PCP avança com candidatura própria às presidenciais
Jerónimo de Sousa anunciou esta tarde que o PCP vai avançar com um candidato próprio às eleições presidenciais de janeiro de 2021. Um anúncio feito pelo secretário-geral do partido após uma reunião do Comité Central que decorreu este sábado.
"Valorizando, como sempre fez, a importância deste órgão de soberania, enquanto garante da defesa e cumprimento da Constituição da República, o Comité Central do PCP decide a apresentação de uma candidatura própria às eleições presidenciais de 2021, que dê voz aos projetos e valores de abril, à defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo, à afirmação da igualdade e justiça sociais e de soberania e independência nacionais", referiu Jerónimo de Sousa em conferência de imprensa, sem apontar o nome do candidato, que deverá ser conhecido em setembro.
O anúncio de Jerónimo de Sousa não constitui uma grande surpresa - o PCP apresentou um candidato próprio a todas as eleições presidenciais que se realizaram até hoje. Nas eleições de 2016, que deram a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa, o PCP avançou com a candidatura de Edgar Silva, que ficou em quinto lugar no escrutínio, com 3,95% dos votos, o pior resultado de sempre dos candidatos comunistas em eleições presidenciais.
Sobre o Orçamento Suplementar que está em discussão na Assembleia da República, Jerónimo de Sousa avisou o Governo que pode ter um "sério problema" se não aceitar alterar o documento durante a fase de discussão na especialidade, que está em curso.
"O PCP absteve-se na fase de generalidade da proposta de Orçamento Suplementar com a ideia de que na discussão na especialidade fosse possível encontrar manifestações de avanço, de garantia de direitos, de proibição de despedimentos e de medidas de proteção social para quem tudo perdeu. Verificamos que muitas destas matérias não estão lá na proposta, o que leva a uma preocupação natural", referiu o secretário-geral comunista, acrescentando que se essas propostas não tiverem eco no documento o "PS assume uma grave responsabilidade para encontrar as respostas necessárias que são urgentes para os trabalhadores e para o país".
Jerónimo de Sousa deixa, assim, em suspenso o sentido de voto do PCP na votação final global do Orçamento Suplementar, marcada para sexta-feira.
Antes, Jerónimo de Sousa já tinha qualificado o Orçamento Suplementar como um "instrumento de uma ainda mais acentuada desigualdade e injustiça na repartição dos rendimentos entre capital e trabalho", apontando medidas como "o alargamento do prazo de reporte dos prejuízos fiscais, a admissão de apoios públicos a empresas sediadas em paraísos fiscais, novos benefícios em sede de IRC e TSU". Em sentido contrário, o líder do PCP sublinhou que o documento apresentado pelo Governo não contempla medidas defendidas pelo PCP, caso do "pagamento dos salários a 100%" ou da proibição dos despedimentos.
"O Programa de Estabilização Económica e Social, a que o Orçamento Suplementar dá expressão, prova que o Governo continua amarrado a uma política que não responde aos problemas do País", defendeu o secretário-geral comunista.
Referindo-se à indicação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal, Jerónimo de Sousa defendeu que a polémica em torno da escolha do ex-ministro das Finanças esconde o problema essencial - o de o país "não dispor de um verdadeiro Banco Central, reduzido de facto a uma sucursal do Banco Central Europeu".
Voltando a defender a nacionalização da TAP, o secretário-geral do PCP sustentou que Portugal "não pode aceitar que se faça da TAP uma simples sucursal de uma qualquer companhia de aviação estrangeira".