Paul Simon, 80 anos - na indústria discográfica desde os 16
O célebre cantor, autor, guitarrista e letrista americano que criou, com um amigo de infância, o não menos famoso duo Simon & Garfunkel, cedo entrou no meio musical nova-iorquino, ganhando experiência e desbravando o caminho para o que viria a ser uma longa carreira internacional, recheada de sucessos.
Para quem na década de setenta estava na casa dos 15, 20, 25 anos, estes nomes são certamente familiares, tanto mais que todos, de uma forma ou de outra, terão infalivelmente cantado e tocado na guitarra, vezes sem conta, canções incontornáveis como The Sound of Silence (1964) ou The Boxer (1968). Muitos não sabiam, nem tinham como saber, quem era quem neste grupo: quem era o alto e loiro (Art), quem o baixo e moreno (Paul)? Qual deles era o autor, qual o letrista, qual o arranjador? Quem tocava, quem cantava qual das vozes?
Hoje em dia não há mistérios desta natureza - Paul Simon fez a maioria das canções, muitos dos arranjos e das letras, e providenciava também o acompanhamento na guitarra - estando amplamente documentada a longa carreira do artista que, espantosamente, se manteve na ribalta durante cerca de 60 anos, foi reiteradamente premiado, e o seu sucesso ampla e justamente reconhecido. Mas como é que tudo começou?
Embora um grande aficionado do beisebol desde criança, Simon rapidamente compreendeu que a sua pouca altura não lhe permitiria enveredar por uma profissão como jogador, tornando-se a música na opção mais evidente, quando tal se proporcionou. De facto, pelos 13 anos de idade começou a interessar-se pela música que passava na rádio, sendo as suas primeiras composições, de acordo com o autor e biógrafo Robert Hilburn (Paul Simon, The Life, 2018), imitações (algumas boas) das canções de sucesso da época. Mais tarde, já na faculdade, ganhava dinheiro fazendo gravações de estúdio para músicos profissionais, por vezes acompanhando-se com diferentes instrumentos e/ou vozes, em múltiplas pistas.
Pelos 15-16 anos tinha constituído um duo com Art Garfunkel - vizinho e colega de escola, da mesma idade, notado pela sua voz excecionalmente afinada e doce - atuando sob o pseudónimo de Tom [Graph] & Jerry [Landis], cujo primeiro sucesso discográfico seria Hey Schoolgirl (1957), antecedendo em cinco anos o single de Simon/Landis a solo The Lone Teen Ranger (1962). Mas nada disto era ainda suficiente para alcançar a fama.
Por esta altura fazia furor nos Estados Unidos uma jovem cantora folk da sua idade, Joan Baez (no início de uma meteórica carreira mundial), que se apresentava perante audiências de milhares de pessoas tendo como único acompanhamento a sua própria guitarra acústica. Terá sido uma das razões que levou Simon a trocar a guitarra elétrica da sua adolescência por uma acústica e a dedicar-se a um novo repertório de cariz mais tradicional, num contexto em que a música folk se assumia como alternativa - preferida pelos jovens - à música dita comercial, ainda muito marcada pelo rock"n"roll da década anterior. Outra grande influência terá surgido do contacto com as canções de Bob Dylan, então ainda pouco inserido no meio musical, mas cuja originalidade se manifestava num novo universo letrístico deveras surpreendente.
Aos 20 anos, segundo Hilburn, Simon tinha gravado seis singles, mas nenhum com relevância: "zero hits". Quando finalmente surgiu a oportunidade de fazer uma audição para uma grande editora discográfica, a Columbia, esperançado de vir a ter o apoio necessário à divulgação e distribuição da sua música à escala nacional (pelo menos), o músico foi confrontado com a dura realidade da sobreposição dos interesses comerciais da empresa à sua relevância artística. Percebeu que naquele segmento de mercado estavam a fazer uma grande aposta num novo talento - Bob Dylan, que aliás estava a ter fracos resultados com os primeiros álbuns - e o grupo Peter, Paul & Mary, uma criação da própria etiqueta que, pelo contrário, estava a ter um sucesso espetacular. Não era então oportuno investir num desconhecido com as suas características.
Mas Simon, determinado, confiante no seu talento e na experiência profissional adquirida, insistiu, alvitrando que tinha um duo com uma sonoridade muito original. Acabou por ser aceite. Chamou o amigo Artie, com quem tinha passado tantas horas de músicas e gravações experimentais enquanto miúdos, criaram a dupla imortal Simon & Garfunkel e lançaram o seu primeiro álbum em 1964, não granjeando, apesar de tudo, um entusiasmo significativo do público.
Foi necessário esperar até ao ano seguinte, quando algumas rádios locais/regionais passavam reiteradamente uma das canções do disco - The Sound Of Silence - desencadeando uma subida nas tabelas de vendas e dando finalmente notoriedade ao grupo. O resto é História: após o lançamento de um single com um novo arranjo, incluindo instrumentos elétricos e bateria, a canção chegou ao nº 1 das tabelas no final de 1965, ao que se seguiu a gravação de novos discos que tiveram, sucessivamente, um êxito estrondoso, culminando no último álbum de estúdio, em 1970, com vendas superiores a oito milhões de unidades.
No auge da fama, receoso de que não conseguissem manter-se neste patamar, Simon optou por seguir um rumo próprio, independente do seu parceiro de sucesso, enveredando definitivamente por uma carreira a solo que se estenderia até à última digressão, em 2018, reencontrando-se em palco com Garfunkel apenas ocasionalmente.
Hoje, 13 de outubro, quando se celebra o 80º aniversário deste admirável, prolífico e polivalente músico, vale a pena destinar uns momentos para conhecer ou recordar alguns dos seus mais famosos êxitos - entre muitas outras canções inesquecíveis - como April Come She Will (1965), Scarborough Fair/Canticle (1966), Mrs. Robinson (1967), Bridge Over Troubled Water (1970), Still Crazy After All These Years (1975), You Can Call Me Al (1986)...
*Flautista