O país real e o país da propaganda
O Governo continua a mostrar-se perito em manobras de ilusão. Depois de ter feito aprovar um Orçamento do Estado para o que resta de 2022 com previsões macro-económicas já desmentidas pelos factos, insiste na lenga-lenga da "devolução de rendimentos" que a realidade nega todos os dias.
Na semana que terminou, Portugal registou a maior taxa de inflação desde 1993: subiu aos 8%. Com a consequente depreciação do poder de compra. Em vez de enfrentar o problema, e de assumi-lo, o Governo encarrega-se, através dos seus propagandistas de serviço, de garantir que se trata de uma inevitável consequência da guerra. Mas já o último trimestre de 2021, muito antes da invasão russa à Ucrânia, tinha sido marcado pelo fenómeno inflacionista. Quase sem reflexo na proposta orçamental.
Na mesma semana, ficou confirmado, agora com a insuspeita chancela do Banco de Portugal, aquilo que já se suspeitava: a dívida pública portuguesa aumentou 3 mil milhões de euros em Abril. Com quatro meses consecutivos sempre a crescer. Atinge agora 279 mil milhões de euros, o que constitui novo máximo absoluto.
Negar as evidências, mascarando-as de medidas virtuosas, enquanto se renovam juras contra a "austeridade" com os preços dos bens de primeira necessidade a subirem todos os dias. Tudo isto revela até que ponto António Costa confunde a sua própria propaganda com a realidade.
Mas a propaganda e o desfasamento da realidade não são um exclusivo do governo socialista. Existem aqueles que fingem ser oposição e se comportam como marcas brancas do PS. E outros que até costumam falar alto contra a maioria socialista mas acabam por alinhar com ela nos momentos decisivos, sempre que encontram um pretexto para aumentar a despesa pública.
Um levantamento feito na semana passada pelo Observador demonstrou-o. A bancada parlamentar do Chega foi aquela que mais se juntou ao partido do Governo durante as votações do Orçamento, viabilizando muitas propostas apresentadas pelos deputados do PS. Logo seguida do PAN e, a maior distância, do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista.
A mesma análise assinala que a Iniciativa Liberal se destacou, pelo contrário, na rejeição destas propostas. Assumindo-se sem complexos e factualmente como verdadeira força de oposição ao poder socialista. Não apenas nos momentos em que se vota na sala das sessões do parlamento, mas também no combate à escalada da dívida pública e à constante degradação dos serviços públicos, que estão a tornar-se nos símbolos mais preocupantes do executivo liderado por António Costa.
A IL demarca-se de outros partidos que, neste debate orçamental, andaram ao despique a ver qual propunha mais medidas destinadas a fazer disparar ainda mais a dívida pública. Partidos como o PCP, Bloco e PAN, o que não constitui surpresa, mas também como o Chega, réplica da esquerda na sua visão estatista da sociedade. Estas formações políticas pareciam querer disputar o campeonato do aumento da despesa, tantas e tão divorciadas da economia real foram as propostas que subscreveram só a pensar nos funcionários do Estado. O que na verdade não pode surpreender, pois já se tinham coligado para apoiar a injecção de 3.200 milhões na TAP.
Quando o populismo mais vocal se conjuga com o marxismo mais dogmático, nada há a esperar de bom. É o coro da irresponsabilidade. Entretanto, a "austeridade" aí está. Como infelizmente sabem os portugueses nos seus orçamentos domésticos. O país real nada tem a ver com o país da propaganda.
Deputado.
Escreve de acordo com a antiga ortografia