O Passaporte para os atores portugueses sobreviveu à pandemia
Se já começamos a achar que é habitual vermos atores portugueses em filmes de Hollywood ou em séries de impacto global da Netflix a culpa é também do Passaporte, iniciativa pensada pela diretora de casting Patrícia Vasconcelos e co-produzida pela Academia de Cinema, que todos os anos junta casting diretors de todo o mundo para virem a Portugal verem os nossos talentos.
A edição cinco está aí mesmo em ano de pandemia e Pedro Hossi, Alba Baptista, Beatriz Batarda , Pêpê Rapazote, Gonçalo Waddington, Rita Blanco e Daniela Ruah são alguns dos atores seleccionados. Por Lisboa, entre presenças físicas e virtuais, vão estar os casting diretors de filmes como System Crasher, das séries White Lines, Casa de Papel e até um casting director ligado à Paramount. Este passaporte direto para a internacionalização dos nossos atores já "exportou" mais de 24 atores portugueses. Por exemplo, a presença de Lídia Franco no "blockbuster" Underground 6, de Michael Bay, foi graças a Priscilla John, agente de casting que foi convidada. Entre outros casos de consequência direta destes encontros estão Ivo Alexandre, visto em Vikings ou Marco D'Almeida, escolhido para Fátima, filme americano sobre o Milagre da Cova de Iria que, entretanto, continua a aguardar data de estreia.
Além dos encontros individuais com os atores seleccionados, o programa inclui uma série de workshops, nos quais, seguramente, haverá boas dicas para saber fazer uma gravação de "self-tape" pronta a enviar para os quatro cantos do mundo.
"Esta ideia do Passaporte nasceu há muitos anos quando fui percebendo que os casting directors que conhecia acabam por ir parar todos os anos a Espanha e nem lhes passava pela cabeça virem a Portugal...Era como se o país nem existisse no mapa. Fui-lhes dizendo que iam ficar surpreendidos pelos nossos talentos e pela forma como eles falam um inglês com melhor sotaque do que os espanhóis...A minha grande pretensão era que esses casting directors não fossem apenas à procura de atores portugueses para papéis de portugueses e logo no primeiro ano conseguimos isso! O objecto era que os atores que estão em Portugal pudessem ser equacionáveis como quaisquer outros", conta Patrícia Vasconcelos.
Qualquer ator em Portugal pode concorrer a estes encontros, bastando preencher uma candidatura e submeter-se a um júri internacional, ou seja, não basta ter um bom currículo e algum nome - é preciso prestar algumas provas. Em cada ano são escolhidos dez. Para Vasconcelos a organização desta edição tem sido sobretudo um desafio logístico com todas as restrições desta pandemia. De 20 convidados passou-se para dez presenciais - "é um desafio permanente, mas gosto de desafios. Não me vou deixar vencer. Os meetings vão ter de ser com o distanciamento obrigatório. O ator vai ter uma viseira e não uma máscara, o seu rosto vai ter de ser visto".
A edição deste ano tem uma atriz que está numa demanda de popularidade que é inédita em Portugal. Chama-se Alba Baptista e já está com um pé em Hollywood (tem um projeto internacional secreto e a segunda temporada da série de sucesso Warrior's Nun, na Netflix), mas esta edição do Passaporte ainda pode exponenciar o seu nome. Dê por onde der, será o nome mais procurado desta edição. A atriz portuguesa acabou de filmar L'Enfant, produção francesa de Paulo Branco. É o que se chama estar em todas. Aliás, Alba é um símbolo de uma onda de sucesso de atores portugueses. Nos próximos tempos, quer no cinema, quer no streaming, vai ser comum ver atores portugueses em produções relevantes internacionais, que o digam Albano Jerónimo, Diogo Morgado, Joana Ribeiro ou Daniela Melchior... Por isso mesmo, faz sentido falar em "portuguese hype". "Faz todo o sentido", diz Patrícia Vasconcelos ao mesmo tempo que relata o seu sonho: " Esse hype é o meu grande sonho. Uma vez até sonhei com uma capa da Variety onde aparecem o Nuno Lopes, Joana Ribeiro, Albano Jerónimo e mais uns quantos e cujo o título diria Os Atores Portugueses a dominar o mundo".