O Halloween também passa pelo ecrã

Com ou sem abóboras iluminadas, a tradição da noite mais assustadora do ano continua a pedir um programa especial. Eis algumas sugestões para celebrar o Dia das Bruxas.
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Houve um tempo em que as pessoas se juntavam para contar histórias assustadoras. Agora é mais através dos filmes que essas histórias são procuradas, para assinalar o espírito de Halloween, noite profana que antecede a celebração cristã do Dia de Todos os Santos. A cumprir o calendário, as salas de cinema têm em cartaz Halloween Mata, de David Gordon Green, mais um capítulo da saga do serial killer Michael Myers, que não podia faltar à chamada. Porém, é A Noite Passada em Soho, de Edgar Wright, em estreia nesta semana, que traz sangue novo à temática, com um conto de terror londrino a convocar os espectros dos anos 1960. A protagonista (Thomasin McKenzie) é uma jovem estudante de moda e amante dos sixties, que, depois de arrendar um quarto no Soho, se vê transportada para essa época, através da visão de uma aspirante a cantora (Anya Taylor-Joy). Um sonho a certa altura transformado em pesadelo, com uma festa de Halloween demasiado intensa e uma espécie de doçura negra que não deixa ninguém indiferente...

Para os mais novos, uma animação: A Família Addams 2 tenta cumprir os mínimos do universo pouco convencional das personagens criadas por Charles Addams, mas falha redondamente. O antídoto ideal é mesmo redescobrir, na Netflix, o original A Família Addams (1991), de Barry Sonnenfeld, com uma icónica Anjelica Huston a dominar a linguagem do macabro, num humor apropriado a quase todas as idades. Nessa mesma plataforma de streaming, recomenda-se ainda a série de filmes Hotel Transylvania, com uma família não menos animada sob a liderança do Conde Drácula, o excelente thriller de Alejandro Amenábar, Os Outros (2001), com Nicole Kidman a educar crianças fotossensíveis numa casa vitoriana assombrada, e dir-se-ia que a maior pérola escondida no catálogo, pela adequação ao tema, é um filme de 1945 (com impecável restauro): A Dança da Morte, de Alberto Cavalcanti, Charles Crichton, Basil Dearden e Robert Hamer. Uma antologia de terror que começa com a chegada de um arquiteto a uma casa de campo onde é recebido por um conjunto de convidados, apercebendo-se de que, embora não conheça nenhum deles, já os viu a todos... naquela exata circunstância. É a angústia de um homem consciente de estar dentro de um sonho que tem recorrentemente, e que desencadeia uma série de segmentos/histórias contados por cada um dos presentes na sala, para combater o ceticismo de um deles em relação ao sobrenatural. De aparições a espelhos, passando por um ventríloquo maléfico, aqui está a garantia de um fabuloso serão. Trata-se de um dos raros e mais influentes filmes de terror britânico produzidos nos anos 1940, quando estes foram proibidos por causa da guerra.

Em matéria de clássicos de culto, não faltam propostas. Ainda no streaming, a Filmin tem A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de George A. Romero, essa bíblia dos filmes de apocalipse zombie, Christine, O Carro Assassino (1983), de John Carpenter, sobre um diabólico Plymouth Fury de 1958, com nome de mulher e personalidade possessiva, e a obra-prima do francês Georges Franju, Olhos sem Rosto (1960), uma poética derivação de Frankenstein. Para os nostálgicos do fantasma mais amigável do ecrã, a HBO Portugal acaba de adicionar à sua oferta Casper (1995), de Brad Silberling, e os canais TVCine apostam em Carrie (1976), fortíssima adaptação do romance de Stephen King, sobre uma jovem com poderes telecinéticos (Sissy Spacek num papel memorável), pelo realizador de lente cirúrgica Brian De Palma - passa amanhã no TVCine Action, às 20h55, seguido da versão de 2013, com Chloë Grace Moretz.

Por sua vez, ao Disney+ chega um especial de TV feito para a ocasião. Os Marretas em Haunted Mansion, de Kirk R. Thatcher, junta Gonzo e Pepe numa noite cheia de travessuras. Seduzidos pelo desafio de passar o Halloween na casa assombrada do título - que é uma atração da Disneyland -, onde um famoso mágico desapareceu há cem anos, os dois compinchas furtam-se à festa anual organizada pelo Sapo Cocas e Miss Piggy arriscando a vida para enfrentar os seus medos... Quer dizer, Pepe está mais iludido com a ideia de lá encontrar uma sala cheia de gente VIP (sai-lhe o tiro pela culatra, claro). Paródia, múltiplas referências e números musicais, ou seja, tudo o que faz as delícias dos fãs de The Muppets, estão contidos nesta aventura de sustos, fantasmas e bolas de cristal, com portas e corredores que parecem não ter saída.

No mesmo serviço de streaming, os possíveis complementos à novidade dos Marretas têm selo Tim Burton. Nunca é de mais revisitar a fantasia gótica Eduardo Mãos de Tesoura (1990), mas também a animação Frankenweenie (2012), brilhante stop motion sobre um rapaz que quer ressuscitar o seu falecido cão (o cineasta recuperou e aumentou aqui uma curta-metragem homónima sua de 1984, muito pouco vista), e O Estranho Mundo de Jack (1993), animação desta vez assinada por Henry Selick, com história e personagens da autoria de Burton, que misturou os imaginários do Halloween e do Natal. Com tanto à disposição do espectador, pode dizer-se que a tradição dos mortos está bem viva.

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