O político corrupto que confessou tudo em direto

"Ao Vivo e em Direto" entra hoje em cena e junta Paulo Pires e Rui Mendes no palco
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Ouve-se Amy Winehouse, depois o "¿Por qué no te callas?" de Juan Carlos dirigido a Hugo Chávez; mais à frente, Susan Boyle no programa televisivo Britain"s Got Talent, Barack Obama com o seu "Yes, we can" e, por fim, Camané a cantar A Minha Rua: "E só espero pelo verão para pôr a rua a meu jeito." É aí, depois da cacofonia, que entramos Ao Vivo e em Direto na peça que Raul Malaquias Marques escreveu - e com ela venceu o Grande Prémio de Teatro Português em 2014 - e Fernando Heitor encenou.

Nenhuma das personagens tem nome. Não sabemos por que nome respondem Paulo Pires, Rui Mendes, Maria Emília Correia ou Dina Félix da Costa, alguns dos atores que, a partir desta noite, sobem ao palco do Teatro Aberto, em Lisboa, para representar Ao Vivo e em Direto. A peça põe em xeque um mundo que o encenador descreve como "orwelliano" e "onde não é desonroso roubar, matar ou enganar quem quer que seja". Da banda sonora do início, disse ainda Fernando Heitor: "Só teve uma preocupação, localizar que isto se passou nos últimos anos. Não é uma coisa dos anos 70 nem do futuro, é uma coisa que se passou agora."

Agora. Não sabemos em que lugar, mas sabemos que a época nos é contemporânea. Assistimos ao destino de um homem que, vinte anos depois de um processo que lhe deu o cognome "o Intangível", procura um diretor de informação de uma televisão e pede uma entrevista. "Há anos que o homem que sou se quer livrar do homem que fui", ouvimos aquele ex-ministro e dirigente político dizer.
Ele vai contar, em direto, que mentiu, falsificou, subornou e foi subornado, e esteve envolvido no assassínio que investigava o processo que foi chamado de Operação Lavagante, onde nenhum dos arguidos foi considerado culpado. "Achei que era interessante transformar isto tudo num estúdio, como se isto fosse quase a gravação de uma série. A Maria Emília Correia, quando deixava de ser a esposa do Rui Mendes, era se calhar a Maria Emília Tavares que estava ali à espera de entrar em cena. Achei que havia mais envolvência nisso, sem nunca perderem os personagens", explicava Fernando Heitor depois de um ensaio.

Sem contar os meandros e o nó da trama, adianta-se apenas que, a certa altura, há uma morte na peça. E que tudo acontece em direto, assim como todas as reações acontecem em direto. As conclusões cabem ao espectador, a quem talvez seja - ou não - útil saber que Raul Malaquias Marques, autor do texto, foi jornalista. Tudo o mais que a peça representa são, como a certa altura uma das personagens descreve, "sinais dos tempos..."

De quarta a sábado, às 21.30, e no domingo às 16.00. Em cena até 22 de maio no Teatro Aberto, em Lisboa 7,5 euro/15 euro

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