Um infetado com Ómicron contagia 216 pessoas em 12 dias, sarampo só 15

A nova variante do SARS-CoV-2, Ómicron, detetada há pouco mais de um mês na África do Sul já é considerada como a que tem a propagação mais rápida da História. Segundo especialistas norte-americanos, este vírus 'conquistou' o planeta em apenas um mês. É mais forte do que o vírus do Sarampo. Um infetado com Sarampo provoca 15 infeções em 12 dias, um infetado com Ómicron 216. Em 60 dias, estima-se que um só infetado com esta variante possa infetar 14 milhões de pessoas.
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O médico Roby Bhattacharyya, especialista em doenças infeciosas do Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA, não tem dúvidas: a Ómicron é o vírus conhecido que regista a propagação mais rápida de toda a História. Num mês, após a sua identificação numa região da África do Sul, esta nova variante do SARS-CoV-2, que veio destronar a variante Delta, já é dominante em países de todo o mundo e com mais casos do que nunca. "É uma propagação incrivelmente rápida", destaca Roby Bhattacharyya na edição de hoje do jornal espanhol El País.

Para sustentar a sua tese, o investigador compara o percurso feito pela Ómicron com o de outros vírus igualmente fortes em termos de disseminação, como o do sarampo. Bhattacharyya diz mesmo que este é o adversário mais lógico, pois é conhecido como um dos mais contagiosos de toda a história dos vírus.

E explica: "Uma pessoa com infetada com o vírus do Sarampo infeta outras 15, senão estiverem vacinadas, a Ómicron infeta seis", refere, mas a chave para a disseminação mais rápida do vírus da Ómicron em relação ao vírus do sarampo tem a ver com o tempo de contaminação. Ou seja, no caso do sarampo, o intervalo de contaminação é de 12 a 15 dias desde que a primeira pessoa é infetada até à contaminação das restantes, no caso da Ómicron esse intervalo é apenas de quatro a cinco dias, o que o médico considera "explosivo", sublinhando: "Um caso de sarampo dará lugar a mais 15 casos em 12 dias, no mínimo. Um caso de Ómicron dá origem a outros seis em quatro dias, o que quer dizer que em oito dias dá lugar a 36 casos e em 12 dias a 216", resume Bhattacharyya.

Além de que, alerta ainda o especialista, a nova variante do coronavírus, descoberto no final de 2019, na província de Wuhan, na China, enfrenta mesmo pessoas vacinadas ou que já foram infetadas por outras variantes do SARS-CoV-2, podendo um infetado com Ómicron infetar três pessoas do grupo de vacinados ou que já tenham passado pela doença.

"Com as condições atuais, e de acordo com um modelo que avalia este crescimento exponencial, pode dizer-se que 14 milhões de pessoas seriam infetadas em apenas 60 dias, a partir de um único caso, em comparação com as 760 mil que poderia infetar o vírus do Sarampo, numa população sem defesas específicas", argumenta.

Mas há outros investigadores que se manifestam incrédulos com o poder de contaminação da Ómicron. Segundo refere o jornal espanhol, o historiador e médico Anton Erkoreka, que investiga as epidemias do passado, também se mostra surpreso com o percurso desta variante. "É o vírus mais explosivo e de mais rápida difusão da História", afirma.

Erkoreka, que é diretor do Museu basco da História da Medicina, recorda que as pandemias da peste negra, do século XIV, e da cólera, no século XIX, provocadas por bactérias, levaram anos para se expandir pelo mundo. A chamada Gripe Russa, de 1889, quiçá já causada por outro coronavírus, precisou de três meses para atravessar o planeta, tal como a variante original do SARS-CoV-2, mas "a variante Ómicron bateu todos estes recordes de propagação", sublinha o médico.

O epidemiologista William Hanage, co-diretor do Centro de Estudo de Doenças Infeciosas da Universidade de Harvard, concorda com os seus os seus colegas. "A Ómicron é, sem dúvida, o vírus que se propaga mais rapidamente de todos os vírus que já estudámos com este nível de detalhe", garante, recordando que um dos eventos de contaminação por esta variante ocorreu na Dinamarca, numa festa em Oslo, a partir de um convidado que tinha chegado da África do Sul, e que dos 177 participantes, 81 acabaram infetados. O que quer dizer que só uma pessoa em poucas horas infetou outras 81.

Para estes especialistas, a propagação sem precedentes por parte desta variante do SARS-CoV-2 é clara ao fim de um mês de identificação, contudo há ainda muitas dúvidas sobre os seus efeitos que permanecem sem respostas, nomeadamente o efeito que terá numa população que já tem uma elevada taxa de vacinação. Por exemplo, Portugal e Espanha são dos países da Europa com as taxas de vacinação mais elevadas e muito próximas dos 100%. No caso de Portugal, a taxa de vacinação completa de duas doses atinge mesmo os 100% nas faixas etárias acima dos 70 anos. Mas a questão que se coloca agora é se a Ómicron conseguirá infetar estas pessoas e se estas poderão desenvolver ou não doença grave.

Um estudo desenvolvido na Universidade de Erasmo, em Roterdão, Países Baixos, coordenado pela virologista Corine GeurtsvanKessel já veio demonstrar que o risco individual de desenvolver doença grave é muito menor agora do que com a variante Delta. Daí que o número exponencial de novas infeções que se está a registar em quase todos os países da Europa seja menos de metade do registado durante o pior pico da variante Delta, em janeiro de 2020 quando praticamente ainda não havia pessoas vacinadas.

O jornal espanhol El País revela ainda que os investigadores William Hanage e Roby Bhattacharyya publicaram há duas semanas um documento sobre a dificuldade de averiguar a autêntica gravidade da Ómicron. Segundo Bhattacharyya, a nova variante é 25% menos grave que a variante Delta - que foi dominante até agora, depois de ter sido identificado na Índia há um ano. Contudo, salienta, "provavelmente é mais grave que que as outras variantes detetadas anteriormente, como a Alfa, detetada no Reino Unido no final de 2020, que era 50% menos grave que a Delta". Por isto, reforça, "com a rapidez que se está a propagar, a Ómicron provavelmente irá causar muitos mais danos e num período mais curto".

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