São cerca de 150 mil os trabalhadores norte-coreanos que foram autorizados a trabalhar fora do país, mas o dinheiro que ganham é usado pelo regime de Kim Jon-un para financiar o programa nuclear do país e ainda para garantir uma vida de luxo para a família do líder comunista. Uma investigação da BBC refere que o pagamento até tem um nome: "Dever revolucionário" ou "dever para com o partido". A estação televisiva diz mesmo que estes trabalhadores são "escravos": dormem no sítio onde trabalham, só podem ficar com uma pequena parte do seu salário - que enviam para a família - e não estão autorizados a falar com ninguém..De acordo com o antigo embaixador norte-coreano no Reino Unido, Thae Yong Ho - que desertou para a Coreia do Sul, em 2016 -, os milhões ganhos pelos norte-coreanos com trabalho árduo nos estaleiros servem para financiar o programa nuclear da Coreia do Norte.."Se o dinheiro tivesse sido usado no desenvolvimento económico do país, a economia estaria muito melhor. Então, para onde tem ido esse dinheiro?", questiona o antigo diplomata. "Para as luxos de Kim Jong e da sua família, para o programa nuclear e para o Exército, isto é um facto", responde o próprio..Uma investigação internacional, que já dura há dois anos, foi levada a cabo por jornalistas de vários países e abrangeu a Rússia, a China e Polónia, locais onde se encontram trabalhadores norte-coreanos..Em Vladivostock, na Rússia, a equipa de investigação conversou com trabalhadores que confirmaram que o dinheiro ganho é enviado "para o Capitão, na Coreia do Norte". Têm medo de falar com os jornalistas, mas um aceitou fazê-lo, sob anonimato: "Somos tratados como cães", revelou, e confirmou o envio da maior parte do salário para o país - há quem lhe chame "dever para com o partido", outros "dever revolucionário"..Há dez anos, e segundo o norte-coreano, o valor era de cerca de 210 euros por mês, agora é o dobro..Nos estaleiros da Polónia estima-se que trabalhem 800 norte-coreanos. Um dos agentes recrutadores revelou que estes homens não têm férias pagas e que muitas vezes nem sequer gozam as folgas. Vivem onde trabalham e não estão autorizados a falar com desconhecidos..A embaixada da Coreia do Norte em Varsóvia garante que os cidadãos norte-coreanos trabalham de acordo com a lei polaca e as normas europeias, e o Governo da Polónia revelou que faz inspeções regulares e que não tem nenhuma prova de que estejam a ser feitos envios de dinheiro para a Coreia do Norte.Um responsável pelo recrutamento destes trabalhadores confirmou que tem sido cada vez mais difícil obter autorizações de trabalho para os norte-coreanos e revelou que parte do que eles ganham é usado para suportar o regime, mas que ainda assim lhes é dada a possibilidade de terem um vislumbre do mundo e ainda podem ajudar a família..Em dezembro, as Nações Unidas aprovaram novas sanções que irão colocar um ponto final no trabalho "forçado" de norte-coreanos no exterior, mas os países anfitriões têm dois anos para cumprir as novas diretivas..Thae Yong Ho reconhece que os emigrantes ajudam as suas famílias na Coreia do Norte com a parte do salário que recebem, mas que não existe outra forma de "travar o progresso do país [em relação à] tecnologia nuclear e [ao desenvolvimento de] mísseis intercontinentais"..Veja o vídeo da BBC: