O corte de cabelo não mudou assim muito. Os piercings e as tatuagens também não. E as roupas escuras preservam uma identidade sombria bem vincada no estilo. Lisbeth Salander, a hacker justiceira da famosa trilogia Millennium, de Stieg Larsson, está de volta com uma diferença essencial: desta feita já não é Rooney Mara quem nos surpreende debaixo do capuz preto da protagonista, mas a atriz da série The Crown, Claire Foy (que vimos também, recentemente, em O Primeiro Homem na Lua)..Para desilusão de Mara, que chegou a mostrar-se mais do que disposta a regressar ao papel desafiante que a pôs no mapa de Hollywood, a troca aconteceu porque o novo realizador, o uruguaio Fede Alvarez, quis renovar o elenco no sentido de tornar o novo filme seu dos pés à cabeça - isto é, negando qualquer vestígio da assinatura de David Fincher, que, segundo a sua teoria de realização, estaria também associada aos atores do anterior Os Homens Que Odeiam as Mulheres (2011)..Mesmo não sendo uma proeza, o elenco deste A Rapariga Apanhada na Teia da Aranha não é de deitar fora. Para além de Foy, que é mais do que competente em assegurar a linguagem corporal e densidade psicológica de Lisbeth Salander, surge, na pele do jornalista Mikael Blomkvist, o sueco Sverrir Gudnason, que no ano passado assumiu uma brilhante interpretação do célebre tenista Björn Borg. O que é que junta as duas personagens desta vez? Um caso de corrupção governamental que começa com o criador de um perigoso programa de computador a tentar travar as nefastas consequências da sua própria criação, recorrendo aos serviços de Salander. Mas, claro, isto não fica por aqui: depois de roubarem o computador da hacker e lhe incendiarem a casa, a situação torna-se mais pessoal do que a princípio se fazia crer....A Rapariga Apanhada na Teia da Aranha é o quinto filme da saga Millennium, que começou com três produções suecas protagonizadas por Noomi Rapace, mas trata-se apenas do segundo com produção e selo comercial americano. A questão é que já não tem como base direta a literatura de Larsson. Após a morte do jornalista e autor sueco, David Lagercrantz encarregou-se da continuação da série, não só tirando partido do sucesso literário da trilogia mas também garantindo à indústria cinematográfica o material necessário para fazer render o peixe. Entretanto, o livro seguinte - O Homem Que Perseguia a Sua Sombra (Ed. Dom Quixote) - foi publicado no ano passado, mas, antes de se avançar para uma eventual adaptação, as bilheteiras vão ter de medir o pulso ao recém-chegado... Virá aí um franchise? Tudo leva a crer que sim..De resto, aparte a mudança de elenco, o que Fede Alvarez fez para tornar A Rapariga Apanhada na Teia da Aranha um objeto autoral não se revela especialmente arrojado. É certo que o filme trabalha os elementos do thriller e da ação com evidente eficácia - aproveitando inclusive o imaginário gélido associado à paisagem de um inverno sueco -, mas em nenhum momento se sente algo mais do que a confortável rotina deste género de produções. O único aspeto que procura quebrar o gelo é mesmo a componente psicológica da personagem de Foy, que é explorada de acordo com a sua obscura história pessoal (por essa razão, o preâmbulo do filme é uma cena da sua infância)..No fim de contas, estamos sempre perante o vulto da mulher que castiga os homens que magoam as mulheres. E é essa sua constante missão enquanto heroína que, precisamente, falhou algures nesta história, levando uma aranha a preparar a teia para a apanhar..** Com interesse