"Objetivo é ter a Praça do Marquês de Pombal completamente repleta"

Mais de 200 autocarros reservados sugerem que protesto pode mobilizar entre 30 e 40 mil docentes. Sindicatos, convocados para reuniões no Ministério a 4 de Junho, querem dar grande demonstração de força ao governo
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Com o Ministério da Educação finalmente disposto a reabrir as negociações - a convocatória, para reuniões no dia 4 de junho, chegou quinta-feira - os sindicatos consideram ainda mais importante adesão à manifestação deste sábado. O objetivo já está definido: "Ter a Praça do Marquês de Pombal completamente repleta", disse ao DN Mário Nogueira, da Fenprof. "E isso é o que vai acontecer".

O protesto deste sábado tem sido comparado aos de 2008 e 2009, em que mais de cem mil docentes desfilaram na capital. Mas Nogueira admite que esse número está fora dos horizontes. "Neste momento há 110 mil professores [nas escolas públicas] e doze mil estão de baixa", recorda. No entanto, assegura, "dezenas de milhares" responderão ao apelo.

O número de autocarros reservados -201 até ontem à tarde - é considerado um bom prenúncio. "Pelas contas que a própria polícia costuma fazer, os autocarros representam entre um quarto e um terço do total de manifestantes", conta. Se a projeção bater certo, estarão garantidas 30 a 40 mil pessoas no desfile que saíra da Rotunda, pelas 15.00, em direção ao Rossio.

João Dias da Silva, líder da Federação Nacional de Educação (FNE) também está otimista: "Fizemos um grande esforço de mobilização nas escolas, para esclarecer as pessoas sobre a importância desta iniciativa", conta. " E recebemos muitíssimos sinais que nos mostram que há uma forte vontade de estar presente. Tudo aponta para uma grande manifestação".

Falta saber que impacto terá este protesto na abertura do governo para discutir a questão do tempo de serviço congelado - os professores reclamam a devolução de nove anos, quatro meses e dois dias - mas também o regime de aposentação, horários de trabalho e regras dos concursos de 2018. Nogueira defende que serão os próprios professores a defini-lo: "O que se passar amanhã [hoje] será importantíssimo para o que se irá passar no dia 4", defende. "Uma pequena manifestação dar-lhes-ia mãos-livres para fazerem o que entendessem", admite.

Quanto à opinião pública, considera Dias da Silva, existe "um forte sentimento de que os professores têm razão na sua luta", até porque, lembra, "em quase todas as famílias portuguesas existe um professor". Até na família do primeiro-ministro, acrescentamos nós. Em 2008, Fernanda Tadeu, mulher do então presidente da Câmara de Lisboa António Costa, estava entre os cem mil que marcaram presença no protestos.

"Sou um, ninguém e cem mil"

A existir um sentimento característico entre os docentes ouvidos pelo DN , que pretendiam marcar presença no protesto de hoje, esse é a injustiça.

Carla Patrícia Machado, professora de Leça, nos quadros desde 2004, conta que continua a receber "exatamente o mesmo de um professor contratado", por ter tido "o azar" de ter entrado numa estrutura de carreira "que já não existe" o que, associado aos congelamentos das progressões, a deixou numa espécie de limbo. "Recentemente, a Secretária de Estado [Alexandra Leitão] disse que os docentes que entraram nos quadros em 2017 vão ser reposicionados em função do seu tempo de serviço. Nós continuaremos a marcar passo", diz. "Vamos a Lisboa perguntar ao Ministério porquê. Sentimo-nos injustiçados".

Liliana Alexandra Pereira, de Braga, professora das Atividades de Enriquecimento Curricular (à direita na imagem), quer ver anulado um manual de validação enviado para as escolas pelo Ministério onde, "contrariando a lei, é dito, em letra vermelha, para não validarem o tempo de serviço em AEC", o que ameaça atirar muitos destes docentes para uma terceira prioridade, longe das colocações. "Estaremos em Lisboa solidários com os outros colegas, nomeadamente os dos quadros, mas também queremos expor a nossa situação", conta.

Maria Neves, de Leiria, 56 anos, professora desde meados da década de 1990, com 17 anos de serviço completos mais ainda contratada devido às peculiaridades de um sistema "em que se legisla na horizontal, sem olhar a casos", só queria ver o estado dar-lhe o "reconhecimento" que já diz sentir de colegas e alunos. Por exemplo, dos alunos estrangeiros, entre os quais refugiados, que no ano letivo passado ajudou a aprender português num projeto que desenvolveu, antes de nova mudança forçada de escola para um horário de oito horas semanais: "Sou um, ninguém e cem mil", diz, citando o dramaturgo italiano Luigi Pirandello, esta professora que, devido a uma questão familiar, deverá acabar por não conseguir vir a Lisboa.

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