Papa reconhece "virtudes heroicas" da irmã Lúcia e abre caminho à beatificação

A declaração de reconhecimento das virtudes heroicas da irmã Lúcia é para o Santuário de Fátima um motivo de "alegria carregada de responsabilidade". Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou, também, "grande alegria" pela aprovação.
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O Papa Francisco aprovou esta quinta-feira, a publicação do decreto que reconhece as "virtudes heroicas" da vidente de Fátima Lúcia de Jesus, abrindo caminho para a sua beatificação, informou o Santuário de Fátima.

A aprovação do decreto ocorreu após uma audiência concedida pelo pontífice ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, durante a manhã, informou a Sala Stampa do Vaticano.

A irmã Lúcia, a mais velha dos três videntes de Fátima, é considerada pelos responsáveis do santuário da Cova da Iria como a "figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições", em 1917.

Em nota publicada na sua página na Internet, o Santuário de Fátima sublinha que a aprovação do decreto que reconhece as "virtudes heroicas" é um "passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade".

"Para a beatificação, exige-se o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão da agora venerável Lúcia de Jesus", acrescenta a nota, dando conta de que, "no santuário de Fátima, esta manhã, os sinos tocaram a repique, em sinal festivo pela 'alegria deste momento', como referiu o reitor, padre Carlos cabecinhas, que presidiu a uma oração espontânea na Capelinha das Aparições, na qual participaram funcionários, voluntários e peregrinos".

O decreto com as virtudes heroicas da Irmã Lúcia deverá ser lido na presença do bispo de Coimbra, que chancelou o processo na sua fase diocesana, em data oportuna, informa ainda o Santuário de Fátima.

Lúcia de Jesus nasceu a 28 de março de 1907, em Fátima. Após a morte dos primos -- os santos Francisco e Jacinta Marto --, Lúcia ingressou no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia em 1925, onde permaneceu até 1948.

O seu percurso como Religiosa Doroteia foi maioritariamente vivido em Espanha, onde teve as duas Aparições que completam o ciclo da mensagem de Fátima, com os pedidos da Devoção dos Primeiros Sábados (1925), em Pontevedra, e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929), em Tuy.

"Ainda durante este tempo, por ordem do Bispo de Leiria, escreve as suas primeiras Memórias, dando assim início a um dos meios através do qual divulgará a mensagem de Fátima: a sua obra escrita", segundo as suas notas biográficas.

Entrou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, a 25 de março de 1948, onde permaneceu até à sua morte, 13 de fevereiro de 2005.

O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, considerou que a aprovação pelo Papa do decreto que reconhece as "virtudes heroicas" da Irmã Lúcia é uma "alegria" para os que "amam Fátima e se deixam inspirar pela presença de Maria".

"Primeiro porque os pastorinhos não ficariam completos sem Lúcia, mas sobretudo porque foi ela que deu a conhecer as memórias de todo o acontecimento de Fátima", disse o prelado em declarações divulgadas pelo Santuário de Fátima.

Para José Ornelas, "Lúcia é o exemplo do efeito da mensagem de Fátima junto de quem se aproxima dela, numa vida entregue a Deus".

O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa adiantou que, "se os dois primeiros pastorinhos [Francisco e Jacinta] representam a idade da infância, aqueles que foram objeto do especial carinho de Maria, Lúcia representa a idade adulta, a idade da razão, das memórias meditadas, amadurecidas e transmitidas pela sua própria pena".

Por sua vez, para o cardeal António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, a irmã Lúcia foi "portadora de uma mensagem que interiorizou na sua própria espiritualidade", destacando a "forma discreta e humilde" como Lúcia viveu "o seu amor a Deus, a Nossa Senhora, à Igreja e a toda a humanidade".

"Esta sua espiritualidade, santidade e virtudes são muito humanas: ela não era uma extraterrestre, não vivia fora da nossa órbita; foi humana e muito feminina, uma mulher inteligente e perspicaz, desembaraçada e solidária, cheia de alegria e humor contagiante como testemunham as irmãs do Carmelo", acrescentou Antonio Marto, que integra o Dicastério para as Causas dos Santos.

O cardeal, também citado na página do Santuário de Fátima, destacou ainda a dimensão "histórica e universal da santidade" que este momento significa.

"Esperamos agora que surja depressa um milagre para podermos participar na grande festa da sua Beatificação e Canonização", acrescentou António Marto.

Já o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, afirmou que Lúcia de Jesus "foi uma figura marcante no século XX português, uma figura marcante na Igreja apesar da sua vida discreta".

A declaração de reconhecimento das virtudes heroicas da irmã Lúcia é para o Santuário de Fátima um motivo de "alegria carregada de responsabilidade", afirmou o sacerdote, para quem "é o reconhecimento de Fátima como escola de santidade e a mensagem de Fátima como um caminho de comunhão com Deus e é isso que vemos espelhado na vida da irmã Lúcia, o que nos responsabiliza para melhor dar a conhecer a vida da irmã Lúcia".

Também a vice-postuladora da Causa de Beatificação e Canonização da Irmã Lúcia sublinhou que "Lúcia reúne em si toda a espiritualidade da mensagem de Fátima e também a espiritualidade do Carmelo; mas é uma figura que ultrapassa os limites deste espaço físico de Fátima e do Carmelo, porque Lúcia é uma figura universal".

"Creio que pode ser uma fonte inspiradora para tantos de nós que caminhamos em busca do Senhor, que passamos por momentos difíceis, por momentos confusos", acrescentou a irmã Ângela Coelho.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou esta quinta-feira "grande alegria" pela aprovação pelo Papa Francisco do decreto que reconhece as "virtudes heroicas" da Irmã Lúcia de Jesus, uma das três videntes de Fátima.

O episcopado católico português sublinha, em nota citada pela agência Ecclesia, que a decisão do Vaticano é um "passo importante" para a beatificação da religiosa carmelita que morreu em 2005.

"Neste momento de jubilosa celebração, a Conferência Episcopal manifesta particular sintonia com a Ordem dos Carmelitas Descalços e com o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, desejando que o processo em curso, na oração e no estudo, conduza brevemente à Beatificação da Irmã Lúcia", acrescenta a nota da CEP.

Os dois outros videntes de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, foram canonizados pelo Papa Francisco, na Cova da Iria, em 13 de maio de 2017, no centenário das aparições.

Os responsáveis pelo processo para a beatificação da irmã Lúcia consideraram que, com a aprovação decretada esta quinta-feira, a causa ganha "um novo impulso" com o reconhecimento pelo Papa das "virtudes heroicas" da vidente de Fátima, faltando um milagre que permita beatificá-la.

"Com este novo passo no caminho rumo à santidade, a Venerável Lúcia de Jesus é reconhecida pela Igreja na prática heroica das virtudes, bem como na autenticidade do seu caminho espiritual. A Causa ganha, assim, um novo impulso, esperando-se agora um milagre que, uma vez aprovado, levará à sua Beatificação e, um outro que levará à Canonização", adiantam os responsáveis pela Causa de Beatificação da Irmã Lúcia, numa nota divulgada na sua página na Internet.

"A partir deste momento, a Lúcia passa a ser reconhecida como Venerável", escrevem os responsáveis pelo processo na nota divulgada esta quinta-feira.

A etapa do processo que levou à aprovação, começou em 13 de outubro de 2022, com "a entrega da Positio, no Dicastério para as Causas dos Santos, no Vaticano", recordam.

O conteúdo daquele documento, com cerca de 2.000 páginas e dividido em dois volumes, "foi lido e estudado por nove teólogos que, reunidos em Congresso, o aprovaram por unanimidade", adianta a nota.

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