O gelo português deu ouro na Semana da Crítica

<em>Ice Merchants</em>, animação portuguesa de João Gonzalez, foi a grande vencedora de melhor curta na Semana da Crítica de Cannes. Outra conquista notável do cinema português.
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Vitória histórica das curta portuguesas num grande festival. Ice Merchants, de João Gonzalez, venceu o prémio de melhor curta-metragem na Semana da Crítica, uma das secções paralelas do festival. O prémio intitulado Descoberta Leitz Cine é uma importante conquista portuguesa em Cannes. Depois de Gabriel Abrantes ter arrecadado o melhor filme nas longas dessa mesma secção com Diamantino, outra vitória portuguesa. Ice Merchants torna-se assim um momento histórico da animação nacional e coloca Gonzalez no mapa dos cineastas a ter em conta, essencialmente por ser esta a sua terceira curta, a primeira como realizador profissional, contando com o apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual. O seu trabalho nesta história de dedicação paternal estende-se também a diretor de arte, animador e instrumentista e compositor da banda sonora.

Ice Merchants, além de uma história tocante, tem um visual arrepiante e um sentido poético em todo o seu movimento. Um filme que pede ao seu espetador que mergulhe com ele. Em Portugal é de se supor que possa estar presente no próximo Curtas Vila do Conde, em julho.

Segundo o realizador, em nota à imprensa, a fantasia foi o motor desta criação: "Algo que sempre me fascinou no cinema de animação é a liberdade que nos oferece para criar algo do zero, de raiz. Cenários e realidades surrealistas e bizarras que podem ser usadas como instrumento de metáfora para falar sobre algo que nos é comum na nossa realidade mais "real"."

Na competição, da Itália bom cinema de Nápoles. O sempre ativo Mario Martone filma um regresso de um homem cinquentão a Nápoles. Nostalgia é precisamente sobre a nostalgia dos lugares e da nossa memória. Pierfrancesco Favino é esse homem que vem de Beirute onde se tornou muçulmano e esqueceu as suas raízes. Veio visitar a mãe, senhora muito idosa que acaba por morrer. Mas nessa visita há uma sombra negra que espreita em cada esquina, um melhor amigo deixado para trás que hoje é um poderoso chefe da máfia local. Feito com uma delicadeza preciosa, sobretudo nas cenas iniciais com o confronto com a "napolificação" deste italiano, Nostalgia não é uma carta amor a uma cidade, é sim um testamento de amor. Talvez só não se torna mais eficaz quando para o fim parece querer cumprir o carimbo de uma "história da camorra"...Já está adquirido para Portugal...

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