O regresso de Miguel Vieira a Nova Iorque
A saia plissada esvoaça e a sua leveza é inesperada para o material de que é feita: a pele. Ouvem-se comentários na plateia. Qualquer coisa como "Uau". Estamos na Semana de Moda de Nova Iorque, o público está habituado à inovação e ouve-se um "uau" com o sétimo coordenado apresentado. A fluidez foi conseguida por Miguel Vieira que introduziu no tecido a microperfuração - uma técnica de corte a laser, que fez pequenos buraquinhos por onde o ar passa sem encontrar barreira e dando às pregas da saia toda a liberdade de movimentos. Este tecido microperfurado está sobreposto a outro, leve, transparente e negro. Esta aglutinação dá uniformidade à peça mas a deixa-a respirar.
Miguel Vieira apresentou esta terça-feira em Nova Iorque a sua coleção de outono inverno 2017-18 para mulher, com alguns modelos para homem como vem sendo habitual nos seus desfiles. Foram 42 coordenados que obedeceram ao esquema cromático original do criador portuense, apesar de o designer ter na manga modelos com mais cor para a apresentação em Portugal. Vieira justifica esta escolha: "Fiquei conhecido pelo preto e branco. Acho que fazia sentido afirmar-me aqui como um criador em preto e branco".
A abrir o desfile nos Pier 59 Studios, no bairro de Chelsea, mulheres e homens integralmente vestidos de branco, a que se seguiram outros vestidos integralmente de preto e em combinações das duas cores. Como de costume, as silhuetas femininas tinham a cintura marcada, mas usufruíam de amplitude de movimentos para membros, e as masculinas revelavam traços da clássica alfaiataria. Nesta base clássica há um elemento repetido que é, ao mesmo tempo, uma inovação técnica e um rasgo criativo: amarrotado fixo, em algumas partes do tecido que compõem as peças. Miguel Vieira explica ao DN: "Tem muitos apontamentos de amarrotado, que faço com uma técnica nova: decido a forma do amarrotado, essa forma entra num molde que fixa o tecido. O tecido não sai mais dali, não perde a forma, e é possível reproduzir esse amarrotado em todas as peças de forma exatamente igual."
O designer de moda afirma que a inovação tecnológica o inspira muitas vezes. A descoberta de uma nova técnica estimula a criatividade e a aplicação dessa técnica industrial de confeção nas suas peças. A par do amarrotado fixo, uma outra: "Chama-se aglutinado. É uma sobreposição de tecidos que depois entra numa máquina e que puxa o pelo do tecido de baixo para o de cima." O plissado em polipele e pele é a terceira técnica que Miguel Vieira utiliza na coleção apresentada em Nova Iorque. O designer gosta de relembrar o passado, a formação em controlo de qualidade têxtil, afirma vir desse tempo o continuo interesse pelos materiais - "Sou um apaixonado por tecidos", diz ele - e pela inovação técnica.
O desfile terminou com um longo aplauso ao criador português e entre as mulheres nas primeira e segunda filas da assistência ouviram-se comentários como: "Desta coleção gosto mesmo" ou "usava tudo." Nova Iorque há de ver Miguel Vieira daqui a seis meses. Portugal pode vê-lo já no Portugal Fashion do Porto, que acontece no próximo mês março.