Paulo Pereira, o selecionador que fez história no europeu de andebol

No comando da seleção desde outubro de 2016, o técnico de 56 anos sempre recusou fazer o "discurso do coitadinho".
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Paulo Pereira assumiu o comando da seleção de andebol em outubro de 2016, com a ambição de tornar os portugueses conquistadores, mas só dobrou o cabo das tormentas no Euro2020, com a melhor participação de sempre de Portugal - vai jogar com a Alemanha, no sábado, no jogo de atribuição do 5.º/6.º lugar.

O treinador, de 54 anos, natural de Amarante, chegou à equipa nacional depois de quase uma década no estrangeiro, com passagens pelas seleções femininas de Tunísia e Angola, onde também orientou o Espérance de Tunis, o 1.º de Agosto e o ASA, além dos espanhóis do Cangas.

Em Portugal, começou a carreira como adjunto do Boavista, então comandado por José Magalhães, com quem rumou ao FC Porto, que orientou durante três temporadas, entre 2003 e 2006, conquistando um campeonato (2003-04), uma Taça de Portugal (2003-04 e 2004-05) e uma Taça da Liga (2005-06).

Já como selecionador, conciliou essa tarefa com o comando técnico do CSM Bucareste, erguendo a Taça Challenge em 2018-19, ao bater na final o Madeira SAD, orientado pelo seu atual adjunto, Paulo Fidalgo (22-22, no Funchal, e 26-20, na capital romena).

Na seleção, cumpriu um percurso de pouco mais de três anos até alcançar o sucesso no Euro2020, tendo como pontos altos os triunfos frente a França (28-25), na primeira fase, depois de já ter vencido os terceiros do último Mundial e Europeu na fase de qualificação, e a Suécia (35-25), vice-campeã europeia, na segunda fase.

A seleção portuguesa ficou no caminho para o Europeu de 2018, superada pela Alemanha e pela Eslovénia, com a qual também perdeu na terça-feira no Euro2020, por 29-24, ficando, dessa forma, automaticamente impedida e disputar as meias-finais.

A equipa das quinas falhou, depois, o acesso ao Mundial de 2019, nos play-offs frente à Sérvia (28-21 e 25-25), na sequência da vitória num grupo com Polónia, Chipre e Kosovo. Na altura, Paulo Pereira reconheceu que a seleção continuava com "o estigma da derrota", recusando-se a fazer "o discurso do coitadinho". E, daí para a frente, tudo mudou. Consolidou a integração dos luso-cubanos Alexis Borges, Daymaro Salina e, sobretudo, Alfredo Quintana, aproveitou o desenvolvimento europeu de Sporting e FC Porto, com desempenhos sólidos na Liga dos Campeões, para construir uma seleção capaz de ombrear com as melhores da Europa.

"Queremos lá estar. Temos de trabalhar melhor e estar mais focados. Se calhar temos de fazer mais coisas do que os outros. E isto não é só no andebol e no desporto, é no país. Temos de trabalhar mais e assumir as coisas de uma vez por todas", reagiu, então, o técnico ao sorteio.

Para ser uma das equipas presentes no Euro2020, alargado de 16 para 24 seleções, Portugal enfrentou França, Lituânia e Roménia e só foi batido em solo gaulês (33-24), cedendo um empate na receção à formação lituana (28-28), quando já estava qualificado.

O triunfo frente à seleção francesa, por 33-27, em Guimarães, foi o sinal, num jogo em que Paulo Pereira assinalou que o adversário "não teve nenhuma possibilidade de vencer o jogo", num agrupamento em que somou ainda vitórias diante da Roménia (24-19 e 21-13) e à Lituânia (24-23), para chegar novamente à fase final, 14 anos depois.

"Só a perfeição coloca Portugal na próxima ronda, isso é claro", frisou Paulo Pereira, antes do Europeu, e isso foi demonstrado nos primeiros dois jogos da primeira fase, nas vitórias frente à França (28-25) e Bósnia-Herzegovina (27-24), mesmo sem a estrela Gilberto Duarte.

Seguiu-se dupla derrota com a Noruega (34-28), que atrasou a equipa das quinas na segunda fase, na qual se reergueu com a vitória contundente com a Suécia, mas os desaires com Islândia (28-25) e Eslovénia (29-24) impediram a passagem às meias-finais.

Mas o triunfo sobre a Hungria (34-26), na última jornada da ronda principal, permitiu a Portugal terminar no segundo lugar do grupo II da ronda principal, e assegurar a melhor prestação de sempre, com pelo menos o sexto lugar, melhorando o sétimo de 2000, na Croácia.

O próximo objetivo será o torneio de qualificação olímpica, assegurado com a presença no encontro de atribuição do quinto lugar. "O próximo objetivo é ir aos Jogos Olímpicos. É estrondosamente difícil, quase impossível. Tal como isto", disse Paulo Pereira, após o triunfo sobre a Hungria.

E o futuro ainda parece assegurado, tendo em conta os quartos lugares obtidos no Mundial de sub-21 de 2019 no Europeu de sub-20 de 2018.

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