Papa envergonhado com "crimes repugnantes" de abusos na Irlanda

Francisco está hoje e amanhã na República da Irlanda, onde a Igreja tem vindo a perder força por causa dos escândalos, e no primeiro discurso reconheceu como a instituição foi incapaz de lidar com os abusos sexuais
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O Papa Francisco admitiu, no primeiro discurso oficial na República da Irlanda, que o fracasso da Igreja Católica em lidar com os "crimes repugnantes" de abusos sexuais perpetrados por membros do clero "continua a ser uma fonte de dor e vergonha" para a comunidade católica. "Eu próprio partilho estes sentimentos", afirmou.

"Não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelo abuso de jovens por membros da Igreja responsáveis pela sua proteção e educação", disse o Papa na receção às autoridades, no castelo de Dublin, duas horas depois de ter chegado à República da Irlanda para a primeira visita papal em 40 anos ao país. A visita, por ocasião do Encontro Mundial de Famílias, termina amanhã.

"O fracasso das autoridades eclesiásticas - bispos, superiores religiosos, padres e outros - em lidar adequadamente com estes crimes repugnantes deu origem, justamente, ao ultraje e continua a ser uma fonte de dor e vergonha para a comunidade católica", afirmou Francisco. "Eu próprio partilho estes sentimentos", admitiu.

Os temas de abusos sexuais prometiam marcar a visita do Papa à Irlanda, um país que em 40 anos viu o número de católicos cair de 93% da população para 78%. A perda de crentes justifica-se em parte pelos escândalos que rodearam a Igreja na Irlanda, um país que em 2015 foi o primeiro a, num referendo popular, aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (a homossexualidade foi crime até 1993 mas o atual primeiro-ministro, Leo Varadkar, é gay assumido) e que, já neste ano, também por voto popular, decidiu mudar a lei para legalizar o aborto.

Apelos à justiça

O primeiro-ministro apelou precisamente ao papa para usar a sua "posição" e influência para garantir que seja assegurada "justiça" às vítimas de abusos cometidos pelos membros da igreja "no mundo inteiro"

"As feridas estão ainda abertas e há muito a fazer para que as vítimas e os sobreviventes obtenham justiça, verdade e recuperação. Santo Padre, peço-lhe que use a sua posição e influência para que assim se cumpra aqui na Irlanda e no mundo inteiro", declarou Varadkar.

Antes da receção, o Papa foi recebido pelo presidente Michael D. Higgings, que também chamou a atenção do líder da Igreja Católica para a problemática dos abusos.

"O presidente Higgins falou a Sua Santidade do imenso sofrimento e dor causados pelos abusos sexuais de crianças perpetrados por alguns membros da Igreja Católica. Ele falou da raiva que lhe tem sido transmitida em relação ao que as pessoas acreditam ser a impunidade gozada por aqueles que tinham a responsabilidade de levar esses abusos às autoridades apropriadas e que não o fizeram", segundo um comunicado do gabinete da presidência.

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