"Parece que o mundo descobriu Portugal"

Centenas de turistas esperam nas filas dos Pasteis de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Expandem-se pelas ruas até ao rio, são parte dos 27 milhões que se estima terem visitado Portugal este ano. E, para muitos, não é a primeira vez.
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O ano de 2019 fecha em alta no turismo - a previsão é que tenha ultrapassado 70 milhões de dormidas, para mais de 27 milhões de turistas. Portugal continua a somar prémios e recupera o mercado britânico, iniciando 2020 com boas perspetivas (já sem medos do Brexit, pelo que conseguimos perceber). O país está melhor e "sem perder as suas características", elogiam os turistas que enchem as ruas de Lisboa no último dia do ano.

A língua dominante nas zonas turísticas da capital é o inglês, mesmo que seja outra a língua materna. Como é o caso de Nathalie e Pierre Carrillo, ambos com 53 anos, franceses de Toulouse. Chegaram domingo, integrados num grupo que escolheu Portugal para festejar a passagem de 2019 para 2020, o que acontecerá numa tenda junto ao rio Tejo.

Nathalie e Pierre visitaram o país em 1992, numa viagem de três semanas, de norte a sul do país, ziguezagueando até pelo interior. "Ninguém conhecia Portugal, mesmo em França, Viemos à descoberta, não me lembro de todos os lugares, mas foram muitos. As pessoas não falavam inglês, como agora, comunicávamos numa mistura de espanhol com francês e lá nos fomos entendendo", conta Nathalie, que trabalha na empresa Airbus, com sede em Toulouse.

O casal viaja frequentemente, dentro e fora da Europa, faltava-lhe o regresso a Portugal que, "agora, toda a gente conhece", sublinha Nathalie. Foi Alfama que a fez voltar e não está arrependida, mesmo com as "grandes mudanças" de há 30 anos para cá. "As estradas estão melhores, as casas mais arranjadas, as pessoas continuam simpáticas mas falam inglês. E conseguiram manter o típico, os bairros, os elétricos, a comida".

A comida é o ponto forte para Pierre, gestor, sobretudo o frango no churrasco, mas também o peixe fresco e o marisco. Muitos turistas optam por alimentos do mar, salientando a frescura, o sabor e o baixo preço, quando comparado com as ementas dos seus países.

Pierre sente uma diferença muito grande desde a primeira vez que viu o país e continua encantado. "Melhorou o acolhimento dos turistas, é muito fácil comunicar, os restaurantes e hotéis estão bem preparados. Viemos em grupo, estamos sempre acompanhados, não percebemos se os transportes melhoraram, mas a impressão geral é muito positiva".

Britânicos, alemães, espanhóis, franceses e brasileiros

Os franceses estão em terceiro lugar entre os turistas estrangeiros - 1 milhão e 626 mil entre janeiro e setembro deste ano. Muitos escolheram a zona de Belém para passar este último dia do ano, viajando em regra pela primeira vez, como a maioria dos visitantes com quem o DN se cruzou. Os espanhóis são uma exceção, habituados a Portugal sempre que têm uns dias de folga - 2, 065 milhões já contabilizados este ano. O segundo maior grupo é o britânico, com 2, 029 milhões e, a seguir à França, surgem a Alemanha (1,626 milhões) e o Brasil (1, 582 milhões), completando-se assim o top 5 dos primeiros 9 meses de 2019.

O número de noites passadas no país indica-nos uma hierarquia ligeiramente diferente no que diz respeito à origem dos turistas estrangeiros. O Reino Unido está na frente (8,602 dormidas), seguindo-se a Alemanha (5, 264), a Espanha (4,775), a França (4,205 001) e o Brasil (2,529).

Hans, 55 anos, e Petra Hanusch, 53, alemães reformados, também conheceram Portugal há muitos anos, há 34,mais precisamente. Encontram, agora, menos diferenças entre a sua cidade, Munique, e Lisboa. Em 1985, conheceram um "país rural", numa viagem pela costa mediterrânica e que incluiu Espanha. "Estivemos aqui duas semanas, gostámos muito. É uma boa experiencia, um bom destino turístico, ficamos com uma boa impressão se compararmos com outros países, mesmo na Europa. E Lisboa parece-se mais com as cidades alemães, mais cosmopolita", justificam. Ficam cinco dias em Lisboa.

A 25.ª vez do brasileiro Alfredo

"Parece que o mundo descobriu Portugal", comenta Carla Rebelo, 45 anos arquiteta, habituada a viajar para terras lusas, já lhe perdeu o conto. É brasileira, tem cá amigos e, em geral, o país é uma porta de entrada na Europa, mas com direito a estada. "Há lugares que são só de passagem, outros que são para voltar, como é o caso de Portugal. É um país muito interessante, com um clima e muito bom e uma boa gastronomia, não só a comida portuguesa como a de outros países", salienta.

Conhece Portugal de norte a sul e, neste fim de ano, viaja com o filho, Daniel Porto, 22 anos, advogado, a namorada dele, Luísa Paes, 20 anos, estudante de Direito, e o marido, Alfredo Rebelo, 55 anos, administrador de hotéis. E que tem bem contadas as vezes que esteve em Portugal."É a 25. ª vez que piso a sua terra, já me sinto em casa. Tem muitas coisas que me atraem. Em primeiro lugar, a facilidade da língua, em segundo, a segurança. Depois, Lisboa é uma das cidades mais baratas da Europa, tem um clima favorável, boa hospitalidade, há uma série de fatores que nos fazem regressar", explica Alfredo.

A família é reincidente e, desta vez, espera a passagem para o Ano Novo, que será no Terreiro de Paço, para viajar até Roma, regressando para a semana a Alagoas, cidade do nordeste brasileiro, Com a certeza de voltar, talvez já em 2020. E um aviso: "Têm de fazer muita atenção, onde há muito turismo, há muita desgraça. E tem de pensar na qualidade de vida das pessoas que aqui moram".

Registaram-se 62,3 milhões de dormidas entre janeiro e setembro deste ano, mais 3,7 % do que o ano passado em igual período. As subidas foram mais notórias no que diz respeito às receitas, mais 7,7 %. Quero isto dizer que o aumento de procura provocou a subida de preços mas, também, que os hóspedes compram mais serviços. É esta a justificação de Elidérico Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

"Houve um acréscimo de 0,5 %. no número de dormidas no Algarve embora as receitas tenham subido 3%, o que pode significar a inclusão de mais serviços, por exemplo, a meia pensão, mas deve-se, essencialmente, ao aumento dos preços", diz Elidérico Viegas, salientando que são dados provisórios.

Uma estimativa que vem de encontro às contas da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) para 2019, que prevê um crescimento das receitas turísticas na ordem dos 7 %, atingindo os 18 mil milhões de euros. "Um valor acima da meta prevista para 2020 no documento Estratégia Turismo Portugal 2027 (valor superior do intervalo 16,3 mil milhões) e das previsões de 2016 do Turismo de Portugal", salienta Francisco Calheiro, presidente da Confederação.

Algarve domina as dormidas

Os hotéis estão com boas taxas de ocupação para o réveillon, muitas unidades na ordem dos 100 % na regiões do Algarve e da Madeira, segundo os hoteleiros locais. E Portugal a continuar a arrecadar prémios: 12 galardões nos World Travel Awards, incluindo o de melhor destino para se visitar, as notícias podem continuar boas para o setor, Este ano, o Algarve recuperou algum do mercado britânico, que detém 31 % das dormidas e ocupa o primeiro lugar nas preferências do turista estrangeiro em terras algarvias. Seguem-se os portugueses (20,3 %), os alemães (10,3 %) e os holandeses (6,3 %).

O peso do mercado britânico no Algarve é tão grande que deu para compensar as quebras de 11,7 % de visitantes alemães e de 10 % de holandeses.

"Foi divulgado um destino que indica que Portugal vai perder 6% do mercado britânico, não acredito nisso. Acho, até, que o país vai ganhar, uma vez que a saída do Reino Unido vai ser com acordo e ganham os destinos turísticos mais próximos, como é o nosso caso. Esse estudo é feito com base nos operadores e agências de viagens e, cada vez mais, as pessoas marcam os hotéis, não só porque se tornou mais fácil através da internet, mas porque as agências estão desacreditadas, até devido ao que se passou com a Thomas Cook [a agência faliu este verão, deixando muitas reservas por satisfazer]. Sentimos uma recuperação de 4,3 % do mercado britânico, depois de dois anos de sucessivas quebras", explica Elidérico Viegas.

O Algarve é a região do país com um maior número de dormidas. 14,8 milhões nos primeiros três trimestres deste ano, segue-se Lisboa com 12,7 milhões e o Norte e a Madeira, na casa dos 5,7 milhões.

Algarve foi o destino de eleição da escocesa Pat Tannahaw, 72 anos, em 2000, numas férias passadas na praia. Isto na segunda vez em que visitou o país, já que, na primeira, esteve em Lisboa, tal como este ano. "Estive cá há muito tempo, sou administrativa hospitalar e vim numa visita escolar, dar apoio. Não me lembrava de muita coisa e Lisboa está muito diferente. Mas continua bonita e com pessoas muito simpáticas".

Chegou no domingo e regressa à Escócia na sexta-feira, depois de festejar o réveilon num restaurante. Se vai voltar? "É muito possível".

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