O gestor do "poucochinho"
António Costa está no poder há oito anos. Tempo mais do que suficiente para concluirmos que foi o primeiro-ministro das oportunidades perdidas. A oportunidade de fazer Portugal convergir com a Europa. A oportunidade de pôr o elevador social a funcionar. A oportunidade de aqui fixar as gerações mais jovens. A oportunidade de reformar o país.
Recebeu mais dinheiro, em fundos europeus, do que qualquer outro governante português em muitas décadas. Do quadro comunitário Portugal 2020, do quadro comunitário Portugal 2030, do Mecanismo de Recuperação e Resiliência. Um milhão de euros por hora a entrar nos cofres públicos. Para quê? Para nada reformar e manter 20% da população em risco de pobreza ou exclusão social. Num país em que metade dos que trabalham não ganham o suficiente para pagar as despesas, segundo revelou em Setembro o Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade.
"Vai funcionando." Esta foi a resposta de António Costa a uma enfermeira que o confrontou sobre as falhas da rede de apoio aos idosos e doentes que precisam de ajuda após terem alta hospitalar. A revelação, feita pelo próprio primeiro-ministro em recente entrevista televisiva, ilustra bem a sua falta de ambição. O seu programa limita-se a isto. Cumprir os mínimos, nivelar por baixo. Tudo poucochinho, para retomar uma expressão que o próprio popularizou antes de chegar ao poder. Sem imaginar até que ponto esta frase iria virar-se contra ele.
Na proposta de Orçamento do Estado para 2024 que o Governo apresentou na Assembleia da República voltamos a ver este retrato do país em diminutivo, sempre poucochinho. Mesmo com promessas de redução do IRS, a carga fiscal continuará a aumentar por via dos impostos indirectos. Mantém-se a progressividade do IRC que trava a fixação de grandes empresas em Portugal. Na Administração Pública, só os salários mais baixos não perderão poder de compra. As reformas estruturais voltarão a ser adiadas, começando pela do Serviço Nacional de Saúde, cada vez mais caótico.
Isto num quadro macro-económico que nada tem de animador. Um quadro de queda nas exportações há cinco meses consecutivos. E de revisão em baixa das estimativas de crescimento do PIB, que deverá ficar-se pelos 2,1% em 2023 e não passar de 1,5% em 2024. Nada de novo. É o retrato de um país estagnado. O país que António Costa governa há oito anos.
Nunca pagámos tanto para termos prestações de tão má-qualidade e assim continuará a ser no próximo ano, como esta proposta orçamental deixa antever. Este é já um dos principais legados de António Costa, que gastou a palavra "social" nos seus discursos desde 2015, mas foi sempre incapaz de a transpor da propaganda para a realidade.
Com ele ao leme, Portugal estacionou no "poucochinho". Temos um país pobre, cada vez mais dependente dos milhões da Europa e com todos os sonhos de prosperidade adiados. António Costa é o gestor do "poucochinho".
O partido que tem ocupado o Governo em 21 dos últimos 28 anos continua a sugar a energia criativa dos portugueses. Continua a arrecadar milhões para distribuir tostões. Troca o reformismo pelo assistencialismo, contentando-se em distribuir migalhas enquanto remete Portugal para os lugares do fundo nas principais estatísticas europeias. "Vai funcionando", diz António Costa. Uma frase que diz quase tudo sobre ele. Um político acomodado, sem rasgo, sem uma visão transformadora do país.
Não tenhamos ilusões. Enquanto o PS governar, continuaremos assim. A ser pobres, a ser pequenos. Com esta visão de um Portugal "poucochinho".
Presidente da bancada parlamentar da Iniciativa Liberal
Escreve de acordo com a antiga ortografia