A final do Estoril Open não teve o campeão desejado (João Sousa foi eliminado na segunda ronda, depois de ter vencido o torneio em 2018 e levar o país à loucura), mas teve dois tenistas dignos de uma final. De um lado a estrela que justifica a aposta, o estatuto de n.º 10 mundial e o cachê e, do outro, um lucky loser, um repescado e sedento de uma nova conquista ATP. Caiu para o lado do mais forte, o grego Tsitsipas: "Este título no Estoril é muito especial, por ser em solo português.".Foi uma final sem a cor e a alegria do ano passado. Menos gente, menos entusiasmo e euforia e menos patriotismo. Se o campeão (João) Sousa foi eliminado na segunda ronda, o outro Sousa (Marcelo) tem em mãos uma crise política quase sem precedentes a ocupar-lhe o tempo que o obrigou a evitar os beijinhos e abraços de uma exposição pública quase sempre contagiante. Houve os entusiastas normais do ténis e dois finalistas à altura..Aqueceram lado a lado nos campos de treino do Clube de Ténis do Estoril. Tsitsipas acompanhado do pai e treinador, Cuevas na companhia da mulher e das filhas. Depois foi entrar no court e cada um puxar para seu lado. No final, venceu o helénico por dois parciais (6-3 e 7-6)..O novo campeão chegou a Portugal horas depois de se estrear em decisões no ATP 500 de Barcelona (onde foi derrotado por Rafael Nadal) e aproveitou um torneio à sua medida para chegar pela sexta vez a uma final ATP - todas disputadas em pouco mais de 12 meses. Pelo caminho ficou um uruguaio de 33 anos, que ainda há cinco dias estava fora do torneio e frustrado consigo mesmo. Depois, quando Pablo Cuevas se preparava para dizer adeus, Filip Krajinovic - que chegou à final do ATP 250 de Budapeste - desistiu e pô-lo de novo em jogo com o estatuto de lucky loser (perdedor sortudo). Repescado, aproveitou a oportunidade da melhor forma para chegar à final, mas falhou a conquista do sétimo título ATP. Ainda assim levou para casa mais de 50 mil euros..Cuevas perdeu, mas não para qualquer um. Perdeu para um top 10 e um fã, segundo admitiu Tsitsipas: "Ele [Pablo Cuevas] provavelmente não sabe, mas era um dos meus jogadores favoritos do circuito quando era mais novo, a par com o [Roger] Federer.".Grego e neto de campeão olímpico.Stefanos Tsitsipas nasceu em Atenas. Filho de um pai grego e de uma mãe russa, ambos ex-tenistas, começou a dar os primeiros passos no ténis quando tinha 3 anos, orientado pelos pais (Apostolos, que ainda hoje é seu treinador), num resort da capital grega onde eles treinavam. E cedo revelou ter os genes vencedores do avô materno, Sergei Salnikov, ex-jogador de futebol que fez carreira no Zenit, no Dínamo e no Spartak Moscovo, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956, pela União Soviética..Chegou ao topo crescendo sem ajudas num país sem tradição no ténis, por isso, as conquistas "sabem melhor"..Hoje, com apenas 20 anos, já é o melhor tenista grego de sempre e o primeiro a chegar a uma final do circuito desde Nicholas Kalogeropoulos, em 1973. E a lenda prossegue. Fã de Del Potro e de Federer e comparado com o antigo número um mundial Gustavo Kuerten, esteve no Estoril por gratidão e por umcachê considerável. Na edição de 2020, segundo reconheceu ao DN o diretor do torneio, João Zilhão, "será muito difícil contar com ele, pois já não temos cachê e neste ano só tivemos porque ele queria muito jogar aqui". E queria porque foi o open português que acreditou no talento dele pela primeira vez no ano passado, quando era apenas top 100, e o convidou a jogar no Estoril..Tsistsipas vinha com vontade de repetir o triunfo da Grécia em Portugal, ele que adora futebol e vibrou com a conquista grega na final do Euro 2004, e conseguiu-o. "Queria vencer o torneio português 250 desde que tinha 12 anos, quando o Federer veio cá [o então Estoril Open, em 2008 e 2010]. Os fãs portugueses são os melhores, muito calorosos. Apoiam-me e respeitam-me, sinto-me muito bem aqui", confessou o sucessor de João Sousa no Estoril Open..Feliz e confessando sentir-se "filho adotivo de Portugal", o grego de 20 anos, que venceu pela segunda vez um torneio em Portugal, depois do Future, em Oliveira de Azeméis, em 2016, até aventou mudar-se para cá. "Encontras uma casa para mim? Uma casa com duas salas e três casas de banho, que seja confortável. Vizinho do [Cristiano] Ronaldo, se puder ser", brincou o jogador grego, admitindo que "este título no Estoril é muito especial, por ser em solo português"..Final de pares ganha por franceses.A dupla formada por Jeremy Chardy e Fabrice Martin ultrapassou os britânicos Luke Brambidge e Johnny O'Mara, carrascos de João Sousa, na final disputada neste domingo, no Clube de Ténis do Estoril. Os franceses fecharam o encontro com os parciais de 7-5 e 7-6 (7-3). É o terceiro título para a dupla, o segundo em 2019 depois da conquista em Marselha.."O ano passado foi memorável e irrepetível".Para o diretor do torneio, João Zilhão, o balaço da edição 2019 do Estoril Open "é muito positivo". E ter como campeão um jogador do atual top 10 mundial tem uma importância "imensa". "O Stefanos era uma grande aposta nossa, já o tinha sido no ano passado quando era número 70 do mundo. Vimos que estava ali o futuro da nova geração, ele depois no final do ano ganha o ATP NextGen Finals, ou seja, confirma tudo aquilo que nós já tínhamos idealizado. E depois estive ainda uns cinco ou seis meses a negociá-lo para o trazer neste ano, portanto, foi uma negociação muito difícil tanto do ponto de vista financeiro como para o convencer de que fazia sentido jogar nesta semana", revelou o diretor no final do evento que contou com mais de 40 mil espectadores, quase mais dez mil que no ano passado..João Zilhão abordou depois a edição deste ano do Millennium Estoril Open, entre os que vieram e os que desistiram: "Vieram grande parte dos nomes que nós contratámos e que estávamos com medo de que não viessem. O Monfils é um caso: também esteve lesionado mas apareceu, jogou, fez grandes jogos. O Tsitsipas era o nosso cabeça-de-série número um, jogou, ganhou. David Goffin foi um wild card de última hora, um grande nome, ex-top 10 mundial, fez também grandes exibições, portanto, obviamente que gostava que tivessem jogado o Fognini e o Anderson, mas não puderam jogar, foram impedidos. Agora, o quadro esteve muito bem representado, acho que é um dos [ATP] 250 de grande nível, ter oito jogadores do top 30 confirmados e três jogadores do top 12 se tivessem jogado todos.".Depois confessou que sabia que o ano passado "era irrepetível" de tão "memorável". "Marcou muito a vitória do João Sousa, a mim e a todos os portugueses", confessou Zilhão, feliz por ver Stefanos Tsitsipas, "um nome de referência", a ganhar o torneio e ajudar à visibilidade internacional do evento português: "Tsitsipas a nível internacional tem hoje já uma legião de fãs enorme em todo o mundo e muita gente gosta de o ver e acompanhar. Fico muito contente de ter ganho o seu primeiro título de terra batida aqui no Estoril, em Portugal."