O último Czar do século XX. Um "vinho passado", à moda antiga do Pico

As condições meteorológicas da ilha nem todos os anos permitem a produção de um Czar, um tipo de vinho que atinge naturalmente, sem adição de álcool, açúcar ou leveduras, 18% ou mais de graduação. Mas a adega acaba de lançar dois, um deles em homenagem a José Duarte Garcia e que custa 7500€ cada garrafa.
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Com apenas 86 garrafas se celebra a história e se homenageia o pai. O Último Czar do Século XX acaba de chegar ao mercado, afirmando-se como uma oportunidade para provar vinhos feitos por José Duarte Garcia, de forma completamente rústica, à moda dos chamados "vinhos passados" da ilha açoriana do Pico. A este lançamento junta-se um outro, o do Czar 2014, que esteve oito anos em barrica.

Produzidos a partir de castas antigas, na zona da Criação Velha, classificada como Património da Unesco em 2004, com uvas plantadas em chão de lava nas curraletas, os muros de pedra negra que as protegem dos ventos marítimos, e apanhadas já bastante desidratadas, estes vinhos atingem naturalmente, sem adição de álcool, açúcar ou leveduras, 18% ou mais de graduação.

"Hoje em dia, a única diferença em relação à produção de há 500 anos é que, agora, faço a decantação a frio e depois faço o resto da fermentação em borras limpas, retirando uma quantidade mínima de borras, mas que podem mudar os aromas do vinho", explica Fortunato Garcia, da Adega Czar, que "só por doses elevadas de amor à camisola, alguma loucura e bastante teimosia" dá continuidade ao trabalho de seu pai, que na década de 1960 começou a trabalhar aquelas terras - que lhe foram parar às mãos por um valor simbólico, com o compromisso de produzir "vinho passado" do Pico.

Engarrafados desde os Anos 1970, estes vinhos, que se distinguem não só pelo sabor, mas também pela garrafa, levam a marca Czar em referência ao facto de, após a Revolução Russa, em 1917, terem sido encontrados vinhos do Pico nas caves do Palácio de Nicolau II, o último czar da Rússia.

Devido às condições meteorológicas da ilha, nem todos os anos é possível qualidade suficiente para um Czar, pelo que a marca chega a estar vários anos sem produzir. "É uma cultura de loucos. Querer uvas passas para produzir vinho só permite produções muito reduzidas", diz Fortunato Garcia.

O Último Czar do Século XX resulta de uma vindima de 1999, a preferida do pai do produtor e que, por isso mesmo, a guardou para beber com a família e os amigos. Passados quase 25 anos após a sua colheita, numa homenagem a José Duarte Garcia, o restante vinho desta barrica é engarrafado em 86 garrafas especiais de cristal Vista Alegre, com gravação a ouro de 21,3 quilates, disponível a 7500€ cada garrafa e a 6500€ em pré-compra (até ao 1.º trimestre de 2024).

Além deste, chega ao mercado o Czar 2014, que sucede ao Czar 2013, considerado um dos melhores vinhos portugueses do ano pela revista Paixão pelo Vinho.

Com quase uma década a estagiar em barricas velhas, este processo leva a que cerca de 45% do vinho evapore. "As grandes perdas compensam-se pela oxidação mais rápida, o que garante que o vinho Czar possa ser consumido seis ou oito meses após ser aberto e manter exatamente a mesma qualidade", explica Fortunato Garcia.

"Uma das minhas grandes alterações foi a de passar a realizar a fermentação somente sobre borras finas e o estágio em barrica crescer de três para cerca de oito anos. Isso permitiu assumir o Czar como um produto topo de gama, condizente com as suas dificuldades de produção - em 2020, por exemplo, nos 3,5 hectares de vinha na Criação Velha produziu-se apenas 350 litros de vinho (uma relação de 100 litros de vinho por hectare)", acrescenta o viticultor.

"Passas, mel, laranja caramelizada, nozes e limão tangerino, tudo muito bem casado", são as notas predominantes no nariz do Czar 2014, que tem uma produção limitada a 996 garrafas e que será comercializado a 500 euros a garrafa.

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