Há um ano, quando Constança Urbano de Sousa deixou o Ministério da Administração Interna, António Costa explicou as suas reticências no que toca a remodelar o Governo: "A ideia de que os problemas se resolvem por mudarem de ministros... Os ministros alteram-se mas os problemas mantêm-se". Desta vez, o primeiro-ministro não pensou assim..O problema principal estava na Defesa, e a escolha de João Gomes Cravinho para o lugar revela uma intenção - ter na pasta, numa situação complexa e potencialmente grave para as Forças Armadas, um ministro com experiência política e capacidade de negociação..Para a Economia, e para a Cultura, António Costa parece mesmo querer resolver problemas, substituindo os ministros. Pedro Siza Vieira e Graça Fonseca, que passam a liderar essas pastas, têm em comum uma característica: são muito próximos do primeiro-ministro. Vão tutelar duas áreas, que não sendo prioritárias na acção do Governo, eram até agora criticadas pela falta de peso interno dos seus ministros..Essa situação muda, agora..No caso da Economia, a mudança cria um problema adicional. Pedro Siza Vieira, que pediu escusa, nas suas funções, de intervir em assuntos relacionados com energia - por ter sido sócio da sociedade de advogados que representa o maior accionista da EDP, a empresa China Three Gorges. Por isso, e mesmo que a possível incompatibilidade de Siza Vieira ainda esteja a ser avaliada pelo Tribunal Constitucional (por ter assumido funções no Governo quando ainda era sócio gerente de uma empresa imobiliária familiar), os assuntos energéticos mudam para o Ambiente..Em plena investigação da Comissão Europeia ao prolongamento da concessão das barragens à EDP, e enquanto dura a Comissão de Inquérito às rendas excessivas, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, também é remodelado. O que não deixa de ser um sinal de que António Costa quer mudar governantes para resolver problemas. Neste caso, a relação difícil entre o secretário de Estado e a EDP..No entanto, a mudança mais difícil de explicar - se não foi um pedido de Adalberto Campos Fernandes - é a da Saúde. O ministro que sai não era popular, e tutelava uma das áreas mais expostas às críticas, dentro e fora da "geringonça". Mas demonstrava ter, desde as negociações iniciais dos acordos de esquerda, em 2015, um peso especial no Governo. Política e tecnicamente, Campos Fernandes é uma baixa de peso para António Costa.