PCP sai à rua no centenário, mas sem comício no Campo Pequeno
O PCP faz 100 anos no próximo dia 6 de março, mas o comício de comemoração que estava previsto para o Campo Pequeno - o mesmo local onde os comunistas se reuniram no primeiro grande comício a seguir ao 25 de Abril, em junho de 1974 - foi cancelado. O PCP considerou "não ser adequado realizar" esta iniciativa nas "condições atuais", pelo que o evento será substituído por cem ações em todo o país.
É a primeira vez que o PCP opta por cancelar uma iniciativa de grande dimensão, depois de ter avançado com a realização da Festa do Avante! em setembro do ano passado e, já em novembro, com o XXI Congresso. Num e noutro caso, os comunistas foram alvo de fortes críticas, sobretudo à direita. Em setembro, o número de novos contágios diários rondava as quatro centenas. Em novembro, os números aproximavam-se dos atuais - 4000 a 5000 casos diários -, mas sem confinamento.
Ainda em dezembro, na inauguração de uma exposição comemorativa do centenário, em Almada, o secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa, apontava o "momento particularmente importante no comício de 6 de março" no Campo Pequeno, um "comício de grande significado político na afirmação do ideal e do projeto comunistas, na valorização dos 100 anos de vida e luta do PCP". Ao contrário do que sucedeu antes, o partido altera agora os planos e vai avançar com uma centena de ações, em todo o país, para assinalar a data de aniversário. Um conjunto de iniciativas que decorrerão sob o lema "100 anos, 100 ações - Liberdade, democracia, socialismo. Pelos direitos, a melhoria das condições de vida e o progresso social. Contra a exploração e o empobrecimento". Uma das ações decorrerá em Lisboa, no Rossio, com a participação do secretário-geral. O DN questionou o PCP sobre as restantes ações, mas não obteve resposta.
Numa nota ontem publicada no Avante!, o jornal do partido, e depois repetida em comunicado, o PCP assegura que "serão garantidas as condições sanitárias, dando mais uma prova de que é possível continuar a intervir e a lutar e ao mesmo tempo proteger a saúde". Uma posição que tem sido reiteradamente expressa pelo PCP - nesta semana, na sequência da reunião com os especialistas no Infarmed, e na qual o primeiro-ministro admitiu que o confinamento se poderá estender até ao final de março, o PCP veio qualificar este cenário como "inaceitável", considerando que "despreza todas as consequências no plano económico, social e também de saúde, em geral, dos portugueses". "O que o país precisa é de reforçar a proteção individual, fazer a pedagogia da proteção, reforçar o Serviço Nacional de Saúde", defenderam os comunistas.
O dia do centenário é um dos momentos altos das comemorações que se prolongam desde o ano passado e que vão estender-se até 2022. E que têm outros momentos significativos neste ano, no 25 de Abril, no 1.º de Maio e na Festa do Avante!. Ainda neste ano, há outra data a assinalar no calendário da comemorações - o 60.º aniversário da fuga Álvaro Cunhal de Caxias, que se assinala a 4 de dezembro.
O nascimento do PCP foi formalizado a 6 de março de 1921. Na edição do dia seguinte o DN escrevia que "estava convocada para ontem, na sede da Associação de Classe dos Empregados de Escritório uma sessão de propaganda promovida pela comissão organizadora do partido comunista. Esta sessão não se realizou devido a ter sido proibida pela autoridade superior, mas no entanto a assembleia ainda sancionou os nomes dos indivíduos indigitados para os corpos dirigentes do partido e que serão junta nacional, conselho económico e comissão de propaganda".
Esta reunião acabou por ser o ato fundador do PCP, que já vinha tomando forma desde o ano anterior. Instalada a sede em Lisboa, ainda no mesmo ano viriam a abrir centros comunistas no Porto, em Beja e em Évora e seria lançado O Comunista, publicação precursora do Avante!. Em 1923 realizou-se o primeiro congresso dos comunistas. No final da década, o partido foi ilegalizado, iniciando então um período de mais de 40 anos na clandestinidade.