Papa e rei marroquino pedem preservação de Jerusalém como símbolo de paz

Francisco e Mohamed VI assinaram um documento que apela à preservação de Jerusalém como um "símbolo de coexistência pacífica", um património mundial e um local de encontro e culto para as três religiões monoteístas.
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O Papa Francisco e o Rei Mohamed VI assinaram este sábado um documento que apela à preservação de Jerusalém como um "símbolo de coexistência pacífica", um património mundial e um local de encontro e culto para as três religiões monoteístas.

A assinatura do documento ocorreu no início do primeiro dia da visita oficial do papa a Marrocos, após a reunião de Francisco e Mohamed VI realizada no palácio real.

"Acreditamos que é importante preservar a Cidade Santa de Jerusalém como património comum da humanidade e, sobretudo, para os fiéis das três religiões monoteístas, como lugar de encontro e símbolo da coexistência pacífica, onde se cultiva o diálogo e o respeito mútuo", de acordo com o texto assinado.

Neste apelo, Francisco e Mohamed VI também pedem para que se preserve e promova o caráter "multirreligioso específico, a sua dimensão espiritual e a peculiar identidade cultural de Jerusalém".

É também pedido que "na Cidade Santa se garanta a plena liberdade de acesso aos fiéis das três religiões monoteístas e o direito de cada um a exercer ali o seu culto".

Em várias ocasiões, Francisco pediu que se respeite o estatuto atual desta cidade, conforme as resoluções pertinentes das Nações Unidas, observando que Jerusalém "é uma cidade única, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, que venera os lugares santos das respetivas religiões e tem uma vocação especial para a paz".

Migração não se resolve com barreiras, diz Papa

O Papa disse, em Rabat, que o fenómeno da migração não se resolve com a construção de barreiras ou negando assistência e defendeu a busca de meios para erradicar as causas que forçam essas pessoas a deixarem os seus países

Na esplanada da Torre Hassan, depois de ouvir o rei, o Papa declarou que a migração "nunca encontrará solução na construção de barreiras, na difusão do medo dos outros ou negando assistência para aqueles que aspiram a uma melhoria legítima para si e as suas famílias".

"Vós sabeis quanto me preocupa a sorte, muitas vezes terrível, dessas pessoas que em grande parte não deixam os seus países se não fossem obrigadas a fazê-lo", disse Francisco no seu discurso, sendo aplaudido em várias ocasiões pelos milhares de pessoas presentes, apesar da chuva incessante.

Lembrou que, em dezembro passado, foi realizada a conferência para um pacto mundial por uma migração segura, ordeira e regular e que um documento foi aprovado, o Papa disse que "ainda há muito a ser feito".

Francisco sublinhou que "é necessário passar dos compromissos assumidos neste documento" para uma "mudança de disposição para com os migrantes, afirmando-os como pessoas, não como números, reconhecendo os seus direitos e a sua dignidade nos factos e nas decisões políticas".

No seu entender a "grave crise migratória que se está a viver" é um "apelo urgente para que todos possam buscar meios concretos para erradicar as causas que forçam muitas pessoas a deixarem o seu país, a sua família e se encontrarem fortemente marginalizadas, rejeitadas".

Francisco pediu a Marrocos -- que, segundo as Nações Unidas, atualmente tem 80 mil migrantes subsaarianos, muitos deles a viver em campos de refugiados após a tentativa de chegar a Espanha - que continue a ser "um exemplo de humanidade para os migrantes e os refugiados".

Francisco, o segundo papa a visitar Marrocos depois da viagem de João Paulo II em 1985, também sublinhou no seu discurso que o objetivo de sua visita é "promover o diálogo inter-religioso e da compreensão mútua entre os fiéis de nossas duas religiões".

A partir desta "ponte natural entre a África e Europa", o Papa sublinhou a importância do diálogo entre as religiões para acabar com "mal-entendidos, máscaras e estereótipos que sempre levam ao medo e às contraposições, e assim, abrir o caminho para um espírito de colaboração fecunda e respeitosa".

O Papa argentino, que já visitou dez países muçulmanos, congratulou-se com todas as iniciativas para travar "a instrumentalização das religiões para incitar o ódio, a violência e o extremismo ou fanatismo cego e para deixar de usar o nome de Deus para justificar atos de homicídio, exílio, terrorismo e opressão".

No seu discurso, Francisco também lançou uma mensagem sobre a liberdade religiosa, dizendo que não se deve limitar somente à liberdade de culto, mas que cada um possa "viver segundo a própria convicção religiosa, que está inseparavelmente unida à dignidade humana".

O Papa chegou este sábado a Rabat para iniciar uma visita de dois dias, quase 33 anos depois da visita que realizou João Paulo II, em 1985, a este país africano.

Francisco foi recebido pelo rei Mohamed VI, que estava acompanhado pelo príncipe herdeiro Moulay Hassan, e pelo irmão do monarca, o príncipe Moulay Rachid.

O diálogo interreligioso e uma aproximação à comunidade cristã marroquina são os temas que irão marcar a visita de Francisco a Marrocos, a convite do rei Mohamed VI.

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