"Pai de Álvaro Cunhal foi o professor que me marcou"
Ainda se lembra da sua primeira escola?
Lembro-me perfeitamente da escola primária, que era uma escola à [Calçada da] Estrela - o Lar da Criança. Uma escola onde andavam também Marcelo Rebelo de Sousa, o Eduardo Barroso e muitos outros colegas. Aliás, foi aí, na escola primária, que começou uma amizade com vários deles que felizmente continua até aos dias de hoje.
E um professor ou uma professora que o tenha marcado nessa escola?
A professora mais marcante era a diretora, Berta Ávila de Melo. Associava a qualidade pedagógica à disciplina e ao rigor, ao mesmo tempo também à abertura e à inovação. Era uma diretora que também dava aulas, superintendia e coordenava toda a atividade da escola.
E depois do ensino primário?
Fiz o então primeiro ciclo do liceu no Pedro Nunes, também em Lisboa, e depois a partir do terceiro ano do liceu estudei no Colégio Valsassina até ao fim. Nesse colégio, Avelino Cunhal, pai de Álvaro Cunhal, foi o professor que mais me marcou na altura. Era um professor de História, de Filosofia, ao mesmo tempo um escritor, um pintor, um homem com múltiplas dimensões, um homem de cultura, diria, que muito influenciou a minha formação no ensino secundário.
Foi sempre bom aluno ou evoluiu nesse sentido ao longo do seu percurso de estudante?
Fui um aluno normal no ensino primário e secundário e depois fui evoluindo. Fui bom aluno na faculdade [de Medicina da Universidade de Lisboa]: acabei o curso de Medicina com distinção.
Quem foram os seus mestres na Faculdade de Medicina?
Na faculdade e na especialização, entre as figuras de professores que me terão marcado, o nome que mais me vem à memória é Arnaldo Sampaio. Também é pai de uma figura pública, veja lá, de Jorge Sampaio. Creio que posso dizer que fui aluno e discípulo de pais de figuras públicas.
Também dá aulas. É uma atividade que lhe dá prazer, essa transmissão de conhecimentos às novas gerações?
Sou professor convidado da Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa. Gosto muito de o fazer . Dá-me muito prazer essa transmissão de conhecimentos. Mas faço-o de uma maneira ligada aos problemas atuais da Direção-Geral da Saúde. Trata-se de uma escola de formação pós-graduada, para futuros especialistas, e o que faço é essa ponte, as ligações entre a formação e os problemas vividos na Direção-Geral da Saúde. São alunos de mestrados e doutoramentos.
Como vê a educação dos nossos dias em comparação com a que existia nos seus tempos de estudante?
Está melhor, muito melhor. O ensino é outra realidade, não tem comparação, em todas as áreas. Nos meus tempos de estudante, alguns estratos sociais pura e simplesmente não iam para as escolas. Agora a escola é mais aberta, mais democrática, há mais opções. Estudei antes de 1974...
E a qualidade dos professores também melhorou nestes quase 40 anos?
Isso depende de escola para escola, mas seguramente que Portugal avançou muito nestas décadas. Era um país com problemas na educação e isso traduzia-se na taxa de analfabetismo muito elevada. Não há comparação alguma entre a realidade de então e os dias de hoje.