Paz na Colômbia
Numa visita a Portugal em 2017, um ano depois de ter recebido o Nobel da Paz pelas negociações com a guerrilha, o então presidente colombiano Juan Manuel Santos deu uma entrevista ao DN em que afirmava que "na Colômbia hoje a paz é irreversível". De facto, após meio século de combates, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) depunham as armas e aceitavam integrar o jogo político-partidário, resultado de uma longa e complexa negociação que envolveu as Nações Unidas. Uma nova era começava num país que se orgulha dos pergaminhos democráticos ao longo dos dois séculos de história, mas cuja estabilidade política e desenvolvimento económico sofriam com a ação das guerrilhas esquerdistas, muitas vezes combatidas por grupo paramilitares de Direita, tudo num contexto de violência que beneficiava o narcotráfico e os cartéis envolvidos no tráfico de cocaína.
O sucesso de Santos no diálogo com as FARC foi enorme e não só trouxe otimismo à sociedade como ajudou muito a tornar a economia colombiana atrativa para investimento estrangeiro, incluindo português. Afinal, estamos a falar de um país de mais de um milhão de km², com cerca de 50 milhões de habitantes e que é a quinta maior economia da América Latina. Mas foi, porém, um sucesso incompleto, dada a recusa de uma outra guerrilha, o Exército de Libertação Nacional (ELN), em alinhar no processo negocial, apesar de ter chegado a aceitar temporariamente uma trégua. Agora, graças ao esforço do presidente Gustavo Petro, o ELN aceitou uma importante trégua de seis meses que servirá para aprofundar as negociações sobre o modo de os guerrilheiros serem reintegrados na sociedade, mesmo tendo, em certos casos, de cumprir penas de prisão - tudo está a ser discutido. Petro, considerado o primeiro presidente oriundo da Esquerda na história colombiana, foi ele próprio guerrilheiro na juventude (no extinto M19) e apesar de se ter tornado com os anos um político do sistema (deputado, senador, autarca de Bogotá), tem um perfil que lhe permite ir mais longe do que Santos. Já Iván Duque, o presidente que governou entre Santos e Petro, mostrou-se sempre cauteloso no diálogo com as guerrilhas, certamente mais do que o antecessor.
Não é ainda o fim total da luta armada nas florestas da Colômbia, pois o Governo de Bogotá tem também de lidar com uma dissidência das FARC e outros pequenos grupos criminais, mas esta trégua do ELN está a criar grandes esperanças, ao ponto de o Conselho de Segurança das Nações Unidas, num raro momento de consenso, ter votado pelo reforço da missão de observadores internacionais que zela pela aplicação dos Acordos de Paz de 2016.
As muitas décadas de confronto na Colômbia entre o exército governamental e as guerrilhas várias, envolvendo outros grupos armados também, causaram a morte de entre 400 mil e 500 mil pessoas. Petro, que tomou posse como presidente faz agora um ano, sempre insistiu na ideia de uma paz total para o país.
Diretor adjunto do Diário de Notícias