O futuro começa hoje para Lorenzo Viotti
É esta noite que começa a primeira experiência de Lorenzo Viotti, 28 anos, num "posto fixo". Um ano depois de ter sido designado novo maestro titular da Orquestra Gulbenkian, com um contrato por três anos (renovável), o jovem franco-suíço inicia hoje oficialmente essas funções, dirigindo o Coro e a Orquestra Gulbenkian num programa que abre com a "Canção do Destino", de Brahms e termina com a "1.ª Sinfonia" de Gustav Mahler (repete sábado, 19.00).
Lorenzo tem vindo rapidamente a conquistar a cena internacional, quer em repertório sinfónico, quer em ópera. Importantes para essa rápida afirmação foram as vitórias em concursos de direção como o da MDR (Leipzig), o de Cadaquès e, principalmente, o de Salzburgo, em 2015 - mormente, pela forma unânime como o conquistou. Já no ano passado, recebeu o prémio para Melhor Maestro Emergente nos International Opera Awards, espécie de Óscares do teatro lírico.
Com a Gulbenkian foi quase amor à primeira vista: antes de ser nomeado titular, Lorenzo só dirigira a Orquestra uma vez (janeiro 2017) e o Coro outra (março 2017)!
Com passaporte suíço (nacionalidade do pai, Marcello, um reputado maestro, 1954-2005) e francês (nacionalidade da mãe, Marie-Laurence, ex-violinista), Lorenzo, nascido a 15 de março de 1990, é o mais novo de quatro irmãos, todos eles ligados à música: a mais velha, Marina, fez-se cantora lírica (meio-soprano) após vários anos como vocalista em bandas de "metal"; os do meio, Milena e Alessandro, são ambos trompistas e tocam em orquestras, sendo que Alessandro também por vezes rege.
Quanto a Lorenzo, o seu futuro ficou "selado" quando tinha apenas seis anos e assistiu a uma récita da ópera "Pelléas et Mélisande", de Debussy. Desde aí decidiu que queria seguir as pisadas do pai e tornar-se maestro. Por isso, diz por vezes: "Devo tudo a Debussy e ao papá!" Na regência de orquestras, afirma, "fascinam-me, quer a complexidade do ofício, quer o lado humano que este trabalho requer."
O seu percurso musical far-se-ia no piano, no canto e sobretudo na percussão - foi como percussionista que conseguiu os seus primeiros trabalhos em orquestras. O ofício de maestro aprendeu-o em Viena (onde dirigiu pela primeira vez uma ópera, e logo "As bodas de Fígaro"!) e em Weimar (Alemanha), diplomando-se em Direção pela Escola Superior de Música Franz Liszt dessa cidade, em 2015.
Apesar do nome e de se dizer "de sangue puramente italiano", Lorenzo fala mal italiano e, quando dá entrevistas em Itália, prefere falar francês, inglês ou alemão.
Apesar disso, é um apaixonado pelo país e afirma que "mais tarde ou mais cedo hei de vir viver para aqui [Itália]". Um fã de praia e de "surf", elege as praias e o mar da Sardenha como as suas preferidas. Também gosta de boxe.
Em termos musicais, afirma ouvir de tudo e preferir, fora o clássico, o hip-hop e a eletrónica, o jazz e a salsa.
Esta temporada, Lorenzo regressará a Lisboa em novembro, para dois diferentes programas (15 e 16 e depois 22 e 23), sendo que no segundo avulta a recitação da "Ode Marítima", de Álvaro de Campos (por João Grosso), entre "La Mer" de Debussy e a "3.ª Sinfonia" de Karol Szymanowski. Depois, em março, regressa sob o tema "Romeu e Julieta": primeiro, obras sinfónicas inspiradas na trágica história (dia 10) e, depois, a ópera de Charles Gounod (15 e 17), em versão de concerto. Será com ela que na temporada seguinte Lorenzo Viotti fará a sua estreia numa das grandes "catedrais" da música mundial: o Scala de Milão!
Passe em Lisboa apenas três anos ou passe mais alguns, o certo é que ouviremos falar muito de Lorenzo Viotti. Nós e o mundo todo.