O Museu do Desporto fechou mas pode ganhar edifício novo no Jamor
Do coração de Lisboa (Palácio Foz, nos Restauradores) para o coração do Jamor? O Museu Nacional do Desporto está fechado para obras desde dezembro, mas pode ganhar um edifício novo em breve. "O gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto e o Instituto Português do Desporto e da Juventude, encontram-se a estudar, com o Município de Oeiras, uma solução permanente que passa pela construção de um novo edificado nos terrenos do Alto da Boa Viagem", disse ao DN o gabinete de João Paulo Correia.
Ou seja, no Complexo Desportivo do Jamor (Oeiras)... a escassos metros do Estádio Nacional, do Complexo das Piscinas, onde já existe o polo do Centro Interpretativo do Jamor, e da nave de atletismo Moniz Pereira. A Cidade do Futebol fica a pouco mais de um quilómetro, mas separada por uma via rápida e sem acesso pedonal.
Tudo dependerá da localização, mas construir um espaço novo nos 230 hectares do Jamor tem que se lhe diga. Além da Liga dos Amigos do Jamor ter recorrido várias vezes aos tribunais para impedir qualquer construção na Vale do Jamor, a zona pode ser qualificada como património nacional em breve - desde 2019 que aguarda decisão da Direção-Geral do Património Cultural - e, nesse caso, objeto de rigoroso escrutínio.
Para já a ideia estudada passa por construir um museu de raiz no Alto da Boa Viagem. Há muito que os responsáveis do IPDJ, entidade que tutela o Museu, pensam numa solução que inclua o Jamor e até uniram esforços com a Câmara Municipal de Oeiras nesse sentido, tentando recuperar a chamada Casa EDP, que há anos se exibe devoluta - mas desde 2017 que a EDP tem recusado vender o edifício, segundo o município.
Inaugurado no Palácio Foz a 12 de julho de 2012, ano em que Portugal comemorou os 100 anos de participação nos Jogos Olímpicos (Estocolmo 1912), o Museu Nacional do Desporto, que sediava a Biblioteca Nacional do Desporto, disponibilizava ao público um acervo significativo sobre a história do Desporto em Portugal.
Fechou para obras em dezembro, devido ao mau tempo que se abateu sobre Lisboa e levou à queda de parte do teto do palácio. Por isso foi necessário retirar o espólio do espaço, mas, há pelo menos dois anos, que o Museu tinha indicação que iria sair do edifício da zona do Restauradores.
Agora, concretizada a saída, e enquanto se prepara uma solução definitiva que valorize o espólio, o IPDJ lançou o programa itinerante Museu Fora de Portas, que irá levar ao território nacional as várias exposições temáticas. A começar por Viana do Castelo - Cidade Europeia do Desporto.
O Centro Cultural de Viana do Castelo recebe desde o dia 30 de março e até 31 de maio e com entrada gratuita as exposições: 10 Anos de Museu Nacional do Desporto 2012-2022; Jamor. O Palco Maior do Desporto Nacional; Ténis em Portugal de 1875 a 2019; Moniz Pereira. O Treinador e os Atletas; Cartazes dos Jogos Olímpicos e Mulheres na Imprensa Desportiva.
O Museu é curador do acervo completo das exposições de Moniz Pereira após receber doações da família, nomeadamente da filha Leonor. O Senhor Atletismo tinha uma sala só para ele, que será transportada para um espaço aberto ao público, no perímetro do Centro Desportivo Nacional do Jamor.
Desde um desenho do Rei D. Carlos com uma raquete de ténis à medalha comemorativa da maior derrota da seleção nacional de futebol. Dos patins em madeira do príncipe Luís Filipe de Bragança (século XIX) às chuteiras de Cristiano Ronaldo, passando por um autógrafo de Jesse Owens - o atleta negro que humilhou Hitler ao conquistar quatro medalhas de ouro em Berlim 1936 -, o espólio do Museu Nacional do Desporto é vasto - mais de 50 mil objetos - e rico em história.
Umas chuteiras de Cristiano Ronaldo, camisolas de Luís Figo e Fernando Peyroteo, bem como uma camisola usada por Hélder Postiga no Euro 2004 e uma bola assinada por todos os jogadores da seleção nacional que perderam a final do europeu com a Grécia, fazem parte das relíquias do museu.
Os ténis que Nélson Évora utilizou para vencer o triplo salto nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 são uma das joias do museu, que tem ainda umas sapatilhas de Fernanda Ribeiro. Existe também uma moldura com a camisola que Rosa Mota vestiu em Los Angeles 1984 para conquistar a medalha de bronze - a primeira de uma atleta portuguesa nuns Jogos Olímpicos. O kimono que a judoca Telma Monteiro usou em Londres 2012 e o equipamento da triatleta Vanessa Fernandes, prata em Pequim 2008, também fazem parte do acervo.
Uma exposição biográfica de Moniz Pereira, com fotografias, bilhetes de cinema e teatro, medalhas e troféus, pautas musicais e objetos que testemunham mais de 90 anos de uma vida dedicada ao desporto, principalmente ao atletismo e ao Sporting. Foram cedidos pela família.
A Biblioteca Nacional do Desporto é outro dos ex-líbris do museu. Entre os milhares de livros e monografias, vídeos e suportes áudio, está aquele que é considerado o primeiro livro de desporto do mundo - De Arte Gymnastica, de Hieronymus Mercurialis - editado em 1577.
Os primórdios da Volta a Portugal em bicicleta estão documentados. A camisola arco-íris de Rui Costa, nos Mundiais de Estrada em ciclismo (2013) ou a Grand-Bi, antecessora da bicicleta estão entre os itens de ciclismo.
isaura.almeida@dn.pt