O teatro ao ritmo da vida em ‘A Falecida Vapt-Vupt’

‘A Falecida Vapt-Vupt’, de Nelson Rodrigues, está em cena no Teatro Nacional de São João, no Porto
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O que faz um encenador regressar duas, três, quatro vezes ao mesmo texto? Com quase 80 anos, Antunes Filho é um dos mais respeitados encenadores brasileiros. ‘A Falecida Vapt-Vupt’, o espectáculo que está em cena até dia 24 de Maio no Teatro Nacional de São João, no Porto, põe em cena a peça ‘A Falecida’ de Nelson Rodrigues – um dos autores a que Antunes Filho regressa sempre, um dos textos que mais vezes já encenou.

O que o faz voltar? Antes de mais o facto de o texto ser muito bom. “Nelson Rodrigues é um autor fantástico, intemporal, nem vale a pena começar a falar sobre ele porque não iria conseguir dizer tudo”, diz Antunes Filho ao DN. As peças de Nelson Rodrigues falam de um Brasil que já não existe mas que afinal ainda está muito presente – Zulmira, a personagem central desta peça, é uma mulher que planeia antecipadamente o seu enterro de luxo. Uma mulher que pensa em grande, que se ilude, que se preocupa com o acessório. Pretexto para pôr em cena a crise (a de agora, a de sempre), as diferenças sociais, os preconceitos, os medos, os vícios inconfessáveis. Nelson Rodrigues é actual porque a humanidade não mudou assim tanto. Só o invólucro.

O que faz um encenador regressar em 2009 a um texto escrito em 1953? “Desta vez eu decidi fazer uma experiência”, explica Antunes Filho. “O que o teatro normalmente faz é focar a atenção do espectador para algo que está a acontecer no palco. Eu quis fazer o oposto. No palco estão a acontecer várias coisas. Como na via, há gente que passa por nós, pessoas a falar, e temos que decidir para onde vamos direccionar a nossa antenção.”  

O encenador assume a videoarte como uma das principais influências para  este trabalho – sobretudo pela ideia de sobreposição. Antunes Filho não quer que o espectador seja passivo. “Nós vamos ao teatro e esperamos que nos dêem algo. Neste caso eu exijo que o espectador faça escolhas.” Como se fizesse um zapping televisivo. Ou como se fosse um VJ (vídeo-jockey) que vai escolhendo as imagens e os estímulos que ocupam o primeiro plano. O “vapt-vupt” do título refere-se precisamente à rapidez com que acontecem as coisas – na vida e no palco.

Além de ‘A Falecida Vapt-Vupt’, Antunes Filho traz também ao Porto ‘Prêt-à-Porter (Colectânea 2)’, que estará no São João, até dia 23. Trata-se de um projecto desenvolvido há dez anos no Centro de Pesquisa Teatral do SESC São Paulo e que tem como ponto de partida o trabalho de pesquisa dos actores.

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