Como se o tempo tivesse parado: a super-família mais estimada do cinema de animação está de volta, 14 anos depois, sem uma ruga a mais, e a bater recordes! The Incredibles 2 foi o desenho animado com a melhor abertura de todos os tempos nos Estados Unidos, destronando, com 180 milhões de dólares no primeiro fim-de-semana, À Procura de Dory - que em 2016 tinha atingido os 135 milhões. Digamos que a chegada do verão ajuda ao otimismo da contabilidade. Mas não nos esqueçamos também que este é o tipo de animação que, não se confinando à pequenada, atrai o público em geral..Quanto à razão da sequela não ter ganho rugas, apesar da quase década e meia que a separa de The Incredibles (2004), é simples: Brad Bird, que já era o realizador desse primeiro sucesso, decidiu começar o novo filme exatamente no ponto em que terminou o último (o ataque do mineiro que instala o pânico, levantando o solo com uma gigantesca máquina perfuradora). A família composta por Mr. Incredible, Elastigirl, e os seus dois miúdos (mais o bebé), entra em ação com a ajuda do amigo Frozone. Mas no final, em vez de serem reconhecidos pelo ato heroico, acabam apupados devido aos "estragos" que não conseguiram evitar pelo caminho... São dias negros para quem tenta salvar o mundo. Como, de resto, já o eram no filme anterior. Mas a premissa deste The Incredibles 2 está justamente na mudança de paradigma. É preciso recuperar a imagem positiva dos super-heróis. Como fazê-lo? Duas palavras: boa imprensa..Aqui entram em cena dois irmãos filantropos, com tecnologia avançada à disposição, empenhados nesse restauro da confiança do público nos super-heróis. Invertendo o esquema do primeiro filme, em que era o pai que estava fora "em negócios", desta vez é Elastigirl, a Mulher-Elástica (em perfeita sintonia com o tom feminista da era #MeToo) que é escolhida para uma missão especial. Mr. Incredible, timidamente desmoralizado por não ter sido o eleito, fica encarregue da lida da casa - e de tudo o que isso implica em termos de quotidiano familiar..Com efeito, é da aventura doméstica que o filme tira mais proveito. Isto é, das peripécias que têm lugar na ausência da mãe: a crise de adolescência da filha mais velha, as dificuldades de matemática do outro filho, o despertar dos superpoderes do bebé... As olheiras carregadas do pai e o realismo das situações familiares são um bom exemplo de como o filme está mais interessado em olhar a intimidade do núcleo social, do que as proezas fantásticas das personagens. Aliás, para que fique claro, aqui a maior façanha de Mr. Incredible está mesmo na gestão do lar..Uma das coisas que importa realçar é que The Incredibles 2 não se configura como uma animação propriamente infantil - por isso, entre a versão legendada e a dobrada, a primeira será certamente a escolha que valoriza o espírito deste filme. Tem muito mais sentido escutar as vozes de Holly Hunter (Elastigirl) e de Craig T. Nelson (Mr. Incredible), porque estas transmitem um lado genuíno da postura americana. Afinal de contas, continuamos a estar perante um objeto de grande sofisticação, assinado pelo realizador de Ratatui, que volta a elevar os padrões da Disney/Pixar com cinema de tato, alma e forma..Falando nisso, um dos motivos pelos quais esta produção mantém um charme irresistível para os adultos reside no seu estilo modernista com um não-sei-quê de nostalgia. Entenda-se: uma conceção da arquitetura que evoca (e elogia) Frank Lloyd Wright, e uma banda sonora requintada com umas notas jazzísticas, do oscarizado Michael Giacchino, que funciona como um fabuloso revestimento da ação. A verdade é que Brad Bird domina perfeitamente estes códigos da "boa apresentação", sem descurar a narrativa (o argumento do filme também é seu) - mesmo que, no todo, The Incredibles 2 esteja ligeiramente abaixo da qualidade do primeiro. É o busílis de qualquer sequela. Mas os estúdios podem estar bastante gratos por esta....Uma curta-metragem adorável.A abrir a sessão temos um trabalho de extrema sensibilidade. Trata-se de uma curta-metragem chamada Bao, que conta, em 8 minutos, a história de um bolinho de massa chinesa que ganha vida no instante em que ia ser comido, fazendo depois as alegrias de uma mulher solitária. Ela cria-o como se fosse um filho... até ao dia em que ele vai à sua vida. São muitas as emoções e sabedoria que atravessam esta miniatura, destinada a surpreender-nos até ao final (e esse tem muita força!). Com assinatura da canadiana de origem chinesa Domee Shi, esta é a primeira curta da Pixar realizada por uma mulher. São outros tempos em Hollywood. Por Inês N. Lourenço.Homem - Formiga e a Vespa é uma das novas sequelas.Os chamados filmes do verão americano têm cada vez mais força na primavera. Este ano essa tendência acentuou-se com o jackpot dos filmes Marvel, em especial o último Vingadores e Deadpool 2. Ainda assim, as férias grandes continuam a ter os grandes blockbusters americanos. Todas as semanas chega um peso-pesado depois da abertura das hostilidades esta quinta-feira com um recordista de bilheteira nos EUA, Incredibles 2 - Os Super-Heróis, da Pixar..Possível campeão de verão é o novo Missão Impossível, novamente realizado por Christopher McQuarrie. Chama-se Fallout e tem estreia marcada para 2 de agosto. Tom Cruise enfrenta Henry Cavill, nada mais nada menos do que o titular da bata de Super-Homem. Resta apenas saber se o filme não será um festival de cenas de duplos....Meg - Tubarão Gigante é a aposta da Warner para esta temporada. A história de um tubarão gigante que tem genes de um antepassado assassino. Pelo trailer explosivo há muito boa gente a acreditar que está aqui uma nova sensação americana, podendo mesmo ser a surpresa do verão. Jason Statham é o protagonista. Estreia-se a 23 agosto..Blockbuster que cruza o conceito dos filmes Die Hard com A Torre do Inferno é Arranha-Céus, coprodução entre Hollywood e a China com Dwayne Johnson a tentar salvar a família de um arranha-céus em chamas. Uma aposta de risco da Universal depois de Johnson não ter tido muita sorte nas bilheteiras com Rampage - Fora de Controlo. Está previsto para meados do próximo mês..Se tudo isto parece produto ruidoso e a pensar num público adolescente e masculino, há uma alternativa para final de agosto chamada O Espião que me Tramou, uma comédia feminina de acção com a comediante Kate McKinnon e Mila Kunis. Ao pensarmos nos resultados de Ocean"s 8 e do último Ghostbusters, ninguém pode pôr as mãos no fogo por este conceito. Por outro lado, há boas razões para acreditar numa bonança feminina com Mamma Mia! Here We Go Again, a sequela do musical dos ABBA. Cher reforça este elenco que continua com Meryl Streep e companhia. Em Portugal quase 1 milhão de pessoas pagaram para ver o primeiro ( é um dos títulos mais populares de sempre no nosso mercado). Vai faturar muito, embora poderá ser chacinado pela crítica....Homem-Formiga, o super-herói mais divertido da Marvel também regressa e com data confirmada, 15 agosto. Homem-Formiga e a Vespa é mais uma sequela mas se tiver um terço da piada do original já vale o bilhete. As boas notícias passam pelo facto de Michelle Pfeiffer ser a vespa do título e por Peyton Reed regressar à cadeira de realizador..Por fim, já em setembro os portugueses vão ver a nova versão de Papillon, desta vez dirigido pelo nórdico Michael Noer, com Charlie Hunnam no lugar de Steve McQueen e Rami Malek com a personagem de Dustin Hoffman. É um remake preguiçoso que não entusiasmou ninguém no Festival de Toronto mas que pode fazer números respeitáveis no mercado português. Por Rui Pedro Tendinha.Os clássicos andam por aí.Eis uma certeza cinéfila: nunca como nos nossos dias os espectadores interessados puderam desfrutar de tantas e tão variadas formas de acesso aos filmes a que chamamos clássicos. Estranhamente (ou não), tal certeza suscita uma desencantada observação: há cada vez menos espectadores a cultivar a memória do cinema. Em sentido muito literal: toda a gente sabe que, em 1966, a seleção portuguesa de futebol foi ao Mundial de Inglaterra e se classificou em terceiro lugar. Mas quem sabe também, por exemplo, que foi nesse mesmo ano que Ingmar Bergman realizou Persona, um dos títulos fundamentais da modernidade cinematográfica?.De nada adiantará adotarmos o moralismo futebolístico segundo o qual tudo se resolve com a atribuição de "culpas" (nem que seja para estigmatizar o guarda-redes que, coitado, viu a bola escorregar para o lado errado...). Em todo o caso, registemos o feliz paradoxo: por um lado, é verdade que as memórias cinéfilas não estão muito bem cotadas no imaginário que dominado o espaço audiovisual; por outro lado, há distribuidores e exibidores que não abdicam de cultivar essas memórias, criando aos espectadores interessados a possibilidade de conhecer o cinema para além dos "blockbusters" que, ciclicamente, dominam todos os discursos promocionais (o que, entenda-se, não significa que não haja admiráveis "blockbusters")..Por exemplo, a 12 de julho, por ocasião do centenário de Bergman, a Midas Filmes vai repor o sublime Saraband (2003) e ao longo dos meses de Verão a Leopardo Filmes exibirá 16 títulos de "Grandes Mestres" do cinema francês, incluindo Max Ophüls, Jean Renoir e Sacha Guitry. Não serão casos únicos, até porque importa lembrar que o mercado do DVD se tem enriquecido com muitos títulos clássicos. Seja como for, não é por falta de oferta que os espectadores desconhecerão os fascinantes contrastes da história do cinema - os espectadores interessados, repito. Por João Lopes