Oposição propõe suspensão de novos AL em Lisboa por mais seis meses

Prazo de interdição atualmente em vigor, aprovado com o voto contra de PSD e CDS, termina em outubro. PS avança com nova proposta, também subscrita por BE e Livre.
Publicado a
Atualizado a

A oposição na Câmara de Lisboa - PS, Bloco de Esquerda e Livre - quer prorrogar por mais seis meses a proibição de abertura de novos alojamentos locais (AL) em 14 freguesias da cidade. A interdição que está atualmente em vigor termina no próximo mês de outubro, pelo que os vereadores socialistas, a que se juntam a vereadora do BE e a do Livre, vão avançar com uma proposta para que a suspensão se mantenha até março do próximo ano, até que haja um novo regulamento municipal para o AL.

A proposta que será apresentada para discussão e votação do executivo camarário (e que terá de ir depois à Assembleia Municipal) prevê que não sejam aceites novas licenças nas freguesias onde o número de fogos afetos ao alojamento local exceda os 2,5% do parque habitacional. Uma medida que abrange a Ajuda, Alcântara, Areeiro, Arroios, Avenidas Novas, Belém, Campo de Ourique, Estrela, Misericórdia, Parque das Nações, Penha de França, Santa Maria Maior, Santo António e São Vicente. Ficam fora da suspensão as freguesias de Alvalade, Beato, Benfica, Campolide, Carnide, Lumiar, Marvila, Olivais, Santa Clara e São Domingos de Benfica.

O documento, a que o DN teve acesso, prevê ainda que a Direção Municipal de Urbanismo apresente à câmara um estudo urbanístico do turismo na cidade, até 10 de outubro, numa análise que (entre outros pontos) especifique o rácio do alojamento local face aos imóveis disponíveis para habitação nas várias freguesias. No texto que vai propor a votação, o PS sublinha que este estudo já era pedido na proposta inicial que ditou a suspensão de novos AL - que foi aprovada na câmara em dezembro de 2021 e depois, em março, na Assembleia Municipal - e que "ainda não foi elaborado, nem apresentado à Câmara Municipal".

Na defesa de que esta é uma medida com resultados efetivos na regulação do mercado da habitação em Lisboa, a proposta cita um estudo apresentado pela Fundação Francisco Manuel do Santos, que "confirma que a suspensão que agora se prorroga levou à "contração nas vendas e nos preços"", concluindo que "após a implementação da proibição parcial de novos registos em Lisboa, venderam-se menos cerca de 20% de casas e houve uma redução de 9% dos preços dos imóveis nas zonas onde a proibição entrou em vigor".

Para a vereadora socialista Inês Drummond, a extensão do prazo de interdição de novos AL é essencial para evitar um interregno da medida que abra as portas a "uma corrida brutal" à abertura de novas unidades em zonas da cidade que já têm uma sobrecarga deste tipo de alojamento turístico. Para isso é preciso que a proposta seja aprovada até meados de outubro, altura em que expira a decisão anterior. O objetivo último é que a proibição se mantenha enquanto é elaborado um novo regulamento municipal para o AL, um processo necessariamente moroso. "Há aqui um tempo burocrático que pode demorar três, quatro meses", diz a coordenadora da vereação socialista. O novo regulamento terá de ir à câmara, depois a consulta pública, submetido novamente ao executivo camarário e depois à Assembleia Municipal.

A restrição inicial que está agora em vigor foi aprovada, na câmara e na Assembleia Municipal, pelos partidos da oposição, à revelia da coligação "Novos Tempos", que votou contra. Carlos Moedas mostrou-se, aliás, muito crítico da medida. "A suspensão imediata de novos registos de alojamento local que os partidos de esquerda e a vereadora independente aprovaram revela um sinal muito negativo para o turismo, para a economia local e, acima de tudo, para milhares de famílias que veem aqui um entrave aos seus rendimentos", afirmou então o líder da autarquia, manifestando-se contra "propostas radicais".

"O que prejudica a economia da cidade é os lisboetas não conseguirem viver em Lisboa", contrapõe Inês Drummond, defendendo que a câmara deve recorrer a "todos os instrumentos" disponíveis para "evitar que as pessoas sejam empurradas para fora da cidade" por falta de habitação a preços comportáveis. "Nós não somos contra o AL, também tem lugar em Lisboa. Não pode é comprometer a vivência da cidade, de repente termos zonas onde os lisboetas não conseguem viver", argumenta a antiga presidente da Junta de Freguesia de Benfica, que espera uma posição favorável dos vereadores à esquerda, nomeadamente do PCP, que votou favoravelmente a interdição inicial.

susete.francisco@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt