"Os khans do Cazaquistão são descendentes diretos de Jochi Khan, o fundador da Horda Dourada"

Como país independente, o Cazaquistão está prestes a celebrar 30 anos. Qual é a origem do povo cazaque?

O povo cazaque, como muitas outras nações, passou por processos históricos complexos. Várias nações viveram nas terras do Cazaquistão, no centro da Eurásia. Os povos pertencentes ao sistema histórico e cultural androniano, as tribos Saka, Hun, Sarmat, Wusun e Kangla habitaram esta terra na Idade do Bronze e na Idade do Ferro, respetivamente. Hoje ligamos diretamente o antigo guerreiro saka, o "Homem Dourado", com a história do Estado do Cazaquistão. Este monumento descoberto em 1969-1970 pelo famoso arqueólogo K. Akishev nos arredores da cidade de Issyk, região de Almaty, pertence ao século V. A singularidade do "Homem Dourado" decorado com mais de quatro mil joias em ouro é que cada detalhe mostra não apenas a grande habilidade dos nossos ancestrais, mas tem também um significado sagrado e profundamente filosófico.

O mais significativo entre os achados no túmulo de Issyk foi a descoberta de uma pequena taça de prata com uma inscrição rúnica. Esta inscrição é de origem turca. O próprio conceito de "runas" significa "mistério". A inscrição na taça de prata consiste em 26 caracteres em duas linhas horizontais. É possível reconhecer na inscrição 16 ou 17 caracteres diferentes e isso atesta o caráter alfabético da escrita. De acordo com os cientistas, é mais provável que a inscrição deva ser lida da direita para a esquerda, e a primeira linha, superior, é a mais longa. Existem diferentes opiniões e hipóteses sobre o que esta inscrição significa, mas os cientistas ainda não chegaram a um consenso, mas gostaria de me referir aqui à versão da tradução do cientista azeri Zaur Hasanov. "A tribo Syngly glorifica quatr o(ângulos) lados da luz. Três centenas saúdam e cantam o juramento."As informações científicas obtidas na análise dos achados do cemitério de Issyk comprovam o mais alto nível de desenvolvimento das relações socioeconómicas, da cultura e da arte dos nossos ancestrais. O "Homem Dourado", intimamente associado à etnogénese do povo cazaque, tornou-se um símbolo do Cazaquistão independente. A imagem de cavalos alados (tulpars) no elmo de um guerreiro saka tornou-se parte do brasão de armas nacional do país.

Ainda hoje os cazaques falam uma língua turca, ou túrquica, aparentada com outras da àsia Central como os vizinhozs usbeques mas também com o turco e o azeri, de países bem mais a Ocidente. É forte o sentimento de pertença ao mundo turco?

O povo turco medieval teve uma influência especial na etnogénese do povo cazaque. O século VI d.C. é o período em que a prosperidade do canato turco começou. Assim, no período dos séculos VI ao XIII, os estados de nações medievais de língua turca como Turcos, Turgexes, Karluqs, Kimaks, Oguzes surgiram no território do moderno Cazaquistão. O povo turco desempenha um papel especial na história mundial. Os turcos desenvolveram a sua própria cultura de escrita. Um dos argumentos são as inscrições Kultegin. As primeiras informações sobre o monumento foram publicadas no século XIX. O cientista dinamarquês Wilhelm Thomsen provou, em 1893, que as inscrições foram feitas na antiga língua turca e as primeiras palavras que leu foram "tengri" e "turco". Dois monumentos sobre o túmulo de Kultegin receberam nomes científicos: "Pequena inscrição" e "Grande inscrição". Cada um deles pode ser chamado um poema heroico que glorifica as campanhas militares de Kultegin, o lendário comandante militar do Estado turco. Em meados do século X foi estabelecido o Estado Carâcanida. A unificação das tribos turcas no século XI levou ao surgimento da região histórica da Eurásia - Desht-I-Kipchak [estepe Kipchak]. O Estado da Horda Dourada, que se tornou o berço de ouro do Estado do Cazaquistão, ocorreu aqui mesmo.

Horda de Ouro, os representantes mais ocidentais do antigo império de Genhis Khan ?

Os resultados de estudos paleogenéticos mostraram que apenas os cazaques são geneticamente próximos dos aristocratas da Horda Dourada. Humanidades, literatura e artes aplicadas desenvolveram-se nas capitais da Horda Dourada: Saray-Batu (próximo da moderna Astracã na Federação Russa), Saray-Berke (próximo da moderna Volgogrado na Federação Russa) e Saraishyk, Sauran, cidades de Syganak e outras. Os cientistas estudaram os trabalhos de Abu Nasr al-Farabi, Avicenna, Biruni, S.Bakyrgani e também conduziram investigações separadas. A Horda Dourada era de grande importância entre o povo da Eurásia. Podemos dizer com orgulho que os cazaques são os herdeiros legítimos da Horda Dourada. O último estágio da formação do povo cazaque está associado ao colapso da Horda Dourada nos séculos XIV-XV. Depois de Estados separados, como a Horda Branca (AkOrda), a Horda Nogai e o uzbeque Khanatearose. Por sua vez, os sultões Zhanibek e Kerey, que procuravam criar um país independente, mudaram-se de Syrdarya para Semirechye oriental, onde em 1465 fundaram o Canato Cazaque. Naquela época formou-se uma única língua, que mais tarde ficou conhecida como cazaque. Oatual Presidente da República do Cazaquistão K-J. Tokayev salientou: "A Horda Dourada está incluída no código cultural dos cazaques, portanto, é necessário usar a história e a herança de Ulytau para educar a geração mais jovem no espírito de patriotismo e amor pela pátria". O Museu Nacional da República do Cazaquistão abriu um novo salão dedicado a Ulug Ulys, onde o estudo conceptual da história da era do império de Genghis Khan e da Horda Dourada (Ulus Jochi, Ulug Ulus) é, para nós, um importante segmento medieval da história nacional do nosso Estado. Os khans do Cazaquistão são descendentes diretos de Jochi Khan, o fundador da Horda Dourada. Zhanibek e Kerey, os fundadores do Canato do Cazaquistão, bem como todos os governantes subsequentes até o último khan do Quénia, pertenciam ao ramo Urusid da dinastia Chingisids. O seu ancestral Urus Khan é um dos governantes da Horda Dourada do século XIV. O Canato do Cazaquistão como o primeiro Estado soberano e independente dos cazaques, apareceu quase ao mesmo tempo que os Estados importantes da Europa (França, Espanha, Portugal) começaram a surgir. Vale a pena salientar que a história do Cazaquistão e a de Portugal têm muito em comum. Em primeiro lugar, os cazaques e os portugueses, ao longo da sua formação, passaram por muitos processos históricos. Por exemplo, se os celtiberos, germanos e mauros influenciaram a etnogénese dos portugueses, os saks, hunos, turcos, oguzes e tantos outros deixaram marcas na formação do povo cazaque. Em segundo lugar, tanto o povo cazaque como os portugueses são povos que foram sujeitos à opressão colonial. Se os cazaques do século XVII se tornaram uma colónia do Império Russo, Portugal no século XVI estava sob o domínio de Espanha. Portanto, ambas as nações entendem perfeitamente o valor da liberdade e da independência. Em terceiro lugar, os cazaques e os portugueses no início do século XX mudaram do regime monárquico para o republicano e, ao mesmo tempo, entraram numa nova vida. A primeira República Portuguesa foi formada como resultado da revolução de 1910 e o povo do Cazaquistão mudou para um novo sistema republicano após a Revolução de Outubro de 1917. Assim, falando do facto de o Cazaquistão e Portugal terem passado por longos processos históricos, podemos dizer com orgulho que a 19 de Agosto de 1992, ambos os países estabeleceram relações diplomáticas pela primeira vez. As relações de amizade entre o Cazaquistão e Portugal têm-se fortalecido desde então e continuam até hoje.

Como é visto no Cazaquistão o legado de Genghis Khan?

Genghis Khan é uma das maiores figuras da história mundial. Atualmente, a vida e a obra de Genghis Khan são estudadas com seriedade por cientistas de renome nos países da União Europeia, Estados Unidos, China e Federação Russa. A versão mongol da origem de Genghis Khan, que prevaleceu firmemente na historiografia do Império Russo e da União Soviética ao longo dos séculos XVIII a XX, é atualmente questionada por muitos cientistas. A República Popular da China representada pelos chineses modernos (Hans) reivindica Genghis Khan. Eles consideram Genghis Khan como o fundador do moderno Estado chinês. Alguns dos chamados novos historiadores da Rússia escrevem o seguinte: "A Horda Tártaro-Mongol é formada pelas forças armadas dos príncipes russos Yuri (Genghis Khan) e Ivan (Batu) Danilovich, que posteriormente tomaram a Mongólia e Pequim".

São teses controversas...

Tive de visitar várias vezes a Mongólia, também como membro de uma expedição científica, viajei de carro por quase todo o país e não vi cemitérios em lado nenhum na Mongólia. Os mongóis não enterram os seus familiares, eles deixam os seus corpos na estepe aberta ou no sopé das montanhas. E, como se sabe, Genghis Khan e os seus filhos foram enterrados, o mais velho dos quais, Jochi, descansa no centro do moderno Cazaquistão, no sopé das montanhas Ulytau. Se Genghis Khan tivesse origem mongol khalkha, então, seguindo as suas tradições folclóricas nativas, ele teria dado indicações para que o seu corpo não fosse enterrado, mas sim deixado na estepe ou no sopé das montanhas. Marco Polo escreveu no seu livro: "Todos os grandes soberanos, descendentes de Genghis Khan, estão enterrados na grande montanha Altai; e onde quer que o grande soberano dos tártaros morra, mesmo que leve cem dias de viagem até àquela montanha, eles levam-no até lá para o enterrarem".

Esses factos também falam a favor da origem turca de Genghis Khan. A palavra "mongol" como etnónimo aparece na ciência histórica apenas nas obras dos séculos XVI-XVII. Mas o próprio Genghis Khan sempre foi chamado tártaro e ao seu império chamou-se Grande Tartária. A maioria do povo turco no início do século XX era referido nas fontes russas como "tártaros". "Tártaros de Kazan" são tártaros da República do Tartaristão, "tártaros de Altai" são o povo altai, "tártaros de Kuznetsk" são shors, "tártaros de Kundra" são karagashs, "tártaros de Yenisei" são khakases, "tártaros transcaucasianos" são azeris, "tártaros da montanha" são kumyks, karachais e bálcaros, "tártaros da Crimeia" são krymchaks, nogai e kipchaks da península da Crimeia. Na verdade, a palavra "tártaro" era sinónimo da palavra "turco". Neste ano, organizámos uma expedição científica na região central do Cazaquistão a Ulytau, a área sagrada para o povo turco e, com base nos resultados, preparámos a nossa comunicação para os cientistas de todo o mundo. O mausoléu da lendária personalidade histórica Alash Khan, cuja história e origem ainda não foram totalmente estudadas, fica em Ulytau. Sabemos por fontes históricas que, desde os tempos antigos, os saks, hunos, turcos e kipchaks viveram em Ulytau. Essa área era o centro do Canato turco. Desde a Idade Média, esta região sagrada sempre teve um significado geopolítico significativo. Não é por acaso que o filho mais velho do famoso Genghis Khan, Jochi, se estabeleceu aqui. Uluk Ulus, criado por Jochi nas estepes Kypchak, tornou-se mais tarde um poderoso Estado da Horda Dourada. A primeira capital da Horda Dourada estava aqui localizada; aqui, o Estado de Desht-i-Kipchakraised, seu Shanyrak (telhado). Mais tarde, o poderoso Estado tornou-se um centro atrativo da civilização turca. Os cemitérios dos governantes da Horda Dourada: Er Yedige e representantes da oitava geração de Genghis Khan Tokhtamysh e o filho de Jochi, Temir-Kutlik, foram preservados em Ulytau. Portanto, na nossa opinião, existe uma estreita ligação entre o mausoléu de Alash Khan e o famoso Genghis Khan.

Pode explicar?

Comparando os mausoléus de Jochi Khan e Alash Khan, pode-se notar as seguintes características: Primeiro, a altura do mausoléu misterioso é maior do que a altura do mausoléu de Jochi Khan. Mas do ponto de vista do tempo histórico, o mausoléu foi construído primeiro para Jochi Khan e depois, supostamente, para Alash Khan. A razão para isso está ligada à morte de Jochi Khan em 1227, seis meses antes da morte de seu pai. Genghis Khan deu a ordem de construir um grande mausoléu para o seu primeiro filho. Em segundo lugar, o mausoléu de Alash Khan é maior do que o mesmo de Jochi Khan. O tamanho do mausoléu de Alash Khan é de 9,73 × 11,9 metros, incluindo uma cúpula de 10 metros de altura, e o tamanho do mausoléu de Jochi Khan é de 9,55 × 7,25 metros. Portanto, surge a seguinte questão: O estatuto e o papel social do desconhecido Alash Khan eram superiores aos de Jochi Khan? O aspeto arquitetónico do majestoso mausoléu de Alash Khan é um projeto único. Quatro paredes, oito lados, um tambor de dezasseis lados e uma cúpula de pedra dão ao túmulo um significado especial. Os tijolos do mausoléu são dobrados e decorados com padrões como astar, ushkyl, entalhes e tai. Os sinais genéricos de todos os povos turcos estão marcados na superfície e nas paredes laterais de alguns tijolos. Isto também não é uma coincidência. Sabe-se que, sob a bandeira de Desht-i-Kipchak, muitos povos e tribos turcos, muitos estudiosos, generais e artesãos proeminentes se uniram. Reunidos numa estrutura de pedra - o mausoléu de Alash Khan - eles simbolizavam a unidade e a coesão do povo. Esses sinais eram característicos dos mazares de grandes comandantes e eram considerados sinais distintivos! Terceiro, na entrada do mausoléu de Alash Khan, podemos ver claramente a placa da "pegada do lobo" na inscrição gravada em cima. A palavra "Alasha" significa um "lobo". Isso indica que os ancestrais de Genghis Khan eram turcos. Afinal, os antigos turcos consideravam-se descendentes de KokBori (lobo) e adoravam-no. Durante a época do Canato turco, os soldados incorporaram o símbolo KokBori nas suas bandeiras e esta é uma verdade histórica. Quarto, foram construídas escadas exclusivas no mausoléu de Alash Khan, que não são encontradas nos mausoléus de Arystan-baba, Khoja Ahmed Yassaui nas terras do Cazaquistão, bem como na Ásia Central como um todo. As escadas do mausoléu de Alash Khan levam ao segundo andar abobadado (galeria do tambor), e, para ir mais longe, à plataforma na parte superior do mausoléu (varanda de observação). Deste local, pode-se ver toda a área. As pequenas janelas do mausoléu permitem o uso eficaz de arcos, espingardas e outros meios militares contra o inimigo. Assim, esses dados sugerem que o mausoléu de Alash Khan foi especialmente protegido pelos soldados. Ou seja, esse mausoléu estava bem protegido para evitar qualquer profanação por qualquer pessoa! Esses e muitos outros factos misteriosos requerem mais estudo e resolução! Será que o mausoléu de Alash Khan é realmente o local de sepultura do lendário Genghis Khan? Eu iniciei uma comunicação para a comunidade científica internacional para estabelecer a verdade histórica sobre Genghis Khan e Alash Khan.

Como aconteceu a conversão dos povos das estepes ao Islão? Foi um processo demorado?

A história da propagação do Islão nas estepes do Cazaquistão está enraizada nas profundezas da história. Os árabes que conquistaram a Ásia Central, começam gradualmente a movimentar-se para as estepes do Casaquistão no início do século VIII. A batalha de Talas entre árabes e chineses no rio Talas em 751 tornou-se um acontecimento importante na história do povo casaque. A batalha de Talas entrou para a história como um fator decisivo na islamização da Ásia Central. A adoração do Kok-Tengri pelos turcos como o único Criador da existência é o princípio da visão de mundo do povo turco medieval - era próximo do monoteísmo islâmico e não contradiz os seus costumes e tradições. A adoção do Islão pelo povo turco influenciou a formação de uma cultura turca muçulmana especial. A doutrina islâmica foi facilmente adaptada às tradições e costumes nacionais do povo cazaque. Formou-se uma espécie de síntese do Islão com elementos do tengrianismo na vida pública e privada. Portanto, pode-se dizer que a peculiaridade da direção hanafi do ramo sunita do islamismo está em harmonia mental com os costumes da população local e a combinação das antigas tradições pagãs e da adoração dos ancestrais na prática do culto. Até mesmo o Estado do Cazaquistão foi baseado nas normas legais muçulmanas desde a sua formação. Basta lembrar algumas das disposições do Código de Leis Zheti Zhargy que foi formulado no final do século XVII no Canato Cazaque: ele reflete as normas da Sharia de proteção do Islão - a punição por blasfémia e apostasia. Durante o reinado da dinastia Karakhan (séculos X-XI), após a proclamação de Musa como o Kagan e do Islão como a religião do Estado, a cultura islâmica começou a espalhar-se por toda a região em 960. A ciência, educação, artesanato, arquitetura e literatura começaram a desenvolver-se a um ritmo rápido. Foram construídas mesquitas, madraças, bibliotecas. As cidades de Sairam, Taraz, Kulan, Merke, Balasagun, Sauran, Yasy e Ozgent tornaram-se não apenas centros comerciais, mas também centros de ciência e arte.

A Horda Dourada também se islamizou, certo?

Sim, outra etapa da entrada do Islão nas terras do Casaquistão foi a era da Horda Dourada. Sob Uzbeque Khan (1313-1341), o Islão foi elevado à categoria de religião oficial e contribuiu para a transformação da Horda Dourada num Estado poderoso da Idade Média. A disseminação da doutrina Sufi foi promovida pela criatividade de Khoja Ahmet Yassaui. As obras de Zhusup Balasaguni, Mahmut Kashgari, que instavam as pessoas à bondade, misericórdia e fidelidade, eram dedicadas à adesão aos valores islâmicos. Os cientistas-historiadores dos séculos XV-XVIII M. Haydar Dulati e Kadyrgali Zhalayri, tendo estudado a língua árabe-persa, escreveram obras maravilhosas. As regras da Sharia, entrelaçadas com os costumes e tradições do povo do Cazaquistão, entraram firmemente nas relações públicas durante o período do Canato do Cazaquistão. No Canato do Cazaquistão, o Islão foi elevado à categoria de religião oficial. Em 1511-1523, quando Kasym Khan governou, o Canato do Cazaquistão tornou-se mais forte. Nos séculos XVIII e XIX, durante a adesão do Canato Cazaque ao Império Russo, o governo czarista tentou espalhar o Cristianismo, mas não teve sucesso. A decisão de realocar à força os camponeses sem terra para as áreas que desde o início dos tempos pertenciam aos clãs cazaques deram origem a um movimento de protesto de retaliação do povo cazaque. Isso também foi facilitado pela força da sua convicção islâmica, que é muito diferente da cosmovisão do cristianismo dos colonos russos. Em 1906, o primeiro Kurultai dos muçulmanos do território do Turquestão foi realizado em Verny. Aí foram tratadas questões de espiritualidade religiosa, bem como questões de criação de uma administração espiritual.

Como reagiram os muçulmanos cazaques à Revolução Bolchevique de 1917?

Vários partidos de cunho religioso que começaram a dar atenção às questões religiosas foram formados no início de 1917. As repressões estalinistas da década de 30 do século XX envolveram também representantes de lideranças religiosas. Após os acontecimentos bem conhecidos de 1991, o colapso da União Soviética, depois de o nosso país ter conquistado a independência, a liberdade de religião dos cidadãos foi providenciada legislativamente. A Lei da República do Cazaquistão "Sobre a liberdade de religião e relações religiosas" foi adotada em 1992, e foram abertos novos templos, mesquitas, madraças, sinagogas e igrejas. O Cazaquistão é conhecido em todo o mundo pela sua política de amor à paz e iniciativas eficazes de natureza global. Uma das iniciativas mais significativas foi a cimeira religiosa internacional - o Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, realizado em Astana desde 2003. Ao longo dos 18 anos da sua existência, o Congresso tornou-se um centro de interação, compreensão e diálogo entre os líderes das religiões mundiais. Gostaria de destacar um facto interessante: existe uma identidade histórica no que diz respeito ao Islão entre o Cazaquistão e Portugal. O Islão chegou ao território europeu no século VIII. Naquela época, os árabes fortaleceram-se no Norte de África e conquistaram grande parte das áreas modernas da Espanha e Portugal. Em seguida houve o califado de Córdoba chefiado por um descendente dos omíadas, Abd-ar-Rahman I (929-1031). A Lisboa moderna chamava-se Al-Lishbun e era um porto comercial de importância internacional. A enorme influência da cultura islâmica que dominou o país durante vários séculos manteve-se no território de Portugal. O estabelecimento do domínio muçulmano abriu uma nova etapa na história do país. Sob a sábia liderança dos omíadas, as antigas colónias e cidades romanas mantiveram o autogoverno e aumentaram a prosperidade. Os portugueses receberam total liberdade religiosa, tiveram oportunidade de ler literatura, filosofia, ciência e poesia oriental. No entanto, os portugueses, desenvolvendo grande parte da sua história consciente no seio da igreja cristã, não se converteram à fé muçulmana. E o povo do Cazaquistão aceitou o Islão e adaptou-o à sua mentalidade tengriana. Os cazaques aderiram ao Islão graças aos sufis que apoiaram o tariqa Ahmet Yassaui e o tariqa Naqshbandi. A escola moral de Tasawf (Sufismo) apoiou os nossos ancestrais no estudo e aceitação da Sharia. Cada nação tem o seu próprio modo de vida, a sua mentalidade, os seus valores materiais e espirituais e a sua própria compreensão de Deus.

Que balanço faz de 30 anos de independência do Cazaquistão, no final da União Soviética?

Neste ano celebra-se o 30.º aniversário da Independência da República do Cazaquistão. Esta é uma data importante e um marco para sintetizar e compreender o caminho percorrido. Tendo declarado a sua independência no final de 1991, o Cazaquistão começou o difícil caminho de construir o seu Estado. As prioridades da política externa foram definidas em pouco tempo. A pedra angular de toda a política externa da República foram os princípios de boa vizinhança e não ingerência nos assuntos internos de outros Estados, a igualdade, o desejo de resolver pacificamente todas as questões emergentes. O primeiro Presidente da República do Cazaquistão, Elbasy [Chefe do país] N. Nazarbayev observou: "O futuro do Cazaquistão está na Ásia, na Europa, no Oriente e no Ocidente. Seguindo essa política, seremos capazes de excluir quaisquer manifestações de ameaças à segurança do Cazaquistão". A estratégia determinou as direções mais importantes da política externa do Cazaquistão: CIS; destinos asiáticos, europeus e americanos, Próximo e Médio Oriente. Após conquistar a independência, o Cazaquistão desempenha o papel de elo de ligação entre a Europa, a parte da Ásia Central da ex-URSS, a região da Ásia-Pacífico em desenvolvimento dinâmico e o sul do continente asiático. Graças à política externa de Elbasy N. Nazarbayev, que esteve nas origens da independência do Cazaquistão, o nosso país participa em pé de igualdade e contribui para manter a segurança, resolvendo problemas regionais e globais do mundo moderno.

A adesão à ONU é de excecional importância na política externa do Cazaquistão. O Cazaquistão envolveu-se ativamente nas atividades das suas organizações, como a UNESCO, UNICEF, UNECOSOC, ACNUR e outras, começou a cooperar com uma série de grandes organizações internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O Cazaquistão também se envolveu ativamente nos processos de integração no âmbito da Organização de Cooperação Económica (ECO), da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), da União Económica da Ásia Central (CAEC) e da Organização de Cooperação de Xangai (SCO). A República do Cazaquistão é membro de pleno direito de outras organizações interestatais: CIS, EAEU, OSCE. A cooperação está a desenvolver-se frutuosamente com organizações do mundo islâmico e turco, como a OIC, TURKSOY, TURKPA e o Conselho turco. A Conferência sobre Interação e Medidas de Fortalecimento da Confiança na Ásia (CICA) é um dos mais ambiciosos projetos de política externa do Cazaquistão, concebida como uma estrutura internacional coletiva, um mecanismo de diplomacia preventiva para manter a paz e a estabilidade em todo o continente asiático. O Cazaquistão tem o seu próprio percurso de desenvolvimento independente, cujos resultados são a experiência de formação independente adquirida ao longo de mais de um quarto de século, uma política de Estado externa e interna clara, abertura, paz, sanidade e autoridade moral do nosso Estado na segurança global, um mundo livre de armas nucleares, acordo nacional e diálogo inter-religioso.

A renúncia às armas nucleares é um ponto forte da diplomacia atual do Cazaquistão...

Gostaria de salientar que o Cazaquistão foi o primeiro país do mundo a fechar o local de testes nucleares, a 29 de agosto de 1991, e o único Estado que renunciou voluntariamente ao quarto arsenal de mísseis nucleares mais poderoso, demonstrando assim a sua liderança na promoção de iniciativas pacíficas e criando uma atmosfera de confiança em todo o mundo. Durante 40 anos, de 1949 a 1989, 473 explosões nucleares foram realizadas no local de testes de Semipalatinsk, incluindo 90 explosões aéreas, 26 terrestres e 354 subterrâneas. Além dos testes nucleares, foram aí realizadas 175 explosões com o uso de produtos químicos, das quais 44 com cargas de mais de dez toneladas. A potência total de todas as explosões nucleares realizadas no território do Cazaquistão ultrapassou 50 megatoneladas. A precipitação radioativa espalhou-se por uma área de 304 mil quilómetros quadrados, onde viviam mais de 1,7 milhões de pessoas. A região de Semipalatinsk tornou-se uma zona de desastre ecológico. Em 2015, no 70.º aniversário do bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, foi adotada, por iniciativa do Presidente do Cazaquistão N. Nazarbayev, a Resolução da Assembleia Geral da ONU sobre a Declaração Universal sobre a Construção de um Mundo Livre de Armas Nucleares. Apoiado pela maioria dos Estados membros da ONU, foi um passo importante para a adoção de um instrumento internacional juridicamente vinculativo para banir as armas nucleares. A comunidade mundial associa a política multivetorial consistente do Cazaquistão com os seus esforços para implementar o formato internacional de Estados que coexistem pacificamente com base em medidas de construção de confiança e um diálogo político e inter-religioso abrangente. Os líderes da Rússia, EUA, Alemanha, Reino Unido e outros Estados recorrem ao nosso primeiro Presidente N.Nazarbayev para atuar como mediador no diálogo entre as potências globais. Uma conquista histórica da política externa do Cazaquistão foi a eleição da República do Cazaquistão em 16 de junho de 2016 como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU para 2017-2018. Tudo isso se tornou uma confirmação do reconhecimento pela comunidade internacional da contribuição significativa do Cazaquistão para o fortalecimento da segurança global. O Cazaquistão, sendo o primeiro Estado da Ásia Central eleito para o Conselho de Segurança da ONU realizou, durante a sua presidência, um Evento Especial de Alto Nível para lançar o esboço do Código de Conduta para a Paz. O Manifesto "A Paz. Século XXI" apresentado pelo Presidente da República do Cazaquistão N. Nazarbayev em 31 de março de 2016 em Washington na Cimeira de Segurança Nuclear, insta a humanidade a assumir a responsabilidade por um futuro seguro. A contribuição do Cazaquistão e do seu líder para o fortalecimento da segurança internacional e do regime de não proliferação é reconhecida pela comunidade internacional.

Esta moderna capital onde fica o Museu Nacional do Cazaquistão, antiga Astana rebatizada em 2019 de Nursultan em homenagem ao primeiro presidente, simboliza a aspiração de modernidade de um povo com uma história bem antiga no coração da Eurásia?

Após conquistar a independência, o Cazaquistão construiu a sua nova capital. Hoje, NurSultan é uma cidade onde as possibilidades da arquitetura moderna se manifestam. A principal ideia da construção da capital é a personificação na arquitetura da combinação da racionalidade do Ocidente e da sofisticação do Oriente, a grandeza da Europa e a originalidade da Ásia. As tecnologias mais avançadas e métodos inovadores de arte de planeamento urbano do século XXI foram usados ​​na construção da cidade e na mudança da sua aparência. A organização internacional da UNESCO concedeu à capital o título de "Cidade Mundial". Hoje, não há um único Estado que ameace a segurança e os interesses nacionais do Cazaquistão. O nosso país conseguiu resolver pacificamente as questões territoriais e de fronteira ao longo de todo o perímetro da fronteira nacional. A República do Cazaquistão tem parcerias estreitas com os seus vizinhos e com as principais potências mundiais. As fronteiras nacionais do Cazaquistão são a fronteira da paz e da cooperação.