Pacheco era amigo de burlão mas nunca entregou dinheiro

Ricardo, Jorge Couto e Sérgio Leite são alguns dos ex-jogadores do Boavista enganados
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O antigo treinador do Boavista lembra-se bem do homem que quarta-feira foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) suspeito de ter burlado vários jogadores, como o guarda-redes Ricardo, Jorge Couto e Sérgio Leite, em milhões de euros. "Éramos amigos de circunstância mas a ele nunca entreguei para investimentos qualquer dinheiro", afirmou ao DN Jaime Pacheco.

O treinador lembra-se bem de ver José Carlos Sousa Martins, de 42 anos, com os jogadores do Boavista durante o período em que foi treinador do clube axadrezado. "Ele andava sempre com eles e nessa altura eu não o conhecia, porque geralmente não entrava nesse convívio", explica Jaime Pacheco. Foi só mais tarde, quando abandonou o clube, que ficaram mais próximos, embora nunca tenham sido grandes amigos. Jaime Pacheco sabia apenas que "Ricardo" Martins, como se intitulava, tinha dinheiro. Através da identidade falsa, o detido dizia no meio que era filho do proprietário da cadeia de supermercados Jerónimo Martins.

Se até os funcionários da loja Pingo Doce da Boavista acreditavam na versão inventada por José Carlos, ao ponto de lhe chamarem patrão, muito menos os jogadores desconfiavam, até porque sempre se habituaram a ver "Ricardo" com bons carros e a viver num apartamento, na Avenida do Bessa, que custara 650 mil euros. No mesmo edifício chegou a morar o guarda-redes Ricardo.

A mulher, também relacionada no meio social portuense e através da qual o marido utilizou para obter os contactos que pretendia, fazia compras nas lojas mais caras do Centro Comercial Avis, as mesmas onde iam as mulheres do jogadores. O esquema fraudulento passava por prometer lucros em negócios imobiliários, em muitos casos a cem por cento, através de juros muito superiores aos praticados pela banca. "Gastador compulsivo", dos cerca de dez milhões que se suspeita ter recebido, tudo gastou em proveito próprio, em carros de alta cilindrada, apartamentos, casas de diversão nocturna, casinos e viagens. Muitas das festas em bares eram organizadas na presença dos burlados, que eram convidados e ali consumiam sem saber que a despesa seria paga com o seu dinheiro.

"Fazia parte do grupo" e Jaime Pacheco até brinca e diz que o burlão "merecia uma medalha por durante tanto tempo enganar quem bem o conhecia".

A mesma opinião não tem Nuno Baptista, irmão de Hélder, que também jogou no Boavista, e que durante largos anos manteve uma sociedade com "Ricardo" Martins, com quem era empresário de jogadores. Até há pouco mais de um ano, altura em que começou "a notar que algumas coisas não batiam certo". Foi nessa altura que o empresário se apercebeu de que se encontrava ligado a uma "pessoa que não era o sócio que julgava". Também ele é um dos lesados por "Ricardo" Martins.

Na PJ existe queixa de pelo menos dez pessoas que terão feito entregas de dinheiro ao detido no montante de três milhões de euros. Sabe-se que dois milhões desse montante foram gastos por José Carlos, que guardava o restante milhão para ir pagando às vítimas que iam investindo, de modo a manter o estratagema. Mas como diz Nuno Baptista, "as coisas começaram a correr mal" ao ponto de nos últimos meses o indivíduo se ter refugiado no Brasil. Foi apanhado agora mal colocou os pés em solo português.

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