Patinadora francesa denuncia que foi violada aos 15 anos. Divulgada longa lista de casos do género

A antiga patinadora Sarah Abitbol publicou um livro em que denuncia ter sido violada pelo treinador quando tinha 15 anos. O jornal L'Équipe publicou outros casos de abusos de atletas por técnicos, na natação e no ténis.
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Sarah Abitbol, ex-campeã mundial de patinagem artística, está no centro de novas revelações sobre abusos sexuais no desporto francês. Num novo livro publicado nesta quarta-feira, com o título "Un si long silence", e em entrevista ao jornal L'Obs, Abitbol, ​​10 vezes campeã francesa e medalha de bronze nas duplas no campeonato mundial de 2000, acusou o ex-treinador Gilles Beyer de violação, entre 1990 e 1992, quando a atleta tinha entre 15 e 17 anos.

As acusações da Abitbol surgem nesta quarta-feira, dia em que o diário desportivo L'Equipe publicou uma longa investigação sobre abusos sexuais na patinagem, natação e ténis em França.

Sob a manchete "O Fim de Omerta" [código de silêncio imposto], o L'Equipe apoia-se nas histórias de três outras patinadoras que acusam Beyer e outros dois treinadores, Jean-Roland Racle e Michel Lotz, de abuso e violação quando eram menores. Os treinadores negaram as alegações ou recusaram comentar.

A investigação é conhecida uma semana depois de o treinador de ténis francês Andrew Geddes ter sido condenando a 18 anos de prisão por violar quatro jogadores menores de idade.

"Ele (Beyer) começou a fazer coisas horríveis que levaram ao abuso sexual - fui violada aos 15 anos", disse Abitbol, ​​agora com 44 anos, numa entrevista em vídeo à L'Obs. "Foi a primeira vez que um homem me tocou."

Outra patinadora Helene Godard também acusou Beyer de abuso sexual quando era menor de idade. De acordo com L'Équipe, Beyer, que continuou a carreira como diretor das equipas francesas e técnico nacional, foi alvo de duas investigações, uma pelo ministério do Desporto, no início dos anos 2000.

Após o segundo inquérito, o ministério rescindiu o contrato como consultor técnico, mas Beyer permaneceu próximo da federação de patinagem, cujo presidente Didier Gailhaguet recusou comentar o tema, quando contactado pela AFP.

Abitbol diz que, depois de se retirar, mencionou as denúncias contra Beyer ao então ministro do Desporto, Jean-François Lamour, que supostamente respondeu: "Sim, temos um arquivo sobre ele, mas vamos fechar os olhos." O ex-ministro disse ao L'Obs que não se lembrava dessa conversa.

"Entendi que tinha pela frente um silêncio organizado", disse Abitbol. "Basicamente, todos disseram: 'Tome os medicamentos e fique quieta!' Eu obedeci. Tomei os medicamentos e fiquei em silêncio. "

O L'Équipe também publicou um relatório distinto sobre agressões sexuais na natação francesa durante os anos 1980, enquanto a ex-tenista Isabelle Demongeot acusa também o seu treinador Regis de Camaret de violação.

No final de 2019, uma investigação do coletivo de jornalistas We Report lançou luz sobre "grandes disfunções" em diferentes níveis do desporto, citando 77 casos e pelo menos 276 vítimas, a maioria crianças com menos de 15 anos, em 28 modalidades diferentes.

A ministra do Desporto Roxana Maracineanu não comentou diretamente os casos, mas disse à Rádio France na quarta-feira que o controlo dos treinadores deve ser mais rígido. "Estamos a falar de pedofilia, são coisas inadmissíveis na sociedade", disse.

"No desporto, é ainda menos aceitável, já que os pais, a cada ano, entregam os seus filhos com confiança. Precisam ser capazes de continuar a confiar".

O ministério está a organizar uma grande conferência em 20 de fevereiro para discutir o assunto.

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