Os tempos de Manuel Teixeira Gomes

A primeira ficção portuguesa de 2017 é um intrigante retrato do antigo presidente e escritor. Com um sublime Sinde Filipe
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Boas intenções de uma certa ideia de cinema português que pensa em público vasto costumam meter medo, sobretudo nas cinebiografias. Só de se pensar em Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus, de João Correa e Francisco Manso, ficamos arrepiados. A boa vontade de contar histórias de portugueses extraordinários não chega e, por norma, estes objetos são de uma secura televisiva ou de uma insipidez narrativa afrontosa. Nesse sentido, Zeus, primeira obra de Paulo Filipe Monteiro, homem do teatro e argumentista, é uma boa surpresa.

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O último terço da vida de Manuel Teixeira Gomes, o sétimo presidente da República portuguesa, é intercalado com uma das suas histórias literárias, Maria Adelaide, um episódio romanesco situado no Algarve com fortes ressonâncias biográficas. A câmara acompanha ainda a desistência deste presidente do poder e a sua partida para o Norte de África num cargueiro chamado Zeus. Teixeira Gomes apaixonou-se pelo deserto e veio instalar-se na Argélia, em Bougie, onde residiu durante anos num hotel e se entregou à literatura.

O filme tem qualquer coisa muito forte sobre a amargura portuguesa e é expedito na sua narrativa dividida entre períodos. A exposição política da altura - Portugal nos anos 20 - diz também muito sobre a atual política nacional. Um desnorteante jogo de espelhos onde a serenidade ou, melhor, a majestosidade de Sinde Filipe parece ser sempre essencial.

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