OMS desaconselha ibuprofeno para tratar sintomas de covid-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselhou, esta terça-feira, o uso de ibuprofeno para o alívio dos sintomas de covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, que já infetou mais de 180 mil pessoas em todo o mundo.
O porta-voz da OMS em Genebra, Christian Lindmeier, disse aos jornalistas que os especialistas das Nações Unidas "estão a analisar o assunto".
"Por enquanto, recomendamos o uso de paracetamol e não de ibuprofeno como automedicação. É importante", reiterou o responsável da OMS.
Os estudos sobre o efeito do ibuprofeno nos doentes infetados com o novo coronavírus ainda estão a ser realizados e os resultados só devem ser conhecidos em maio.
No fim de semana, as autoridades francesas deixaram o alerta de que medicamentos anti-inflamatórios podem piorar os efeitos de covid-19.
As advertências vieram do ministro da Saúde francês, Olivier Véran, no passado sábado, e surgiram na sequência de um estudo publicado a 11 de março pela revista especializada The Lancet, no qual é referida a hipótese de que uma enzima estimulada pelo ibuprofeno e outras drogas semelhantes pode facilitar e piorar as infeções por vírus.
O ministro francês, que é médico, indicou num tweet que o ibuprofeno e outras drogas similares podem ser "um fator agravante".
"Tomar anti-inflamatórios (ibuprofeno, cortisona,...) poderá ser um fator de agravamento da infeção [pelo novo coronavírus]. Em caso de febre, tomem paracetamol", alertou o ministro da Saúde francês.
Um dia depois deste alerta, no domingo, na habitual conferência de imprensa diária sobre o covid-19, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou não existir, ainda, evidência cientifica sobre a relação entre o agravamento da infeção, provocada pelo novo coronavírus, e a toma do ibuprofeno.
"De facto, nem do Brufen nem de quaisquer outros medicamentos existe qualquer prova ou evidência que potenciem a ação do vírus", afirmou a responsável da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Mais tarde, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) emitiu uma nota no seu site a informar que "não existem, atualmente, dados científicos que confirmem um possível agravamento da infeção por covid-19 com a administração de ibuprofeno ou outros anti-inflamatórios não-esteróides".
A possível relação entre a exacerbação das infeções, na generalidade, e a toma de ibuprofeno está a ser avaliado na União Europeia pelo Comité de Avaliação de Risco de Farmacovigilância da Agência Europeia do Medicamento (EMA). Espera-se que esta análise, cuja conclusão se aguarda em maio, permita esclarecer se existe uma associação entre a toma de ibuprofeno e o agravamento das infeções.
"Dado que o ibuprofeno é utilizado para tratar os sintomas iniciais das infeções, será extremamente complexo determinar esta relação", nota o Infarmed. A primeira opção para tratamento da febre deve ser o paracetamol; no entanto, também não há "evidências para contraindicar o uso de ibuprofeno", acrescenta.
Devido ao alerta das autoridades francesas sobre o ibuprofeno, a venda de paracetamol, fármaco recomendado para combater os sintomas associados ao novo coronavírus, terá restrições nas farmácias em França. A sua comercialização será suspensa na Internet a partir desta terça-feira, segundo anunciou a agência francesa do medicamento (ANSM).
A partir de hoje, a venda deste fármaco será limitada a uma caixa por pessoa, em casos sem sintomas, e a duas caixas em situações de febre ou de dor, indicou a agência francesa, esclarecendo que esta medida visa prevenir potenciais riscos de um "armazenamento desnecessário".
Em caso de dor e/ou febre, principalmente "no contexto da covid-19 [designação atribuída à doença provocada pelo novo coronavírus]", a utilização de paracetamol deve ser privilegiada, respeitando as regras de bom uso, recordou a agência francesa.
O novo coronavírus já infetou 186 676 pessoas em todo o mundo. Destas, 80 338 já recuperam. Morreram 7 471 cidadãos.
Em Portugal, há 448 infetados e uma morte, segundo o boletim epidemiológico da DGS, divulgado esta terça-feira. Há ainda 323 pessoas a aguardar o resultado das análises laboratoriais, três recuperadas e 6852 em vigilância pelas autoridades de saúde.
Com Lusa
Atualizado às 18:30