O que acharam os convidados sobre a conferência de Obama
Marques Mendes, comentador político e ex-líder do PSD
"Acho que foi uma intervenção interessante, coloquial, pedagógica. se alguém estiver à espera de grandes novidades, obviamente que tem uma desilusão. Mas julgo que alguém como o presidente Obama nesta fase da sua vida não é propriamente para estar a transmitir novidades, é muito mais para fazer pedagogia em torno de um tema que é um tema importante. E nessa perspetiva eu julgo que teve uma mensagem eficaz, junto dos líderes de opinião e um apelo atual junto da comunidade em geral.
Eu diria que, ao que se diz foi um investimento caro, do ponto de vista financeiro, mas pelo impacto que tem, e pela mensagem, julgo que é capaz de ter o seu retorno. Acima de tudo julgo que vale a intervenção pela autoridade de quem a profere e pela coerência que o presidente Obama sempre teve em relação a esta matéria ao longo dos anos em que foi presidente. Esta autoridade e esta coerência é que emprestam força à mensagem.
De um modo geral, hoje o mundo está muito mais sensibilizado do que estava há uns anos para esta problemática. E o acordo de Paris foi uma pedrada no charco. Dir-se-á: mas os EUA entretanto desvincularam-se. Mas também, como aqui foi reconhecido pelo presidente Obama, obviamente que isso aconteceu mas o conjunto de políticas estava entranhado já nas instituições. E portanto eu julgo que é uma matéria em que hoje, de um modo geral, a comunidade internacional está profundamente sensibilizada. Há sempre exceções, obviamente. Mas velhos do Restelo há em todo o lado: em Portugal, nos EUA...
Mostrou algum conhecimento da realidade portuguesa. Era normal que o fizesse, sobretudo tendo em atenção os valores de que se fala que foi o investimento. Mau era..."
Manuel Pizarro, vereador da CM Porto eleito pelo PS
"Foi um discurso muito sensato sobre os problemas que enfrenta o mundo, que incluem as alterações climáticas mas também outros problemas muito sérios sobre a democracia, sobre o populismo, sobre as desigualdades sociais... e tudo isso foi tema desta conversa e acho que foi mesmo muito inspirador.
Sobre o Porto fez referências muito escassas, dizendo que sempre que vem a Portugal tem a agenda muito carregada, mas tudo o que pôde sempre apreciar o faz crer que devia vir passar férias a Portugal e ao Porto, para ter mais tempo para nos conhecer.
Depois as referências foram muito mais a nível internacional, sobre os EUA, sobre a Europa, sobre o resto do mundo... e sobretudo dizendo que a democracia está hoje confrontada com desafios como nunca antes esteve, porque a democracia pressupunha que nós tínhamos uma base comum sobre os factos e depois tínhamos aquilo que a democracia traz, que é uma interpretação diferente dos factos e uma opinião diferente sobre os factos. E o que hoje é posto em causa são os próprios factos. E quando nós não nos conseguimos entender sobre os factos é muito difícil ter uma base para dialogar. E sem diálogo, sem compromisso, não há democracia.
No balanço final, acho que foi uma mensagem muito clara. Se devolvermos o poder ao povo e sobretudo aos jovens conseguimos encontrar o refrescamento necessário dos ideais democráticos para que possamos continuar a acreditar no progresso da humanidade.
Enfim, acho que cada um tem que fazer a sua própria leitura desta intervenção, mas acho que é uma intervenção muito inspiradora sobre o que está a acontecer.
Mesmo sobre os acordos de Paris, a mensagem do presidente Obama foi muito clara. Só há até agora um País que saiu dos acordos de Paris, que foi os Estados Unidos da América. Mas apesar de o presidente Trump querer por em causa muitos dos compromissos regulatórios sobre as alterações climáticas, a verdade é que hoje já é a opinião pública e a economia americanas que já não prescindem de muita dessa mudança. Temos de ter noção que podemos querer crescimento económico e demográfico, mas o que não vamos ter é crescimento do planeta. O planeta é só um e temos que viver com os recursos deste planeta."
Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da CM Gaia
"Estamos a falar daquele que, pelo menos para mim, é provavelmente a pessoa mais inspiradora na política mundial. E portanto a mensagem quer de reforço da democracia quer de combate às alterações climáticas é uma mensagem absolutamente estruturada e, sobretudo, o que não é normal nos políticos - e ainda mais quando saem das funções - é uma mensagem coerente com aquilo que ele próprio fez. E é muito positivo que seja uma mensagem que vem dos Estados Unidos, quando se sabe que os EUA estão a abandonar muitos dos acordos, como o de Paris, e dos modelos de relações internacionais que tinham até agora. Por isso acho que é uma mensagem inspiradora, saímos com a alma um bocadinho mais cheia.
Começa-se a perceber, e talvez tenha sido o maior interesse da conferência, que já não falamos das alterações climáticas como uma abstração, mas falamos já como uma consequência direta na qualidade das uvas, na capacidade de produção de uma região, no impacto económico que isso tem, nos postos de trabalho. Ou seja, julgo que as pessoas vão começar a mobilizar-se para esta temática à medida também que perceberem que é uma temática mundana, no sentido que afeta cada um dos nossos cidadãos e do nosso dia-a-dia.
As alterações climáticas tiveram um tempo em que eram muito referidas como uma grande abstração, como uma coisa que um dia poderia acontecer. Hoje percebe-se que é uma realidade. E por isso a Taylor's e a organização estiveram muito bem ao tratarem este assunto muito relacionado com o futuro desta atividade económica em concreto, que nos diz muito a nós do norte.
Falou da realidade portuguesa e assemelhou-a à própria realidade que ele conhece dos Estados Unidos, dando o exemplo do seu estado, o Ohio, que tem pela sua morfologia e linha de mar um problema muito sério com a potencial elevação do nível da água. Mas também porque se sabe que os EUA têm zonas, como a Califórnia, com uma produção de vinho muito forte. Portanto, é uma preocupação que ele veio cá trazer, que nos diz respeito porque somos os organizadores, mas em que ele repercutiu também a sua própria realidade. E depois é um homem com uma mundividência que eu não conheço mais nenhum. E de vez em quando nós precisamos muito de ouvir gente desta, porque as pessoas estão fartas de ouvir coisas sem sentido e banalidades, na política e em vários outros setores. E um homem destes enche-nos a alma."