Porquê Em Águas de Bacalhau? A exposição, originalmente, tinha um nome diferente, era uma parvoíce qualquer, não tinha piada. E muito rapidamente o nome passou para Em Águas de Bacalhau por razões óbvias, o planeta inteiro está em águas de bacalhau há quase dois anos. Porquê o bacalhau? Por estar ligado à cultura portuguesa ou porque é um peixe interessante de fotografar? Sim. Porque sou português e porque, eu pelo menos, não fazia a mínima ideia de como era um bacalhau, pensei que era achatado e sem cabeça. Onde fotografei, aqui na Noruega, em relação ao mundo inteiro, é o único sítio onde é possível pescar bacalhau nesta altura do ano, devido às temperaturas. Para esta exposição editei fotografias mais impressionistas, ou seja, que mostram o que eu estava a sentir, e não necessariamente o que se está a ver, com a adição de mostrar às pessoas como é um bacalhau real num sítio em que a pesca é mais tradicional, sustentável e com as componentes que cada vez menos a pesca tem. O que descobriu com este tipo de fotografia aquática? Comecei a fotografar dentro de água com 12 anos talvez, e desde 2011 que faço fotografia profissionalmente, e antes estava ligado à medicina. Quando se vê uma fotografia da pedra da Lua, o valor é contextual, ou seja, se não se souber o que é, não tem valor nenhum. Se existissem viagens à Lua e toda a gente pudesse ir, ao fim da milionésima fotografia da lua as pessoas já tinham que começar a fotografar uma coisa qualquer. Ou pelo menos fotografar a pedra de outra maneira, e é aí que se dá o passo para fotografar não aquilo que se vê mas aquilo que se sente.. O que foi e o que é mais difícil neste tipo de fotografia? Fotografar dentro de água é complexo. Talvez seja dos poucos sítios onde a fotografia possa estar envolvida com questões de vida ou morte. É fácil as coisas correrem mal e morrer-se a fotografar. Já fui atacado por vários animais dentro de água. Uma vez, em Moçambique, estava a fotografar sozinho e quando olhei para cima estava um tubarão a tentar atacar-me. Quando o flash da máquina fotográfica disparou, o tubarão ficou cheio de medo e desapareceu. Isto tem piada. Este tipo de fotografia diverte e atrai-me. É uma fotografia complexa tecnicamente, porque o animal e o fotógrafo mexem-se, a máquina tem de ter certas características para não entrar água, tem de existir iluminação própria, porque debaixo de água a luz não chega. E a edição fotográfica é também difícil..Citaçãocitacao"É fácil as coisas correrem mal e morrer-se a fotografar. Já fui atacado por vários animais dentro de água.". Qual o impacto que espera que a exposição possa trazer ? Só se protege aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece. Desde pequeno que gostava de estar dentro de água e que comecei a ver lixo. Nós temos aquele hábito de longe dos olhos, longe do coração. Durante muitos anos o lixo foi deitado ao mar e "desaparecia", só que para mim não, porque estava lá para ver. Portanto, achei que a melhor forma de tratar o problema é mostrar a beleza natural das coisas, é mostrar aquilo que se sente quando se fotografa, mais do que o que se vê. O objetivo é conseguir que as pessoas vejam e protejam o bom que temos. Isso é sempre o cerne daquilo que faço. Já tem ideias para novas exposições? É uma pergunta simples, mas não tem uma resposta simples. Tenho este projeto de fotografia subaquática há muitos anos, que remete para o lado da arte em que o objetivo é que este tipo de fotografia saia do documental para o mais impressionista, digamos assim. Gostei imenso de fazer um projeto em Lisboa, na Mãe D"água. A Mãe D"água é um reservatório final ou um dos reservatórios finais da coleta de água que alimentava as fontes em Lisboa. Tenho exposições por todo o lado e quando as fiz gostei. Tiveram o tempo delas. As próximas exposições, falo num quadro temporal dos próximos nove meses, serão em Portugal, ligadas à pesca tradicional do país, na Noruega, uma continuação do que eu fiz da Mãe D"água relacionada com a beleza da imponderabilidade, ou seja, tentar fotografar o corpo humano mostrando que a gravidade pode deixar de ser um fator da expressão corporal. Há potencial para existir outra nos Estados Unidos sobre a forma como o ramo da alta competição é visto. Em Àguas de Bacalhau vai estar patente em mais locais em Portugal? Sim. O Museu de Ílhavo mostrou interesse para o próximo ano, porque o museu está ligado à pesca do bacalhau, à vertente portuguesa. Será a mesma exposição, mas com outras fotografias.. Como comenta o estádo de arte da fotografia, como a sua, em Portugal? Eu não tenho área. Talvez por isso é que estou a tentar fazer com que a fotografia subaquática saia do gueto onde ela própria se meteu. A fotografia como forma de expressão é muito importante, já passámos além da discussão se é arte ou documento, a mesma está a sofrer algumas pressões contextuais relativamente a existirem muitos e poucos fotógrafos ao mesmo tempo. Já há muita gente com máquinas fotográficas no telemóvel e que consome a fotografia na mão, mas, ao mesmo tempo, a forma como a fotografia precisa de se desenvolver está completamente do lado oposto dessa democratização. A fotografia vive tempos que vão ser definitivos, está a mudar de meio de produção, utilização, mas não muda muito de léxico. Se toda a gente produzir biliões de fotografias todos os dias, ainda é mais importante a forma como a fotografia deve ser feita, devido ao efeito que vai ter sobre as pessoas.. dnot@dn.pt