem de uma possível inoculação das crianças, que continua a ser avaliada pela Agência Europeia do Medicamento (espera-se para hoje uma decisão), será, para Inês Azevedo, "isso permitir trazer normalidade à vida das crianças".

"Elas têm sido fortemente prejudicadas na pandemia devido aos confinamentos sucessivos, que afetam seriamente a sua aprendizagem e saúde mental e aumentam o risco de pobreza e de maus-tratos", lembra a pediatra, defendendo que, provada a segurança e eficácia da vacina, "poderá, por isso, ser considerada a sua aplicação neste grupo etário".

De resto, acrescenta, "a vacinação dos 5 aos 11 anos está a ser avaliada pela comissão técnica da DGS, que tem acesso aos dados em tempo real sobre o número de casos por grupo etário, os surtos nas escolas e ambiente familiar e a seroprevalência neste grupo etário. Na decisão irá certamente pesar a disponibilidade das vacinas no nosso país, bem como a premência de fazer doses de reforço aos adultos de maior risco".

Inês Azevedo defende, no entanto, que para avaliar a importância de vacinar as crianças "é preciso ter também em conta a transmissão e a responsabilidade das crianças na infeção. Os estudos científicos indicam que essa transmissão parece ser baixa em idades mais jovens, mas não conhecemos os dados nacionais e será necessário ter acesso a esses dados para perceber a importância de vacinar crianças neste grupo etário", explicou.

A SPP considera ainda que, "como muitos adultos agora estão protegidos pela vacinação, é natural que a proporção de novos testes positivos encontrados em crianças seja maior do que antes", especialmente com a "testagem intensiva das crianças" a frequentar as escolas. Até que alguma decisão sobre a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos seja tomada, a SPP reforça a necessidade de "manter medidas de prevenção eficazes, nomeadamente de etiqueta respiratória, com higienização frequente das mãos e uso de máscara sempre que adequado".

Portugal atingiu ontem o maior número de novas infeções por covi-19 em quase três meses, ultrapassando a fasquia dos 2500 pela primeira vez desde 25 de agosto. Além disso, e pelo 17.º dia consecutivo, os internamentos voltaram a subir, havendo agora 649 doentes em enfermaria, mais 21 do que na véspera, das quais 93 em cuidados intensivos. Foram ainda revelados mais 14 óbitos por covid-19: Lisboa e Vale do Tejo e a Região Centro registaram quatro cada, duas mortes na Região Norte e na Madeira, uma no Alentejo e outra no Algarve.

Com LUSA

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt