Operação Aquiles: Testemunha crucial que denunciou agentes da PJ fala em tribunal esta terça-feira
O julgamento dos dois antigos inspetores da PJ, no âmbito da Operação Aquiles, começou esta terça-feira em Lisboa. São acusados de tráfico de droga agravado e corrupção. O ex-inspetor da PJ que os denunciou - mas também é arguido no processo - fala esta tarde.
Carlos Dias Santos e Ricardo Macedo, ambos antigos inspetores da Polícia Judiciária, e José Baltazar da Silva, cabo da GNR do destacamento de Torres Vedras começam a ser julgados esta terça-feira, acusados de colaborarem com traficantes de droga sul-americanos. São três dos 29 arguidos que começam a ser julgados no Tribunal de Lisboa.
Os dois ex-elementos da Polícia Judiciária são acusados de tráfico de droga agravado, associação criminosa com vista ao tráfico e corrupção passiva para prática de ato ilícito.
Entre os arguidos está António Benvinda, um antigo inspetor da PJ que depois se ligou ao mundo do crime. Foi ele quem contactou a PJ para contar o que sabia em troco de proteção. Testemunha crucial no processo, Benvinda vai falar esta tarde por videoconferência por questões de segurança. Apenas vai prestar declarações e não vai responder a perguntas dos advogados.
Este ex-inspetor da PJ, bem como a família, estava a ser ameaçado por um cartel colombiano, por causa de carregamentos de cocaína que não tinham chegado ao destino. Benvinda foi uma testemunha decisiva em 2013 quando decorriam as investigações à atuação de Carlos Dias Santos e esteve, de acordo com a revista Sábado, no programa de proteção.
Na lista de arguidos constam vários traficantes de droga e alguns nunca foram ouvidos nem se conhece o seu paradeiro. É o caso de Franquelim Lobo, considerado um dos maiores traficantes de droga portugueses. No ano 2000 chegou a ser condenado a 25 anos de prisão mas o julgamento foi anulado e na repetição acabou por ser absolvido. Existe um mandado de detenção internacional pendente. O narcotraficante tinha residência em Espanha mas as autoridades não o conseguem localizar.
Dos 29 arguidos compareceram esta terça-feira em tribunal 21, sendo que dois vão ser julgados à parte porque não foi possível notificá-los. É o caso de Franclim Lobo e Maria Luísa Ferreira Caeiro.
Os dois elementos da PJ e o militar da GNR que auxiliava Ricardo Macedo são as peças centrais de corrupção nos organismos policiais. Diz o MP que, além de darem informações às organizações criminosas que protegiam, através dos contactos com os pretensos informadores, por vezes recebiam informações das mesmas organizações relativamente ao tráfico desenvolvido por organizações "concorrentes". E faziam as detenções e apreensões que permitiam manter um estatuto de competência na PJ. No caso dos elementos da PJ, foram detetados vários depósitos em numerário, que a acusação diz terem origem nos subornos, assim como o recurso a contas bancárias de familiares e a venda de uma casa no sul de Espanha por Dias dos Santos que os investigadores acreditam ter sido paga com o dinheiro colombiano. Ricardo Macedo é suspeito de ter ido a Marrocos informar um narcotraficante de uma operação da PJ com vista à sua detenção que saiu frustrada devido à ação do ex-inspetor.
No decurso da investigação, revelou o DCIAP, foram apreendidos mais de 900 quilos de cocaína e mais de 30 quilos de haxixe, bem como diversas viaturas e outros valores, designadamente dinheiro, no montante de várias dezenas de milhares de euros.
Na fase inicial do processo os advogados Vítor Carreto e Ana Cotrim chegaram a ser arguidos, mas o Ministério Público decidiu arquivar os factos pelos quais eram indiciados.