Os Jogos do sucesso português, da saúde mental e de algumas grandes surpresas

Na hora do balanço, José Manuel Constantino, líder do COP, lembrou que os objetivos foram atingidos e até ultrapassados, deixando um puxão de orelhas a Nelson Évora. Os fantasmas de Simon Biles e a velocidade do italiano Jacobs foram alguns dos momentos marcantes.
Publicado a
Atualizado a

Quatro medalhas, 15 diplomas e 35 classificações até ao 16.º lugar. A missão portuguesa deixou os Jogos Olímpicos Tóquio2020 com razões para sorrir, numa edição que marcou a melhor participação de sempre. O ouro de Pichardo no triplo salto foi o resultado mais marcante para Portugal, nuns Jogos que sobreviveram à pandemia, e que ficaram marcados pela discussão em torno da saúde mental, temática lançada para discussão pela ginasta norte-americana Simone Biles. Os Estados Unidos terminaram a competição na liderança do medalheiro.

"Os objetivos desportivos foram plenamente atingidos e, em algumas circunstâncias, até ultrapassados. São os melhores resultados alcançados de uma representação nacional", elogiou José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, em jeito de balanço ao desempenho dos 92 atletas, recordando que o contrato programa com o Estado previa que, a troco de 18,5 milhões de euros (ME) para a preparação, fossem atingidas um mínimo de duas posições de pódio, quando Portugal conquistou quatro (além do ouro de Pichardo, a prata de Patrícia Mamona (triplo salto) e os bronzes de Jorge Fonseca (judo) e Fernando Pimenta (canoagem).

Twittertwitter1424279234051252225

O dirigente destacou ainda os diplomas, as classificações até ao 16.º lugar e a obtenção de três recordes nacionais e cinco pessoais. Por isso acredita que o Governo vai rever as verbas de apoio à missão olímpica. "Esperamos que este esforço dos nossos atletas, das federações, das modalidades, do COP possa ter ganhos do ponto de vista da concentração de apoios, recursos e medidas que ajudem ao desenvolvimento do desporto nacional. E que possam ser um sinal para a sociedade portuguesa de que temos, no contexto do sistema desportivo internacional, valor e competitividade que jamais tinha sido alcançada. [Os feitos] Melhoram a nossa autoestima e a capacidade de nos valorizarmos e apreciarmos a nossa capacidade e talento", assinalou.

Constantino fez ainda referência em jeito de puxão de orelhas a Nelson Évora, pelo facto do atleta, que se despediu dos Jogos Olímpicos, ter dado o seu apoio a Hughes Fabrice Zango, do Burkina Faso, bronze na final, na prova em que Pichardo venceu o ouro.

"Estamos aqui a representar Portugal, não nos estamos a representar a nós próprios. E nessa circunstância uma representação nacional deve exigir de todos um sentido de companheirismo, de colaboração e de entreajuda. Porque quem sai a ganhar é Portugal. Independentemente dos estados de alma que cada um tenha relativamente aos seus colegas. O chefe de missão Marco Alves teve uma conversa com Nelson Évora", disse, acrescentando que "Portugal só tem de estar grato por um atleta [Pichardo] de tão elevado talento ter escolhido Portugal para viver".

Ainda a este propósito, lembrou que a missão portuguesa tinha 92 atletas e que muitos não nasceram em Portugal. "Mas vieram porque os pais procuraram Portugal. A formação desportiva é feita em Portugal, não fora. Isto significa que 88% da nossa missão olímpica tinha atletas cuja formação desportiva foi em Portugal", lembrou.

A participação de Portugal em Tóquio 2020 elevou para 28 o número de medalhas conquistadas desde que em Paris 1924 a equipa equestre de obstáculos conquistou no Prémio das Nações o bronze.

Estes Jogos Olímpicos de Tóquio ficam definitivamente marcados pela discussão sobre a saúde mental, um tema levantado pela ginasta norte-americana Simone Biles, quando no dia 26 de julho desistiu da final feminina por equipas. "Assim que piso o tatami, sou só eu e a minha cabeça a lidar com demónios. Tenho de fazer o que é certo para mim e focar-me na minha saúde mental. Temos de proteger a nossa saúde e o nosso bem-estar e não fazer o que o mundo quer que façamos", desabafou na altura.

Simone desistiu depois de várias provas e voltou na final da trave, conquistando o bronze (a que juntou uma prata). Mas a sua atitude foi um chamar de atenção para um problema que afeta centenas de atletas, e que por isso recebeu elogios de todos os quadrantes.

Nuns Jogos que marcaram também a igualdade de género, destaque para o britânico Tom Daley. O nadador, medalha de ouro nos saltos para a água, aproveitou a consagração para anunciar publicamente que era gay. "Sinto-me incrivelmente orgulhoso por dizer que sou um homem gay e também um campeão olímpico. Quando era mais novo, achava que nunca poderia alcançar nada por ser quem era", referiu. Ficaram ainda célebres em Tóquio as fotografias onde surgia nas bancadas da piscina a fazer tricô.

Twittertwitter1424360018665631745

Em termos desportivos, muitas e grandes surpresas. A começar pelo italiano Lamont Jacobs, que surpreendeu na final dos 100 metros ao conquistar a medalha de ouro, sucedendo ao lendário Usain Bolt. O atleta nascido no Texas, filho de mãe italiana e pai norte-americano, tornou-se no primeiro europeu campeão no hectómetro olímpico desde 1992, ano do sucesso do britânico Linford Christie.

Se os 100 metros sem ouro dos americanos foi uma surpresa, os EUA desiludiram também noutra modalidade do atletismo - na estafeta dos 4X100 metros masculinos nem sequer se qualificaram para a final de uma vertente que dominavam há décadas. A prova foi ganha pela Itália, e outra vez com a participação de Lamont Marcell Jacobs.

Uma palavra também para a norte-americana Allyson Felix, que aos 35 anos, e depois de ter sido mãe, entrou para a história dos Jogos como a atleta de pista mais medalhada de sempre, com 11 metais, ultrapassando a jamaicana Merlene Ottey. Em Tóquio 2020, a velocista conquistou um bronze nos 400 metros e o ouro na estafeta 4X400 metros.

Os Estados Unidos terminaram a competição na liderança do medalheiro (repetiram o feito de Londres2012 e Rio2016), um feito alcançado apenas no último dia de provas depois de o anfitrião Japão e a China terem dominado ao longo de duas semanas. O primeiro lugar da Team USA foi garantido graças às prestações nas modalidades de pavilhão, desta feita no setor feminino.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt