O reencontro de dois atores, na peça e no palco

José Pedro Gomes e José Raposo protagonizam "Ñaque", peça que estreia esta quinta-feira, 15 de março, no Teatro Villaret, em Lisboa
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"Riiiiiooooos!" A voz de José Pedro Gomes chega ao público sem que o ator esteja visível. O mesmo acontece com o chamamento em resposta de José Raposo: "Solaaannoooooo!". Ficam feitas as apresentações dos dois (únicos) atores de Ñaque, peça que hoje estreia no Teatro Villaret, em Lisboa.

E esta que é uma história de encontros e reencontros entre as personagens criadas pelo espanhol José Sanchis Sinisterra, uma reflexão sobre a carreira dos atores e ao mesmo tempo sobre a própria existência, quase poderia ser a história de José Pedro Gomes e José Raposo. Também eles se encontraram em 1991, na peça Depois de Magritte, mas desde então que não partilhavam o palco.

Apesar da vontade de voltarem a trabalhar juntos, tal como Rios e Solano, esses dois atores que formavam uma companhia teatral errante composta somente por eles, numa itinerância que o autor espanhol coloca no século XVII. E que 400 anos depois continua, como se verá na peça, quando Solano questiona o público sobre o dia, o ano e o mês em que estamos.

Essa será uma das vezes em que o público será chamado a tomar a iniciativa. Um público que aos olhos de Solano é sempre o mesmo - olha aquele senhor de barba, de óculos, de nariz - indica a Rios enquanto aponta uns binóculos à plateia.

A barreira que separa os atores do público "vai ser ultrapassada algumas vezes neste espetáculo, um bocado contra o meu personagem que não gosta muito desse teatro", revela José Pedro Gomes. "Um é de um teatro mais estilizado outro é mais por uma arte sem esses estereótipos. Mas depois encontram-se em determinados pontos da peça a dar razão um ao outro", adianta José Raposo. "Vivem mal um sem o outro", continua José Pedro Gomes. "Daí andarmos à procura um do outro ao longo dos tempos. Mas depois o trabalho faz-nos chatear por causa das diferenças de opinião. É natural que assim seja. São discussões , às vezes azedas. Às vezes um foge, o outro fica, desasado, e tem de se desenrascar sozinho, até o encontrar outra vez ou se juntar a outros atores", contam num discurso que até parece contínuo mas que vai sendo completado ora por um ora por outro.

A encenação deste "espetáculo de arte total" - como lhe chama José Pedro Gomes - é do jovem de 32 anos Marco Medeiros que, tal como os atores também tem dificuldade em dizer que tipo de espetáculo é este. "É comédia? É drama? Tragédia não é certamente. É teatro absurdo. Acho que tem um bocadinho de tudo. Passamos aqui por vários universos e a única coisa que quebra todas essas fronteiras, porque o espetáculo vai beber a todas essas fontes, é exatamente o lado humano em que isto consegue tocar em qualquer um", explica Marco Medeiros que já há dois anos levara este espetáculo a cena com a sua companhia, a Palco 13.

Mas aqui, com estes dois atores, "o texto ganhou a dimensão deles e para mim essa foi a grande novidade enquanto jovem encenador". "Sem dúvida que tudo o que absorvi deles construiu este espetáculo. Este espetáculo é do Zé Pedro e do Zé Raposo", diz.

E sobre a comunicação com o público, o encenador cita Sinisterra : "'O público olha e escuta'. E isso chega?Será suficiente? A consciência do público vai ter de falar por si. Será suficiente ouvir e ver? Não será preciso algo mais? Uma peça para espicaçar as consciências, portanto.

Informação útil
Ñaque
Encenação de Marco Medeiros
Teatro Villaret, Lisboa
De quinta a sábado às 21.30; domingo às 16.30.
Bilhetes: 16 euros

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