Para Hugo e Clarisse a comida era um lobo disfarçado de cordeiro

Portugal tem um milhão de adultos obesos e 3,5 milhões de pré-obesos. O DN conta-lhe a história de dois doentes
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Hugo Mestre Amaro, 38 anos, compara-se àquilo que imagina ser a sensação de um viciado em heroína: "alguém que se tentava curar com o veneno". Para ele, o veneno era a comida. Croissants, tostas, coxinhas, folhados e três sumos de laranja por dia. Clarisse Santos, 53 anos, não se fazia rogada a nada. "Mas tinha uma predileção por queijo, enchidos, salada de polvo e de orelha e pão para molhar nos molhos". Portugal tem um milhão de obesos e 3,5 milhões em pré-obesidade. Para muitos esta é uma batalha ganha de uma luta que não tem fim. Hoje assinala-se o Dia Nacional e Europeu da Obesidade.

Hugo chegou a pesar 100 quilos. Hoje está nos 70. Não precisou de nenhuma operação, porque não chegou a ter obesidade grave, mas de um plano alimentar, de exercício e de treino emocional, que classifica de fundamental. "Dá-nos perspetiva e ajuda a antecipar sentimentos. Sou muito menos ansioso." Este é um programa de dois anos. Foram seis meses para chegar a este peso. Agora está na fase de manutenção.

Para Clarisse foi preciso ver as fotografias que as amigas tiraram para acreditar que estava mais magra. "Olhava para o espelho e não via a realidade. Foi bom olhar para as fotos. Pareço mais nova", conta. Tem 53 anos e foi na véspera de os fazer, em fevereiro, que foi operada pela terceira vez. Passou pela colocação de uma banda gástrica, depois um bypass e agora o sleeve, que consiste no corte de parte do estômago. Come pequenas quantidades, o almoço é do tamanho de um pires de uma chávena de chá. Tudo tem de ser feito com muito cuidados. Está com 76 quilos. Mas chegou a pesar 136. "Há dez anos vestia uma saia de tamanho 60, agora visto umas calças 42", diz.

Davide Carvalho, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, acredita que vai ser possível vencer a epidemia do século XXI. "Temos de apostar na prevenção: modificar estilos de vida, alimentação, na ingestão de água. Os médicos de família são os primeiros combatentes e os grandes motores da mudança", diz. Hoje o organismo debate o efeito do urbanismo na doença, numa conferência no Ginásio Clube Português.

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