O portista e escravo do compromisso que conquistou o País na cadeira da Federação

Livro de João Marcelino expõe êxitos do presidente da Federação Portuguesa de Futebol nos últimos dez anos. A Cidade do Futebol, o Euro 2016, a não ida para a UEFA e as Champions conseguidas são alguns deles.
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"Prometeu e cumpriu. Projetou e fez. Sonhou e realizou. Afirmou, vezes sem conta, Portugal no mundo. E Portugal agradece-lhe. Pela voz do Presidente da República Portuguesa". Eis Fernando Gomes pela voz de Marcelo Rebelo de Sousa, no prefácio do livro Fernando Gomes: 10 anos de Presidência na FPF, de João Marcelino, que será na segunda-feira apresentado na Associação de Futebol do Porto, cidade onde nasceu a 21 de fevereiro de 1952.

O livro resume a obra do presidente, que cumpre dez anos na Federação, sem esquecer a vida de jogador de basquetebol do FC Porto e o caminho até à cadeira mais alta do poder futebolístico português... que passou pelo Dragão. "E como é que se alcançam 14 títulos mundiais e europeus em dez anos?", questiona o autor, um jornalista e antigo diretor do Diário de Notícias, expondo depois todos os títulos ganhos. O hall da Cidade do Futebol passou a ser um museu recheado de sucessos da gestão. De todos, um em especial: O troféu Henri Delaunay ganho no Euro 2016.

No livro, Gomes recorda o que sentiu quando Cristiano Ronaldo saiu lesionado na final desse Europeu, com a França: "Claro que nessa altura me assaltaram imensas dúvidas sobre a capacidade da nossa reação (...) A equipa uniu-se ainda mais, teve uma atitude fantástica. Todos percebemos que tínhamos tido um contratempo, mas o jogo, para nós, não acabava ali." Só acabou com o troféu na Cidade do Futebol graças a um golo de Eder.

O sucesso dos 10 anos de governação mede-se em troféus, mas também em milhões. O orçamento de cerca de 100 milhões de euros permitiu libertar recursos para ajudar o futebol português em tempo de pandemia. A maior obra, essa foi tirar a Cidade do Futebol do papel e criar um projeto e mentalidade vencedores nas cores nacionais. "Hoje em dia é impensável que Portugal não se apresente em todos os jogos para ganhar e em todas as competições para discutir o triunfo. Os resultados falam por si e o reconhecimento internacional do nosso valor deve-se também às excelentes prestações e aos títulos que temos vindo a conquistar", elogia Cristiano Ronaldo no livro.

Fernando Gomes recordou ainda aquele dia 17 de novembro de 2015, dia do jogo particular da seleção no Luxemburgo, em que acordou com uma paralisia na mão esquerda e teve de ir para o hospital (sofreu um acidente isquémico). Nessa altura era apontado como futuro presidente da UEFA, mas ele disse "não, apesar dos apoios fortíssimos". Porquê? Não por motivos de saúde, mas porque, segundo ele, estava demasiado envolvido no projeto da Federação e dossiers importantes como a construção da Cidade do Futebol. Deu então o apoio a Aleksander Ceferin. O amigo esloveno "tinha ouvido uns rumores"e, na véspera na final da Champions em Milão, em 2016, perguntou-lhe se ia ou não avançar. Gomes respondeu: "Está descansado. Não serei candidato e podes contar com o meu apoio."

Ceferin foi eleito e hoje não poupa elogios ao português. "O Fernando é isento, dedicado e leal. Determinado quando necessário, mas suave e gentil no dia a dia. Um verdadeiro cavalheiro. O Fernando foi o elemento decisivo que nos permitiu encerrar com sucesso a temporada 2019-20 da Liga dos Campeões. Quando o mundo inteiro estava a fechar, ele aceitou a minha palavra e acreditou nas minhas garantias, embora tivesse pouco a oferecer-lhe naquele momento. Bem, o resto é história", conta Ceferin no livro, referindo-se à inédita e revolucionária final four da Champions, ganha pelo Bayern Munique no Estádio da Luz. Com Fernando Gomes na presidência, Portugal recebeu três finais da Liga dos Campeões em sete anos (2014, 2020 e 2021).

Se, para Hermínio Loureiro, ele "é escravo dos compromissos"e alguém para quem "a palavra tem um valor brutal", para José Mourinho "ele não vive de protagonismo, é uma pessoa que vive do trabalho e do contributo que dá à entidade onde se encontra". E isso explica como este "homem discreto, credível, conseguiu ultrapassar o estigma" do clubismo: "Fernando Gomes é portista e, ainda assim, conseguiu impor-se à consideração geral do País", escreve João Marcelino, hoje comentador do Canal 11, o último grande projeto da Federação.

Foi eleito presidente da FPF a 10 de dezembro de 2011. Nem tudo correu bem. Antes do sucesso visível houve um sofrível Mundial 2014 no Brasil que o fez avançar com revoluções em várias áreas, incluindo substituir Paulo Bento por Fernando Santos (ver caixa). Reeleito para o terceiro e último mandato (até 2024), quando lhe perguntam o que ainda quer fazer no tempo que lhe falta no cargo, Fernando Gomes destaca a terceira fase da Cidade do Futebol, com a construção do pavilhão para o futsal, atingir os 300 mil praticantes no futebol e aumentar a prática do futebol feminino. Além de, claro, conquistar mais troféus europeus e mundiais - há dois troféus em falta no hall, o de campeão europeu de Sub-21 e a Taça Jules Rimet (campeão mundial).

Fernando Gomes ambiciona ainda solidificar a Federação no panorama internacional e garantir a sustentabilidade do organismo para lá de 2024, deixando assim uma boa herança a quem vier a seguir. E quem será? Essa é uma questão que não está no livro, mas cuja resposta todos querem saber.

isaura.almeida@dn.pt

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