Caim também tem passagens muito polémicas no âmbito do erotismo. Ninguém se sentiu chocado com esses parágrafos?.Não! O erotismo agora já anda por aí sem ninguém se escandalizar. Pega-se num jornal e encontra-se logo quatro, seis ou oito páginas de anúncios eróticos, que normalmente nem têm as fotografias das próprias anunciantes, mas de outras mulheres que, enfim, favorecem ou proporcionam a atenção do leitor. Eu lembro-me - já agora conto isto dos meus tempos no Diário de Notícias - de logo nos primeiros dias em que fui director adjunto ter-me aparecido um funcionário da publicidade que trazia uma folha na mão e disse: "Tenho aqui um anúncio erótico. O que é que eu faço com isto?" E eu disse-lhe: "Rasgue, não publicaremos isso.".Aquela passagem, por exemplo, das escravas que lavam o sujo Caim antes de o entregarem a Lilith é extremamente erótica..É erótica, mas alegremente erótica. Não há nenhum carácter, digamos, mórbido nesse jogo. No fundo, é um jogo..Mas não achou que essas passagens, quatro ou cinco ao longo do livro, poderiam provocar mais escândalo do que um ataque à Igreja?.Não, e a prova está feita, pois ninguém lhes pegou. E encontra disso, páginas como essas, em qualquer romance. Não exactamente como estas, mas com a mesma direcção..Que, decerto, surpreendem os seus leitores habituais, pouco acostumados a esse registo literário um pouco mais explicito neste do que nos seus romances..Eu sou nessa matéria, como escritor, muito discreto. Nunca gostei de o escrever, mas neste caso apresentou-se-me assim, com essa força, e eu deixei-me ir atrás.